HISTÓRIA

No RN, o 8 de março tem cada vez mais mulheres nas ruas

Desde o final do século 19 a data é marcada por protestos das mulheres trabalhadoras

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Uma das bandeiras principais de luta nessa conjuntura é a defesa da democracia
Uma das bandeiras principais de luta nessa conjuntura é a defesa da democracia - Vladimir Alexandre

O Dia Internacional da Mulher, comemorado no 8 de março, é marcado por um processo histórico de luta desde o século 19, nos países da Europa e Estados Unidos, quando organizações feministas que vinham do movimento operário reivindicavam melhores condições de trabalho, denunciavam as jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e com salários injustos, além de protestarem pelo fim do trabalho infantil, muito comum nas fábricas durante o período. 

Foi na luta contra a exploração e em defesa da vida das mulheres que se fez o 8 de março, celebrado pela primeira vez em 1908 quando cerca de 1500 mulheres participaram das manifestações em defesa da igualdade econômica e política dos Estados Unidos, assim seguiu a organização política das mulheres, realizando grandes protestos e uma longa greve na indústria têxtil, fechando quase 500 fábricas americanas.     

Outro elemento que merece destaque é que para relembrar a ação das mulheres na história da Revolução Russa que o Dia Internacional das Mulheres passou a ser comemorado de forma unificada no dia 8 de março, como mostra os relatos da Conferência das Mulheres Comunistas, realizado em Moscou em 1921.

Em 1975, o movimento feminista estava cada vez mais fortalecido e o 8 de março foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas, apesar de já ser uma data oficial no calendário feminista e na história do povo. Entre avanços e retrocessos, o movimento feminista no Brasil foi se desenhando, na luta pelo direito ao voto, no combate a violência doméstica, por direitos iguais no mercado de trabalho, contra os assédios morais e sexuais, acompanhando as transformações sociais e políticas da sociedade.    

Eis que chega 2018, e há muito ainda pelo o que se lutar, para Teresa Freire, militante da Marcha Mundial de Mulheres, “as mulheres mais uma vez saem as ruas contra o golpe que se encontra em plena execução pelo governo Temer e seus aliados. As vozes e a indignação ecoarão em sintonia com seus batuques e bandeiras de luta, pois as conquistas históricas, a cidadania e a democracia estão em xeque. O golpe nos impôs uma agenda de privatização, de retomada de negociações do livre comércio, de ajustes que diminuirá a garantia dos direitos, além da criminalização da pobreza e dos movimentos sociais”.

Democracia 

Umas das bandeiras principais de luta nessa conjuntura é a defesa da democracia, desde que o golpe retirou a Dilma Rousseff da presidência, as organizações políticas e movimentos populares dedicam centralidade a esta pauta. “Esse não é o modelo ideal de democracia, ainda está longe de alcançar o que nós desejamos, mas é esse modelo que temos no país, então temos que pensar que a participação das mulheres é uma conquista. Nessa conjuntura de condenação do Lula sem provas, do impedimento de Dilma ser presidenta, como enredo do golpe, coloca as mulheres como as principais prejudicadas pelos impactos das reformas e retrocessos de direitos. Se hoje é Lula, amanhã pode ser qualquer uma de nós” comenta Divaneide Basílio, Secretaria Estadual de Mulheres do PT RN.

“Importante que a gente saiba que não estamos defendendo uma pessoa, mas estamos defendendo um país, um projeto muito mais ampla, para além de um partido, mas um projeto para a esquerda. É isso que nos faz ir para as ruas defender a democracia e afirmar a importância das mulheres nesse processo. Nós não vamos abrir mão do debate e nem de garantir nossa participação na política” afirma Divaneide. 

Reforma da Previdência    

Segundo o Fórum Nacional de Mulheres Trabalhadoras das Centrais Sindicais a reforma está centrada em dois equívocos: em tratar a questão da previdência isolada da questão da seguridade e em analisar as contas da previdência social como uma questão de mercado e não de direito. Nesse sentido, são diversos retrocessos como a idade mínima para se aposentar, dificultando ainda mais que as mulheres acessem esse direito, que além de aumenta-la, equipara a idade entre homens e mulheres sem levar em conta a dupla ou tripla jornada de trabalho. Contribuindo para o desmonte do INSS e para a expansão da previdência privada. 

Erica Rodrigues, militante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), comenta que a “reforma da previdência é mais uma estratégia das diversas medidas adotadas pelo governo golpista do na tentativa de consolidar o golpe. Essa reforma para a vida das mulheres não só vai impactar diretamente, mas vai mexer com todo o histórico de luta das mulheres da classe trabalhadora. E para o campo, além do golpe na reforma agrária, no desmonte das políticas públicas, a reforma vai aprofundar ainda mais as desigualdades de gênero”.         

Violência 

O Dossiê Violência contra as Mulheres do Instituto Patrícia Galvão,  apresenta os seguintes dados em sua última pesquisa realizada em 2017: em cada 11 minutos, uma mulher brasileira é estuprada, em cada 2 horas, uma mulher é assassinada e em cada 1 hora, 503 mulheres são vítimas de agressão. O Dossiê também apresenta um crescimento constante nos números de violência. O Instituto Maria da Penha também reforça esse cenário, apontando em sua pesquisa que em cada 72 segundos, uma mulher é vítima de violência física no Brasil.    

“A naturalização da violência contra a mulher pelo machismo vem de uma compreensão cultural de que o homem tem poder sobre a mulher, portanto, teria o controle sobre sua vida e seu corpo, isso se reflete no cotidiano em diversas formas de violência. Além de colocar a mulher no lugar de culpada e não de vítima, como nos casos de estupros por exemplos. Outro elemento importante é a violência institucional, com a falta de políticas públicas que combatam as violências, no acesso a saúde integral, ao emprego digno, que possam garantir uma vida digna para as mulheres” reflete Cristina Dias, professora de Serviço Social na UFRN e militante das Amélias: Mulheres do Projeto Popular.     

Pacote de Maldades de Robinson     

A gestão do governador Robinson Faria (PSD) no RN está sendo demarcada por diversas greves e paralisações, seja reivindicando os salários atrasados dos servidores desde 2017, ou contra o arrocho financeiro representado no pacato de medidas, cortes e privatizações, intitulado pelas organizações políticas como “pacote de maldades”. No último período, foram constantes manifestações e ocupações que barraram algumas medidas do governo, além de demarcar uma posição do movimento sindical no estado em defesa dos direitos trabalhistas e contra a privatização dos serviços e bens públicos. 

Fátima Cardoso, coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública no RN (Sinte) avalia que “vivenciamos uma luta no estado, onde principalmente as mulheres se posicionaram de forma consciente e resistente contra o pacote de maldades do governo Robinson, o qual interfere na organização do trabalho, implicando necessariamente nas mulheres que tem outras jornadas de trabalho. A conquista que tivemos não foi só a retirada dos projetos, mas foi sobretudo o processo de luta, de resistência e a lição de coragem que foi dada pelas mulheres.”
 

Edição: Monyse Ravena