Coluna

O que há de comum entre o assassinato de Marielle e o futebol?

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Meio a pensamentos soltos, o aperto no peito e o nó na garganta parecem não passar
Meio a pensamentos soltos, o aperto no peito e o nó na garganta parecem não passar - Divulgação
A FIFA proíbe e até pune jogadores que manifestam posições políticas

Escrevo esta coluna pouco mais de uma semana depois do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e do seu motorista, Anderson Gomes. E, em meio a pensamentos soltos, o aperto no peito e o nó na garganta parecem não passar. Ainda mais ao ter clareza de que foi uma execução no contexto de um país golpeado. Golpeado em sua democracia e em suas liberdades. Um país onde tentam, goela abaixo, implementar o medo e a desesperança.

Dentro deste cenário, estava me propondo a não escrever sobre este brutal assassinato. Queria escrever sobre coisas boas. Quem sabe até sobre futebol, esporte que gosto bastante. E então, decidi que era sobre isso que iria escrever. Mas, não deu. Não consigo tirar o assassinato da minha cabeça.

No entanto, lembrei de uma notícia que a torcida do Cruzeiro, time de Belo Horizonte, teve uma faixa em homenagem à vereadora retirada pela polícia no estádio do Mineirão. E a justificativa seria de que estariam “politizando” o assunto. E isso me deixou bem intrigado. Não há absolutamente nada nessa história que não seja política.

Lembrei então de um outro fato: um apresentador da TV Globo que falou, há poucas semanas, que futebol e política não poderiam se misturar. Como assim, pergunto novamente? A história do futebol está permeada pelas relações políticas. E se negar a enxergar isso atende apenas aos interesses de quem se utiliza do esporte para se beneficiar. A FIFA proíbe e até pune jogadores que manifestam posições políticas. Geralmente, posições ditas de esquerda. 

Assim como não dá para retirar o componente político do futebol, é preciso que não paremos de questionar: quem mandou matar Marielle? A quem interessava esta execução? A política está presente no nosso cotidiano e ignorar isso não resolve os nosso problemas.

O episódio de censura a uma faixa no Mineirão parece um detalhe, fala muitos sobre nosso dias. A elite quer o povo distante da política. Quer apenas a participação com votos a cada dois anos. Precisamos lutar contra isso e por mais participação política. Desta maneira faremos jus a Marielle. Se seu assassinato foi um grande recado, que passemos o nosso: o povo quer participar da política de verdade. Elegendo seus representantes, mas lutando e se manifestando cotidianamente. Inclusive no futebol. Eles seguem tentando, mas a verdade é que não nos calarão.

Edição: Monyse Ravenna