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Congresso do Povo | Coordenador do MPA alerta para a soberania alimentar do país

"Não há condição de soberania alimentar, energética ou hídrica, sem campesinato organizado", diz Leomárcio Araújo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cartaz da reunião preparatória do Congresso do Povo realizada em Sergipe
Cartaz da reunião preparatória do Congresso do Povo realizada em Sergipe - Movimento dos Pequenos Agricultores

Lideranças e representantes de movimentos populares já deram início às fases estaduais do Congresso do Povo, processo inédito convocado pela Frente Brasil Popular (FBP) no final de 2017, com o objetivo de ouvir a população brasileira sobre as demandas, desafios e soluções políticas para o país.

No último final de semana, a FBP, que representa 80 movimentos populares e partidos de esquerda, organizou seminários estaduais preparatórios nos estados de São Paulo e Sergipe. No total, os eventos reuniram mais de 500 pessoas.

O Brasil de Fato conversou com o agricultor Leomárcio Araújo da Silva, militante e coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que comentou as pautas e responsabilidades do movimento dentro da construção do Congresso do Povo.

De acordo com Leomárcio, o MPA já vem adotando estratégias de formação da população sobre os temas da agroecologia nos últimos dois anos, prática que agora será expandida em conjunto com as outras organizações da Frente. Ele afirma que a principal pauta que o movimento está levando ao processo do Congresso do Povo é a da soberania alimentar.

"Entendemos que isso cabe e deve ser base do projeto de país que a gente quer. Agronegócio não produz soberania alimentar, produz commodities. Então, não há condição de soberania alimentar, ou qualquer outra, como energética, hídrica, sem que haja campesinato organizado em outros modos para se produzir esse alimento", afirmou.

Confira a entrevista completa:

Qual a importância do Congresso do Povo para a atual conjuntura política?

Para o Movimento dos Pequenos Agricultores, o Congresso do Povo vem como uma ferramenta ou espaço que consolida um pouco daquilo que o próprio movimento também, internamente, já tem feito ao longo do último período. A gente considera o Congresso como parte de um processo, então não se resume a um evento, e sim um momento onde culmina uma série de iniciativas de diversas organizações para que a gente possa acertar compromissos em comum.

Como o MPA vem organizando a base de sua militância e a população como um todo para o Congresso?

O MPA, do ponto de vista do papel que o Congresso do Povo pode cumprir nesse período histórico, reafirma uma prática que vem adotando ao longo dos últimos dois, que é a lógica como tem desenvolvido seu trabalho de base. Tivemos a iniciativa chamada de Mutirão da Esperança Camponesa, no qual parte da nossa militância, a partir dos estados, tem desenvolvido um processo de preparação e formação, especialmente da juventude, e feito esse trabalho com o povo de mobilização permanente. Com isso esclarecemos esses temas da conjuntura nacional, e também firmamos lutas locais a partir do contexto de cada comunidade. Então, essa Caravana Nacional, composta por 11 jovens, de diferentes partes do país, tem circulado o país no último ano fazendo esse processo. O Congresso reafirma essa postura acertada que já vínhamos tomando, e agora amplia conjuntamente com outras organizações, para comungar no próprio Congresso.

Quais as pautas do MPA que serão contempladas no ideal de país proposto pelo Congresso?

Do ponto de vista das lutas, temos uma questão comum, que tem a ver inclusive com o cenário da disputa eleitoral que vivemos. Olhando a partir de uma perspectiva de formação de consciência para muitas lutas que virão, e com certeza serão muitas, temos a condição de reafirmar a construção desse projeto de país que queremos. Então, as pautas que temos mais específicas, que inclusive tomamos não apenas como pautas para o campesinato, mas para a sociedade, é a soberania alimentar. Entendemos que isso cabe e deve ser base do projeto de país que a gente quer. Agronegócio não produz soberania alimentar, produz commodities. Então não há condição de soberania alimentar, energética ou hídrica, sem que haja campesinato organizado em outros modos para se produzir esse alimento saudável que desejamos. Então, para o MPA, esse período de preparação do Congresso do Povo a nível nacional será uma oportunidade grandiosa da luta de classes para que o movimento possa reafirmar sua contribuição nessa luta.

Edição: Nina Fideles