Liberdade de cátedra

Curso da UFPR sobre o golpe de 2016 inicia na próxima sexta (16)

Universidade do Paraná é uma das 28 instituições que promovem curso em apoio a professor da UnB

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Ministro da Educação, Mendonça Filho, acusa professor de “proselitismo político e ideológico” e recebe crítica de diversos docentes
Ministro da Educação, Mendonça Filho, acusa professor de “proselitismo político e ideológico” e recebe crítica de diversos docentes - Wilson Dias/Agência Brasil

Começa na próxima sexta-feira (16) o curso de extensão sobre o golpe de 2016 na Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma das 28 instituições brasileiras de ensino que se posicionaram contra as ameaças do ministro da Educação, Mendonça Filho, ao professor da Universidade de Brasília (UnB) que teve a iniciativa em oferecer a disciplina. 

A aula inaugural na UFPR será aberta ao público e inicia às 19h, no Anfiteatro 100 da Reitoria. O curso está registrado na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade e é aberto a todos os interessados, com limite de 140 vagas. Serão fornecidos certificados de participação das aulas, que foram divididas em 12 encontros e serão ministrados por 27 pesquisadores e professores de diversas áreas, como Sociologia, História, Educação, Políticas Públicas, Direito, Letras e Saúde.

"O curso tratará desde a conjuntura política atual até a análise das decorrências de 2016, que desencadeia um processo de perda direitos sociais básicos da população brasileira”, conta a professora Monica Ribeiro, integrante do Observatório do Ensino Médio da UFPR e uma das mobilizadoras do curso de extensão. Ela explica que o programa é baseado na disciplina oferecida pelo professor Luiz Miguel, da Universidade de Brasília (UnB).

Após o anúncio do curso de extensão, a professora Ribeiro foi difamada em uma postagem nas redes sociais, acusada de “doutrinadora da UFPR” e de incentivar o uso da violência. A postagem ainda afirmou que seria um curso individual da professora, ignorando que o curso é uma iniciativa de 24 docentes. A Associação dos Professores da UFPR e o Conselho Setorial do Setor de Educação já manifestaram apoio à Mônica Ribeiro. “A docente, reconhecida por sua excelência acadêmica e sua defesa aos princípios democráticos mais caros à sociedade, tem nosso apoio e nossa total solidariedade diante da violência praticada por grupos extremistas que possuem o objetivo principal de disseminação de ódio e uso de tipos diferentes de violência”, informou a Associação de professores em nota.

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) também terá ações com o mesmo tema. Professores e alunos usaram a ementa e os textos base usados pela disciplina do professor da UnB para montar um grupo de estudos. A iniciativa é do Centro de Ciências Sociais Aplicados (CESA), com participação de estudantes de outros departamentos. Os estudos começam no dia 20 de março, com encontros todas as terças, às 17h.

Professor da Unb participa de evento em Ponta Grossa

O professor Luis Felipe Miguel estará presente em evento organizado pelo Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no próximo dia 22 de março, às 19h, no Grande Auditório do campus central da Universidade. A palestra é intitulada “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”, mesmo nome da disciplina ofertada por ele em Brasília.

No evento, Miguel irá analisar o processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff e suas consequências para os brasileiros. Também haverá o lançamento de seu novo livro "Dominação e Resistência: desafios para uma política emancipatória".

Entenda o caso

A polêmica iniciou quando o professor e cientista político Luís Felipe Miguel, da Universidade de Brasília, ofereceu o curso “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil". Mendonça Filho afirmou que cobraria da Advocacia-Geral da União (AGU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público Federal (MPF) que apurassem sobre a conduta dos responsáveis pela criação da disciplina na UnB, sinalizando que poderia se tratar de um caso de improbidade administrativa. Para o ministro, a universidade estaria sendo usada para "fazer proselitismo político e ideológico".

Além da UFPR, a criação de cursos sobre o golpe de 2016 despontaram nas universidades Federais da Bahia, do Ceará, de Minas Gerias, de Santa Catarina e diversas outras, além das Estaduais da Paraíba e de Campinas, e da Universidade de São Paulo (USP). Em sua rede social, o professor da UnB agradeceu a solidariedade de outros docentes. “Para mim, é comovente ver que centenas de colegas, muitos dos quais nem me conhecem, se levantam para dividir o ônus de receber as pressões, as tentativas de intimidação, as agressões, as ofensivas de desqualificação pessoal e profissional. Como na UFBA, em que o professor Carlos Zacarias e o reitor João Carlos Salles foram intimados a depor na polícia, em mais um sobrelanço do ataque contra a liberdade de ensinar e pesquisar”, escreveu Luis Felipe Miguel.

Professores estadunidenses também se manifestaram a favor da disciplina. De acordo com a matéria publicada nesta segunda-feira (12) pelo jornal Folha de S. Paulo, cerca de cem docentes das universidades mais importantes dos Estados Unidos (entre elas Harvard, Princeton e Yale), assinaram uma carta afirmando que “o pedido para que investiguem o professor e o seu departamento é uma séria ameaça à democracia no Brasil”.

Confira o cronograma do curso na UFPR

16 de Março -  Aula de Abertura
República do Nepotismo e os cenários da conjuntura política do golpe de 2016 – Ricardo Costa de Oliveira e Andrea Caldas

09 de abril
Os golpes de Estado no Brasil República: 1964 e 2016 – similitudes e diferenças conjunturais e estruturais – Claus Germer, Lafaiete Neves e Rodrigo Czajka

19 de abril    
Polícia para quem? O golpe de 2016, repressão aos movimentos sociais e intervenção federal no RJ – Clóvis Gruner e Vilson da Mata

23 de Abril
O Neoliberalismo Anticonstitucional: O Golpe de 2016 e suas consequências sociais  – José Ricardo Vargas de Faria e Fabiano Abranches da Silva Dalto

03 de maio
Uma leitura do golpe de 2016 a partir do 18 Brumário. – Luiz Belmiro Teixeira e Júlio Cesar Gonçalves da Silva

07 de maio
O golpe de 2016 e o estado de crise constitucional: da destruição da constituição às contrarreformas neoliberais – Ricardo Prestes Pazello e José Antonio Peres Gediel

21 de maio
O golpe na educação I –  A política de reformas PEC 241/55, reforma do ensino médio e a resistência nas ocupações de escolas e universidade – Monica    Ribeiro, Deise Picanço e Angela Scalabrin

29 de maio
O golpe na Educação II – A ameaça ao pensamento crítico – Simone Meucci, Geraldo Horn, Douglas Rezende

07 de junho
O golpe na Educação III – Ascenção da intolerância e perseguição às minorias: Escola “sem” Partido - Lucimar Dias e Megg Rayara Gomes

13 de junho
O Golpe na Educação IV - Produção científica e Formação de professores em risco – Maria Antonia Souza, Graziela Luckesi, Maria de Fátima Rodrigues Pereira, Fabiane Lopes de Oliveira

18 de junho
“Com o Supremo, com tudo”, e com as falácias do Moro. Carlos Roberto Vianna e Euclides Mance

27 de junho
Restaurar a democracia: desafio da unidade da esquerda – Emmanuel Appel

Edição: Júlia Rohden