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Qual será o poder do Facebook nas eleições deste ano?

Professor Fábio Malini, da UFES, afirma que pleito pode ser afetado pela disseminação de informações falsas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"O debate político vai passar muito pela informação distorcida e pela disseminação dessa informação", afirma Fábio
"O debate político vai passar muito pela informação distorcida e pela disseminação dessa informação", afirma Fábio - Gabriela Korossy | Câmara dos Deputados

O Facebook ainda não tomou nenhuma providência concreta para acabar com a disseminação de notícias falsas na sua base. Essa é a avaliação do professor da Universidade Federal do Espírito do Santo e Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Internet e Cultura, Fábio Malini. Para ele, as explicações que o dono da plataforma deu ao Senado dos Estados Unidos nesta semana são contraditórias e sem atuação real para solucionar o problema. "Isso que ele (Zuckerberg) fala é só relações públicas na mídia, mas sem nenhuma ação de fato”, comentou, em entrevista à rádio Brasil de Fato.

Fábio Malini afirma que as eleições brasileiras desse ano serão influenciadas de maneira decisiva pelas redes sociais. “Se nós analisarmos o Facebook, ela já atinge 100 milhões de pessoas no Brasil. É um impacto indireto. O que elas discutem em rodas sociais, a partir do que leem ou conversam, é muito maior do que esse indexador. Então, vamos ter uma eleição com uma participação gigantesca das redes sociais”, apontou.

Confira os principais trechos da entrevista:

Nos dos Estados Unidos, Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, prestou depoimento no Congresso sobre os vazamentos de dados na Cambridge Analytica. Gostaria que você comentasse essa questão.

Esse escândalo começa por conta de uma empresa que compra dados pessoais recolhidos por um professor a partir do uso de uma série de testes. Ao fazer esses testes, elas acabam destinando seus conteúdos, interações e informações pessoais. Esse professor vendeu esses dados para a Cambridge Analytica, que criou as personas baseadas nas características desse usuários. Durante o processo eleitoral americano e o Brexit, ela destinava propaganda para esses alvos. A grande discussão é: como o Facebook não protege os dados das pessoas, a ponto desses dados serem coletados e uma empresa usá-los dessa maneira? Estamos em um beco sem saída. A gente tem uma plataforma em que as pessoas precisam ser elas mesmas, mas, ao fazer isso, são alvos de propaganda e vigilância massiva.

O Facebook não comercializa os dados, mas também não impede esse processo, correto?

O Facebook permite que qualquer empresa pegue um banco de dados. Por exemplo: lista de presenças. Você cria uma planilha, com nome e sobrenome, e-mail e telefone. O Facebook identifica que X pessoas daquela planilha estão na sua base, e a partir daquele momento essa pessoa que comprou a planilha pode anunciar para essas pessoas. Isso é legítimo? De um lado está o dono da planilha e o do outro a empresa que identifica as pessoas e permite a outrem que sejam enviados anúncios massivos. Elas são identificadas e viram alvos de propaganda de todo tipo.

Nas últimas semanas, Zuckerberg já se mostrava preocupado com as eleições, dizendo que ia ter um cuidado especial, por exemplo no Brasil. Temos risco de sofrer manipulação aqui?

O Facebook ainda não fez nenhuma ação concreta para dirimir problemas de notícias destorcidas que são publicadas na sua base ou permitir que informações mentirosas sejam enviadas para pessoas da sua base. No caso Marielle, por exemplo, ele retirou aplicativos que impulsionaram notícias falsas, mas as páginas continuaram ativas. Isso que ele (Zuckerberg) fala é só relações públicas na mídia, mas sem nenhuma ação de fato. O Brasil tem uma legislação nova, mas não tem experiência com isso. Existe uma conjunção entre uma plataforma que está deixando tudo ao deus dará, uma jurisdição para regulamentar o impulsionamento e a forte polarização brasileira. Esse ecossistema vai gerar o impulsionamento de informações e isso pode influenciar as eleições.

Há uma análise da influencia das redes na política brasileira?

Se nós analisarmos o Facebook, ela já atinge 100 milhões de pessoas no Brasil. É um impacto indireto. O que elas discutem em rodas sociais, a partir do que leem ou conversam, é muito maior do que esse indexador. Então, vamos ter uma eleição com uma participação gigantesca das redes sociais. As pessoas estarão muito conectadas, mesmo as de baixa renda, que tiveram uma inclusão muito grande, através do celular, com fácil acesso à internet. Esse debate político vai passar muito pela informação destorcida e pela disseminação dessa informação.

Como fica o poder de alcance das mídias alternativas diante da mudança de algoritmo no Facebook?

Os algorítimos são softwares que vão criar uma ação dentro de uma plataforma. O Facebook adotou, no campo da notícia, o procedimento para que pessoas tenham acesso a noticias que estão mais próximas da realidade dela. É uma rede em que você conversa com quem de fato você conhece. No caso dessa decisão, no ambiente das notícias, é a valorização da notícia local e desvalorização da notícia nacional. Para as mídias tradicionais, há uma redação forte de alcance. As audiências da produção independente está mais vinculada a ideologia. Quando há um conflito de polos, a audiência tende a compartilhar mais a produção independente do que a tradicional.

Edição: Diego Sartorato