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Machismo

Artigo | Menos desafio das musas, mais donas da bola

Programa esportivo em Goiás expõe mulheres a perguntas de conteúdo sexual e duplo sentido

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Karol Barbosa, candidata a musa do Goiás, é desrespeitada em programa da Band
Karol Barbosa, candidata a musa do Goiás, é desrespeitada em programa da Band - Reprodução/Os Donos da Bola

No último dia 21 de fevereiro, foi ao ar o quadro “Desafio das Musas”, um tremendo [e machista] gol contra do programa “Os Donos da Bola”, da TV Goiânia, afiliada da Rede Bandeirantes em Goiás. Na ocasião, a fotógrafa Karol Barbosa, musa do Goiás, foi exposta a uma série de perguntas de conteúdo sexual e de duplo sentido, feitas pelo apresentador Beto Brasil, com risadas de mau gosto dos comentaristas Álvaro Alexandre e Alex Dias, ao fundo. O caso ganhou repercussão nacional, com críticas severas às cenas constrangedoras.

O próprio time se posicionou contra a situação em seu Twitter oficial, declarando que “medidas seriam tomadas em relação ao episódio”. Com a polêmica, a TV Goiânia retirou o programa do ar, após uma tentativa fracassada de tentar reverter o jogo, no mal sentido. Também em um post no Twitter, o programa afirmou que a entrevista humilhante era proposital para despertar o choque das pessoas. Ou seja, fizeram todos os gols contra de uma única vez.

O histórico do programa sempre foi machista na abordagem com as torcedoras dos times goianos. Em outra ocasião, por exemplo, a musa do Atlético Goianiense, Aline Rezende, também foi tratada de forma humilhante, com insistência para que “desse uma voltinha e desfilasse”.

Mas, para além destes episódios misóginos, que não são os únicos vividos pelas mulheres no futebol, eu, como torcedora, fico incomodada com a falta de uma real participação das mulheres nessas “bancadas”. Nunca somos “as donas da bola”! Quando convidadas, situações infelizes como essa da TV Goiânia acabam acontecendo, sempre reduzindo a mulher a seu corpo, beleza e roupa. O futebol segue em segundo plano.

São raras as exceções de programas, “estilo bancada”, comandados por mulheres. Podemos citar o mais famoso, que é o “Jogo Aberto”, da própria Band, comandado pela jornalista Renata Fan. Torcedora fanática do Internacional, ela é uma das poucas mulheres que tem a oportunidade de discutir futebol. Representa, de fato, a mulher que vai ao estádio, chora, ri, xinga e ama seu time incondicionalmente.

Que o cartão vermelho que os “Donos da Bola” receberam sirva para refletirmos sobre isso também. Certamente, uma mulher na bancada (e na produção) destes programas não deixaria uma bola fora dessa acontecer. Menos desafio das musas. Mais donas da bola!

 

* Jordania Souza é jornalista

Edição: Wallace Oliveira