Reforma Agrária

Após lutarem contra despejo, famílias do acampamento Esperança ocupam nova área

Ocupação é mais um capítulo no histórico de lutas das famílias trabalhadoras rurais em Açucena/MG

Brasil de Fato | Açucena (MG) |
Famílias começam a dividira as áreas do novo acampamento
Famílias começam a dividira as áreas do novo acampamento - Nilmar Lage

As cerca de 300 famílias que ocuparam terras devolutas da fazenda Acesita no córrego São Félix, no município de Açucena, a 285 km de Belo Horizonte, nas primeiras horas do primeiro domingo de abril, estavam acampadas em terras devolutas sob utilização da Fazenda Preservar. Em assembleia, haviam decidido acatar a ordem de reintegração de posse para evitar confronto com a tropa de choque da Polícia Militar e para que as negociações entre o Estado e os supostos proprietários da fazenda avançassem. 

Mas a nova ocupação foi tensa. As famílias, que começaram a ocupar parte da fazenda Acesita foram recebidas à bala, segundo contam. Os sem terra suspeitam que os disparos foram feitos por funcionários do suposto proprietário da terra, que está sob grilagem. 

Ninguém ficou ferido e, apesar do susto, as famílias começaram a se estabelecer no local, limpando o mato que crescia e dividindo as áreas para o novo acampamento. 

Terras para a Reforma Agrária 

Em 2015, o então proprietário da fazenda Preservar, José Antero, procurou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para vender a terra ao instituto para que fosse disponibilizada para a reforma agrária.  Ele foi recebido por Gilson de Souza, que na época estava à frente da autarquia federal.

Conforme Souza, que também é assentado e advogado do setor de Direitos Humanos do MST, as negociações não avançaram  por causa de impedimentos na documentação da Fazenda Preservar. 

Diante da possibilidade de desapropriação das terras da fazenda por pertencerem ao estado, um grupo, organizado pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Minas Gerais, ocupou parte do terreno desta fazenda em 2016 mas foi despejado em julho de 2017. Em outubro do ano passado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra reocupou a área e começou a produzir alimentos livres de agrotóxicos.

Resistir e Produzir

A intenção dos agricultores e agricultoras do MST era começar a produção para subsistência e depois partir para as feiras agroecológicas, oferecendo alimentos saudáveis na região. Contudo, o tempo não foi suficiente para a finalização desses planos, visto que em uma mesa de negociação em Belo Horizonte, entre o estado e as partes interessadas, ficou condicionada que a reintegração de posse à fazenda Preservar fosse cumprida até 2 de abril. 

Por isso foram poucos dias de muito trabalho para não perder a colheita. Com ajuda de companheiros da região, as roças de milho foram sendo quebradas, parte da abóbora e mandioca também foram colhidas, mas o feijão e o arroz serão perdidos. 

Apesar da perda da colheita, da ordem do despejo e da nova ocupação, as famílias permanecem firmes, sorridentes e acolhedoras. A esperança que dá nome ao acampamento é a mesma que os move a continuar na luta pela terra e “para ganhar nossa terra, para trabalhar, para plantar”.  

“Deus disse que temos que ganhar nosso pão com o suor do rosto né? E aqui (o suor) é o corpo todo, você pode torcer a roupa”, disse uma das acampadas. 

Edição: Daniela Stefano