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A voz como arma revolucionária: Violeta Casal e a Rádio Rebelde

Emissora clandestina fundada por Fidel Castro e Che Guevara em 1958 foi fundamental para Revolução Cubana

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Atriz abandou fama à frente dos palcos de teatro para se juntar aos guerrilheiros cubanos
Atriz abandou fama à frente dos palcos de teatro para se juntar aos guerrilheiros cubanos - Reprodução
Emissora clandestina fundada por Fidel Castro e Che Guevara em 1958 foi fundamental para Revolução Cubana

Há 59 anos, a pequena ilha de Cuba vivia um dos maiores momentos de sua história e da América Latina: a Revolução Cubana. Em meio à ditadura do militar Fulgêncio Batista, apoiada pelos Estados Unidos, o Movimento Revolucionário 26 de julho se fortalecia. Nem mesmo os assassinatos de trabalhadores e estudantes tiravam a esperança da tomada do poder pelo povo.

Em meio a tudo isso, surgia o principal veículo de comunicação dos revolucionários: a Rádio Rebelde. Criada por Che Guevara e Fidel Castro no início de 1958, ela ficou no ar, de maneira clandestina, por 311 dias na Sierra Maestra, onde funcionava o Quartel General dos guerrilheiros. 

Uma das protagonistas dessa história é a atriz Violeta Casal, locutora da Rádio Rebelde. Sua voz forte, imponente e bem colocada é marco nas palavras que anunciavam a transmissão na emissora:

¡Aquí Radio Rebelde! ¡Atención pueblo de Cuba, atención! Aquí Radio Rebelde desde en el território libre de Cuba!

São poucos os conteúdos encontrados sobre Violeta, assim como sobre a Rádio Rebelde, e, na sua maioria, estão apenas em espanhol. Isso porque, embora muito falado em Cuba, o tema foi pouco explorado ao redor do mundo. A jornalista Beatriz Pasqualino estudou o veículo em seu mestrado em sociologia na Unicamp, Universidade de Campinas, e produziu o radiodocumentário "A Rádio Rebelde como arma de guerrilha na Revolução Cubana".

"Durante o processo de transmissão clandestina da Rádio Rebelde, muitos locutores que já atuavam em emissoras oficiais e que estavam sob censura, ameaçados, abandonaram seus postos oficiais e subiram a Sierra Maestra", conta a jornalista. "Uma dessas pessoas foi a Violeta. Ela era uma atriz muito conhecida na época, de grande renome no país inteiro. Também fazia locução de rádio em uma emissora e, diante da situação insustentável da ditadura e sabendo que tinha uma frente de resistência acontecendo, resolveu subir a Sierra Maestra e participar da rádio." 

O dia 26 de março marca a data de nascimento da atriz. Antes de ingressar na luta armada e na batalha da comunicação, Violeta protagonizou mais de 60 obras da literatura universal no teatro. Também esteve presente na televisão e no rádio, sendo considerada uma das maiores atrizes cubanas. Mas, abandonou tudo para se unir aos guerrilheiros. Ela já era militante política do Partido Socialista Popular desde antes do golpe de 1952 que colocou Fulgêncio Batista no poder.

"Sendo uma mulher dentro de um ambiente que é tão cheio de homens, na época de guerra, de guerrilha, provavelmente enfrentou grandes batalhas da turma da guerrilha, porque eram pouquíssimas mulheres que estavam a frente, que participavam do exército rebelde. Se hoje a gente tem pouco espaço das mulheres em muitas partes da sociedade, imagina naquela época. Foi realmente um ato revolucionário da própria Violeta tomar essa decisão e estar a frente de uma rádio", defende Pasqualino. 

A Rádio Rebelde teve papel importante ao levar informações sobre a guerrilha ao povo cubano, que em grande parte era analfabeto. Hoje, após mais de meio século do socialismo em Cuba, apenas 0,2% da população da ilha não sabe ler ou escrever.
Pasqualino conta que, além de ser um veículo de comunicação, a emissora influenciou o processo guerrilheiro revolucionário do país. Até hoje, a Rádio Rebelde é reconhecida como uma ferramenta que mobilizou o povo contra as opressões do regime militar.

"As pessoas que trabalhavam e atuavam na rádio são consideradas combatentes assim como qualquer pessoa que pegou um fuzil", diz. "Dentro do país foi uma arma de contrainformação, porque as mídias estavam sob censura e todo dia a noite quem tinha um rádio ligava bem baixinho, porque o exército não podia ouvir e saber que alguém estava ouvindo, senão a pessoa era morta. Era uma atividade clandestina não só transmitir a rádio como ouvir." 

Em fevereiro, a Rádio Rebelde completou 60 anos. A emissora passou a ser oficial desde que Fidel Castro e o Exército Rebelde tomaram o poder e instauraram a Revolução Cubana em 1º de janeiro de 1959. Até hoje tem transmissão. Quem quiser pode ouvir online.

Edição: Michele Carvalho