Vazamento

Hydro Alunorte terá que cumprir medidas emergenciais definidas em audiência pública

Assistência à saúde e o fornecimento de água aos moradores das comunidades atingidas são as principais ações apontadas

Belém (PA) |

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Após um mês do vazamento de rejeitos químicos a empresa Hydro Alunorte admitiu pela primeira vez que descartou água não tratada em rio
Após um mês do vazamento de rejeitos químicos a empresa Hydro Alunorte admitiu pela primeira vez que descartou água não tratada em rio - Lilian Campelo

A audiência pública para tratar sobre as medidas emergências no caso do vazamento de resíduos contaminados da empresa Hydro Alunorte teve participação massiva da população atingida. Cerca de mil pessoas compareceram na reunião promovida pelo Ministério Público Estadual e Federal em Barcarena, no nordeste paraense, nesta quinta-feira (22).

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Após coletar as demandas dos moradores e entidades representativas, procuradores federais e promotores de justiça definiram as recomendações que a empresa deverá cumprir. A assistência à saúde e o fornecimento de água aos membros das comunidades afetadas devem ser as principais ações da empresa. A Hydro Alunorte também terá que apresentar um plano de emergência e um plano de segurança do sistema produtivo.

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O promotor de justiça, Laércio Abreu, destaca que o cumprimento dessas medidas emergenciais por parte da empresa norueguesa não vai interferir nas investigações do caso.

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“O Ministério Público já vem nesse diálogo com essas ações emergenciais, o que não significa que, se fechado um acordo, o MP fez um acordão e está tudo resolvido, muito pelo contrário, é apenas para situações emergenciais e continuarão as investigações”, reforça.

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A audiência pública também tinha o objetivo ouvir as pessoas para colher criticas e sugestões para a composição do Termo de Acordo / Foto: Lilian Campelo

Há um mês, moradores das comunidades do Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba denunciaram o vazamento de rejeitos químicos de uma das bacias da empresa Hydro Alunorte.

Após análise de amostras da água dos rios e igarapés das comunidades, feitas pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), ficou constatado que houve contaminação de substâncias prejudiciais à saúde humana e animal. O transbordamento também alagou o pátio da indústria. Em uma das visitas dos técnicos, descobriram uma tubulação irregular que fazia o escoamento de efluentes para o meio ambiente.

Até então, a empresa negava toda a situação, mas acabou admitindo, na segunda-feira (19), que a refinaria descartou água não tratada no Rio Pará. No comunicado, o presidente da Hydro pediu desculpas à sociedade.

Eduardo Cravo, de 45 anos, morador da comunidade quilombola de Burajuba, afirma que uma retratação não é suficiente para resolver o problema dos  atingidos.

“Desculpas não vão matar a sede do nosso povo, desculpas não vão matar a fome do nosso povo, não vão trazer nossos rios de volta, o que nós queremos são ações efetivas, não só da Hydro, que hoje é o foco, mas de todo esse projeto que foi implantado em Barcarena sempre sem ouvir as comunidades”, desabafa.

A água em 26 localidades de Barcarena apresentaram metais pesados causados pelas indústrias / Foto: Lilian Campelo

O salão onde foi realizada a audiência estava lotado. Com muitos cartazes, algumas pessoas lembraram o dia mundial da água, celebrado em 22 de março. Muitas comunidades rurais em Barcarena utilizam a água de rios, igarapés ou de poços artesanais.

É o caso de Ana Paula, 37 anos, moradora da comunidade Cupuaçu. Depois do vazamento, ela e a família não estão tendo mais acesso. “A água não está sendo uma água que serve para tomar, inclusive, minha neta tomou e deu diarreia nela. Dá mal-estar e coceira”, relata.

A Universidade Federal do Pará (UFPA) realizou uma pesquisa em 2004 e concluiu que a água consumida pela população em 26 localidades estava contaminada por metais pesados causados pelas indústrias.

Edição: Camila Salmazio