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Medalha Chico Mendes completa 30 anos lutando por memória, Justiça e verdade

Prêmio organizado pelo Grupo Tortura Nunca Mais vai homenagear 12 lutadores e organizações

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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A ocupação Manoel Congo, no centro do Rio, é uma das organizações homenageadas
A ocupação Manoel Congo, no centro do Rio, é uma das organizações homenageadas - Divulgação

Em meio ao contexto de intervenção militar no Rio de Janeiro, o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio, em parceria com outros movimentos e entidades, entrega em abril a 30ª Medalha Chico Mendes de resistência. A homenagem como um de seus objetivos mostrar as marcas da ditadura civil militar que permanecem até os dias de hoje.

“Todo ano a gente faz a homenagem no dia 1° de abril como uma forma de lembrar o malefícios do golpe civil-militar de 1964”, explica Cecília Coimbra, uma das fundadora e integrante da direção do Grupo. “O que aconteceu naquele período ainda hoje está presente, com outras caras, com outras fisionomias. Nunca esteve ausente das periferias, dos territórios dos pobres, das favelas. Tanto que as mães dos jovens assassinados nas favelas dizem: a ditadura continua nas favelas", complementa.

A Medalha foi criada em 1988 para homenagear pessoas, movimentos sociais e entidades que se destacam nas lutas de resistência popular, contra a repressão e a violência institucionalizada, na defesa dos Direitos Humanos, como destaca Cecília.

“A medalha foi criada pelo Grupo Tortura Nunca Mais muito em função, do que os torturadores faziam todo ano no dia 31 de março eles ofereciam aos torturadores a chamada medalha do pacificador, tanto militares como civis”, conta Cecília que também foi presa política. "Só que a gente coloca como 1° de abril o golpe", explica.

O nome da medalha também é uma homenagem a um lutador, o seringueiro e ambientalista Chico Mendes morto no ano da criação do prêmio. A ocupação Manuel Congo, no centro do Rio, é uma organizações contempladas deste ano. “Foi uma surpresa. Quando a gente está fazendo a luta, a resistência cotidiana, a gente não acha que aquilo é importante para os demais lutadores que não estão inseridos naquela questão”, disse Lurdinha Lopes, 58, da coordenação da coordenação do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), que disse ter recebido a notícia com emoção. A ocupação que já existe há 10 anos é um símbolo importante da luta pela reforma urbana e da resistência do povo pobre.

“Num contexto desses em que a gente tem que enfrentar lutas e demandas tão terríveis, como o aumento do controle militar sobre as nossas vidas com as forças armadas na cidade, acreditar na nossa capacidade enquanto gente que luta pela vida e por uma outra sociedade, acreditar em nós mesmos, estarmos juntos é muito bom pra gente ter esperança de que a vitória é possível”, completou.

Com a ocupação, serão homenageados neste ano 12 lutadoras e lutadores e organizações de diferentes áreas. São eles: Comandante Paulo Mello Bastos, Fabiana Braga, Mãe Meninazinha, Ana Maria Tellechea, Ilma e Rômulo Noronha, Cosme Alves Neto (in memoriam), Jaime Petit (in memorian), José Campos Barreto (Zequinha) - in memoriam, Rute Fiúza, Milagro Sala e a Casa Nem.

“Apesar do retrocesso que a gente está vivendo hoje o grupo Tortura Nunca Mais continua afirmando, apesar da perseguição, o apoio a todos os movimentos sociais que estão sendo perseguidos, que estão sendo dizimados. A medalha Chico Mendes é a mostra disso. O que aconteceu naquele período, os perseguidos daquele período e o que continua acontecendo hoje, os perseguidos e discriminados e criminalizados hoje. Principalmente após esse golpe midiático-judiciário”, acrescenta Cecília.

A cerimônia de entrega das medalhas será no dia 2 de abril no Teatro Odylo Costa Filho, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ, às seis da tarde. 

Edição: Raquel Junia