Resistência

Debate relembra execução de Marielle e reafirma papel da mulher negra na política

Acampamento Lula Livre em Fortaleza realiza atos políticos e culturais em defesa da democracia

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Debate ocorre no quarto dia de acampamento em frente à sede da Justiça Federal em Fortaleza
Debate ocorre no quarto dia de acampamento em frente à sede da Justiça Federal em Fortaleza - Aline Costa

O acampamento do povo cearense por Lula Livre recebeu hoje (14), como parte da programação da 20ª Feira da Reforma Agrária, o debate "Mulheres negras movendo a estrutura da política". O evento marca um mês do assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes.

Duda Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) abriu o debate contextualizando o papel das mulheres negras na sociedade. Para ela, essas mulheres são vistas apenas como cuidadoras, exercendo, na maioria das vezes, profissões relacionadas a esse papel, como faxineira, cozinheira ou babá. "Mas a mulher negra tem uma força e uma voz. É preciso reafirmar isso", afirmou Duda.

Para Louise Santana, do PSOL, essa visão sobre a mulher negra é decorrente das estruturas que as atravessam, seja na responsabilidade e cuidado com os outros, seja para organizar o orçamento doméstico, por exemplo. Para ela, é necessário intervir nesse processo. "Quando uma mulher negra se organiza politicamente, muda as estruturas", explicou a militante do PSOL. 

Ainda segundo Louise, Marielle Franco, enquanto mulher negra e periférica, fazia uma disputa de ideias e de protagonismo da história, colocando-se como semente. "Nós incomodamos muito, mas nós vamos juntas. Para uma mulher negra e da periferia isso incomoda muito. O nosso problema não é incomodar, mas de ser apagada. Marielle foi apagada, foi uma morte política", denunciou. 

Lourdes Vicente, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lembrou de Marielle Franco, mas também de Margarida Alves, Roseli Nunes, das mulheres da Síria e da Palestina, das mulheres africanas, das mulheres mapuches e de tantas outras que foram mortas por disputas políticas. " O capitalismo tenta nos matar, mas nós decidimos viver", afirmou Lourdes, citando a experiência das mulheres zapatistas no México. "Tentam nos calar, mas os sonhos viram sementes. Marielle virou semente", complementou. 

Marielle Franco, de 38 anos, foi eleita a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro. Mulher, negra, lésbica e periférica, foi executada no último dia 14 de março, junto a Anderson Gomes, quando saia de atividade sobre o protagonismo das mulheres negras.

Edição: Diego Sartorato