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Medicina natural em acampamento visa mais saúde e valorização da cultura popular

Em breve, acampamento Dom Tomás Balduíno, em Goiás, poderá colher plantas capazes de tratar doenças

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Julieta Gomes, de 62 anos, é a raizeira do acampamento Dom Tomás Balduíno
Julieta Gomes, de 62 anos, é a raizeira do acampamento Dom Tomás Balduíno - Simonny Santos
Em breve, acampamento Dom Tomás Balduíno, em Goiás, poderá colher plantas capazes de tratar doenças

As terras do acampamento Dom Tomás Balduíno, em Formosa (GO), que trazem sustento e moradia para 450 famílias, também serão utilizadas para o cultivo de plantas medicinais, garantindo mais qualidade de vida e saúde para os acampados. O projeto do horto de plantas medicinais já está em sua fase final e deve ser implementado nas próximas semanas, com cerca de 30 espécies de plantas capazes de tratar algumas doenças.

A agente de saúde e uma das responsáveis pelo horto, Altair Salgado, conta que a ideia era diminuir a medicação farmacêutica dentro do acampamento, além de resgatar os valores do homem do campo.

O resultado, segundo ela, tem sido surpreendente. “Eles falam: ‘eu usava isso!’. No primeiro diálogo, eles trouxeram tantas ideias que a gente ficou deslumbrada. O homem do campo foi expulso para a cidade e quando ele voltou para o campo, levou consigo várias culturas. Agora nós temos que resgatar a cultura deles dentro dos acampamentos”.

Um passo muito importante na construção desse projeto é a informação, que vem sendo partilhada por meio de oficinas e debates constantes no acampamento Dom Tomás Balduíno. Esse conhecimento sobre a propriedade das ervas existe desde o início da civilização e foi repassado pela cultura popular de geração para geração. Cada espécie possui uma função diferente no organismo e várias formas de serem utilizadas. Por isso, é importante que se conheça bem o seu uso para conseguir fazer o tratamento mais adequado.

Aos 62 anos e cheia de saúde, a acampada Julieta Gomes atribui o seu vigor ao poder de cura das raízes. Ela aprendeu com a família sobre os efeitos medicinais das plantas e agora é ela quem cria os filhos utilizando as propriedades das ervas. “Eu aprendi que a natureza tem tudo que a gente precisa. Toda vida eu segui os ensinamentos dos meus antepassados e tento passar para a frente da melhor maneira possível. Meus filhos gostam da planta natural e ainda fazem (remédio) para os meus netos”. 

Maria Moreira: “o que der pra resolver aqui, a gente resolve aqui, sem precisar ir para o hospital”. (Foto: Simonny Santos)

A princípio, as plantas cultivadas serão destinadas apenas para uso dos acampados, uma vez que, por estarem distantes da cidade, o acesso à saúde se torna restrito. A dirigente da microrregião do Dom Tomás de Formosa, Maria Moreira, explica que pessoas com doenças graves serão encaminhadas ao hospital da cidade. “Tem coisa séria que realmente necessita de médico, mas o que dá para resolver aqui, a gente resolve aqui, sem precisar ir para o hospital. Vai ajudar bastante!”.

Desde a ocupação, a proposta dos líderes do assentamento é trabalhar para conscientizar os membros do movimento a aproveitar melhor o que a natureza tem a oferecer, como os produtos agroecológicos, que são produzidos por lá e vendidos em feiras de Formosa e Brasília. Com a criação do horto medicinal, a ideia é que em um ano as mudas possam ser liberadas para quem desejar se tratar com produtos naturais em vez de medicação farmacêutica.

Os acampados estão em um comodato de área, uma espécie de empréstimo do local, de 7 alqueires, até a situação da fazenda ocupada se regularize. Enquanto isso, 450 famílias estão divididas em três espaços em Formosa, cultivando o melhor que a terra pode dar.

Edição: Daniela Stefano