Resgate

Escola Camponesa da Memória: jovens de todo país debatem os impactos da ditadura

Evento organizado pelo MPA busca estudar e discutir a repressão ao campesinato nos golpes de 1964 e 2016

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Assembleia da IV Escola Camponesa da Memória, em São Paulo (SP)
Assembleia da IV Escola Camponesa da Memória, em São Paulo (SP) - Júlia Dolce

O sergipano José Ermício Lima Santos, de 19 anos, é um dos 110 jovens camponeses que se reúnem desde a última quarta-feira (28), na Quadra dos Bancários, zona central de São Paulo, para estudar e discutir a repressão ao campesinato nos golpes de 1964 e 2016. É a IV Escola Camponesa da Memória, atividade organizada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) desde 2014, com o objetivo de formar politicamente a juventude camponesa.

Para Ermício, a iniciativa cria um espaço importante de aprendizado. "Temos que saber quem são nossas referências. Essa escola nos mostra quem são nossos lutadores, para que nos identifiquemos com suas vidas e entendamos a estratégia dos revolucionários", afirmou.

Técnico em pecuária e natural da zona rural do município de Brejo Grande (SE), Ermício destaca que o encontro também está lhe proporcionando a possibilidade de conhecer camponeses de todo o país. Ao todo, jovens de 15 estados participam da atividade.

"Na militância, todos devem ser unidos. Aqui fazemos companheiros, um laço mais forte do que a amizade", revelou.

Ligas Camponesas

Esta edição da Escola do MPA tem como objetivo o ensino da teoria de organização de Clodomir Santos de Moraes, liderança das Ligas Camponesas, uma dos mais importantes movimentos a defender a reforma agrária no país.

Para Rafaela Alves, integrante da Direção Nacional do MPA, há uma grave falta de conhecimento sobre os impactos da ditadura militar na resistência camponesa. "Entendemos que nossa juventude precisa atuar com a memória dos fatos que aconteceram no país e marcaram profundamente a história do nosso povo. Não podemos invisibilizar os camponeses no golpe de 1964. Morreram uma média de 1196 camponeses, e o Estado só reconhece 26 mortes. O povo trabalhador e a juventude camponesa não esqueceram 1964. Cobramos por justiça, memória e verdade", afirmou.

Nesse sentido, Alves destaca a importância da organização camponesa na atual conjuntura política. "Trazemos também a ideia do papel da juventude camponesa na organização da luta pelo território, que está cada vez mais em disputa, com o agronegócio se apropriando de nossas riquezas, do minério, da água, da terra. Principalmente com esse governo que legitima esse processo", denunciou.

Futuro

A preocupação com o futuro dos movimentos campesinos também é destacada por Sandy Xavier, camponesa do Rio Grande do Sul, e integrante do Coletivo da Juventude do MPA.

"O próximo período exigirá uma formação de militantes e jovens que serão capazes de atuar em defesa do movimento. Lembrar o passado, para entender o presente e mudar o futuro. A partir dessa disposição da juventude, de se colocar na luta e assumir o desafio, mudaremos o país", opinou.

As atividades da IV Escola Camponesa da Memória terminarão neste sábado (31), quando será realizado um ato na Avenida Paulista, em São Paulo. Na próxima semana, os jovens do MPA seguirão reunidos para a II Escola de Formação de Brigadistas Jovens do movimento, que acontecerá até o dia 6 de abril.

Edição: Thalles Gomes