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Prisão de Lula pode acender um “pavio” de indignação e revolta

Integrantes de movimentos populares avaliam provável cenário de prisão do ex-presidente e como isso pode impactar o país

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Desembargadores do TRF-4 determinaram a prisão imediata do ex-presidente após o julgamento dos últimos recursos disponíveis
Desembargadores do TRF-4 determinaram a prisão imediata do ex-presidente após o julgamento dos últimos recursos disponíveis - Ricardo Stuckert

Cresce a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser preso nas próximas semanas. Depois de condenarem o ex-presidente a 12 anos e um mês de prisão, os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) determinaram a prisão imediata após o julgamento dos últimos recursos disponíveis na segunda instância, o que pode ocorrer entre os dias 28 e 29 de março, mesmo com a medida sendo considerada inconstitucional por importantes juristas.

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A data também coincide com o encerramento da caravana de Lula pela região Sul do país, que será justamente em Curitiba (PR), para onde o ex-presidente poderá ser levado para cumprir pena. O ex-presidente ainda visitará assentamentos modelo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e passará por 19 cidades.

“A caravana em si já é um momento de agitação em massa. Se acontecer de a prisão ser decretada durante essa caravana, existe um grande potencial de tensão e mobilização popular”, reflete Eliane de Moura Martins, dirigente do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e da Consulta Popular.

“Criminalizar Lula e prendê-lo significa também prender os sonhos e esperança de grande parte da população, o que pode acarretar em um levante. No Rio de Janeiro, os morros desceram para chorar o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, do PSOL. A indignação está tomando conta do país e não é de hoje. Eu diria que um pavio da revolta e da indignação está sendo aceso e deve se espalhar”, avalia Alexandre Conceição, integrante da coordenação nacional do MST.

Em disputa

Para os movimentos populares organizados, o país vive um agravamento do golpe, porque não há mais como manter o padrão de acumulação capitalista sem retirar direitos das pessoas. “Para atravessar a atual crise, o grande capital precisa recompor suas taxas de lucro, e isso só será possível com um aprofundamento da extração dos recursos naturais e maior exploração dos trabalhadores, por isso estamos vivendo esses ataques diretos ao meio ambiente e aos direitos sociais mais básicos”, argumenta Eliane Martins, do MTD. “Nem mesmo aquelas políticas que melhoravam um pouco a vida do povo, como acesso a recursos, moradia ou reforma agrária, nada disso está sendo mais tolerado”, acrescenta.

Para o MST, a luta de classes entrou em campo aberto, e os trabalhadores precisam responder de forma organizada. “É uma guerra de projetos e uma tentativa de calar os movimentos. Se a elite quer impor uma agenda de retirada de direitos, saiba que a classe trabalhadora está preparada para agir e será de forma organizada”, aponta Alexandre Conceição.

Os movimentos que se articulam em torno da Frente Brasil Popular (FBP), como o MST e o MTD, apostam na retomada do trabalho de base por meio do Congresso do Povo Brasileiro, que vai mobilizar a população diretamente nas comunidades e bairros de todas as partes do país.
 

Edição: Juca Guimarães