Criminalização

Provas contra Padre Amaro são viciadas, afirma Comissão Pastoral da Terra no Pará

Prisão do religioso é tentativa de enfraquecer atuação pastoral na região onde Dorothy Stang foi morta, alerta advogado

Brasil de Fato | Belém (PA) |
Padre Amaro é agente da CPT e está preso no mesmo presídio que um dos mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang
Padre Amaro é agente da CPT e está preso no mesmo presídio que um dos mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang - Divulgação/Pontifícias Obras Missionárias

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) afirma que boa parte das provas que sustentam a acusação contra o padre José Amaro Lopes de Sousa, preso na terça-feira (27) em Anapu, sudoeste do Pará, são viciadas e baseadas em declarações e depoimentos de fazendeiros da região. Ao religioso é atribuído uma série de crimes como ameaça, esbulho possessório, extorsão, assédio sexual, ofensa ao pudor, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.

Continua após publicidade

Padre Amaro é agente da CPT na região e era braço direito da missionária Dorothy Stang, assassinada com seis tiros em Anapu no dia 12 de fevereiro de 2005. Aos 73 anos, Stang foi executada a mando dos fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, ambos condenados a 30 anos de prisão.

O advogado da CPT, José Batista, ainda estuda o inquérito, mas, a partir de informações contidas no mandado de prisão do sacerdote católico, faz uma análise preliminar do caso. “Boa parte das acusações são sustentadas por declarações colhidas de fazendeiros lá da região de Anapu, ao menos umas oito ou dez declarações são citadas pela juíza no mandado de prisão para justificar alguns crimes. Nós entendemos que essa prova é uma prova viciada”, analisa.

Batista afirma que muitos fazendeiros da região são “inimigos do trabalho da CPT e do Padre Amaro, porque disputam áreas de terras públicas federais”. Para ele, as acusações escondem uma outra estratégia, que é a de “criminaliza-lo e desmoralizá-lo para forçar sua saída e, dessa forma, enfraquecer o trabalho da CPT na região”.

Quanto às demais declarações e depoimentos que compõem a acusação, Batista acredita serem de pessoas que apresentam divergência sobre a forma como a CPT atua e que estão sendo influenciadas pelos fazendeiros locais. O advogado explica que o trabalho defendido pela Comissão, desde a época da Irmã Dorothy, é a implantação de Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS), assentamentos rurais que aliam a agricultura familiar com a preservação da floresta de forma coletiva.

“Esse modelo de desenvolvimento não é compreendido por muitas pessoas, inclusive agricultores, que às vezes defendem, ou são influenciados a defender, práticas mais individualizadas de desmatamento para plantações ou para transformar a área em pastagem”, argumenta.

Criminalização

O coordenador da CPT no Pará, Paulo Joanil da Silva, conhecido como Padre Paulinho, alerta que o atual cenário político do país colabora para a criminalização de defensores de direitos humanos e lideranças que lutam pela reforma agrária. O coordenador informa que o desmonte de políticas públicas do campo e o sucateamento de órgãos fundiários fizeram com que o “latifúndio esteja dando as cartas” na região.

“O ultimo escritório do Incra de Altamira não existe mais, foi transferido para Santarém. Com o desmonte do mínimo [de atuação estatal] que se tinha, impera agora o poder da bala, da calúnia e da perseguição. É nesse contexto político que acontece a prisão de Padre Amaro”, afirma.

Padre Amaro foi preso na rodoviária de Anapu na última terça (27). Depois de ser ouvido na sede da Superintendência Regional da Polícia Civil, em Altamira, ele foi transferido, no mesmo dia, para o Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRALT), presídio onde o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão cumpre pena. Julgado como um dos mandantes do assassinato da missionária Dorothy Stang, Galvão foi sentenciado a 30 anos de prisão e está encarcerado desde setembro de 2017. 

Edição: Thalles Gomes