Resistência e arte

Banda Partigianos canta músicas de protesto e revolução no acampamento Lula Livre

Diariamente artistas locais se apresentam na Praça Olga Benário, nome dado ao local das manifestações na vigília

Curitiba |
Partigianos se apresenta no acampamento Lula Livre
Partigianos se apresenta no acampamento Lula Livre - Júlio Carignano

A música de protesto é uma constante no acampamento Lula Livre, em Curitiba. O local tem reunido centenas de militantes de partidos de esquerda e de movimentos sociais desde o dia 7 de abril, dia em que formou-se a vigília nas imediações da Polícia Federal.

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Diariamente artistas locais, do samba, hip hop, MPB e rock, se apresentam na Praça Olga Benário, nome escolhido para o local das manifestações no acampamento. No último sábado (14), os manifestantes tiveram a oportunidade de assistir a Partigianos, uma banda da capital paranaense que resgata canções populares da resistência contra o fascismo na Espanha e Itália. O grupo embalou a tarde do acampamento Lula Livre. 

O nome da banda é uma menção ao termo ‘partisan’, que surgiu na Guerra Civil Espanhola nos anos de 1930. Na Segunda Guerra Mundial, os partisans tiveram participação fundamental contra a ocupação alemã nos países da Europa.  Já na Itália, os ‘partigianos’ lutaram contra o fascismo de Mussolini.

Hinos revolucionários como A Las Barricadas, Em la Plaza de mi Pueblo, Si me Quieres Escribir e Fischia Il Vento, estiveram no repertório, porém a canção Bella Ciao foi aquela que mais fez a militância dançar. 

Bella Ciao – que nos últimos meses ganhou diversos novos admiradores por ser trilha da série “Casa de Papel” – tem raízes nos cânticos de trabalhadores rurais italianos – na sua maioria migrantes – entoados como forma de ritmar e diminuir o peso do exaustivo plantio e colheitas. Posteriormente, com adaptações, a música foi utilizada como resistência da invasão da Alemanha nazista à Itália e contra o regime de Benito Mussolini.

A canção narra a história de um homem que acorda e se depara com a figura do invasor (simbolicamente os camisas negras) e decide se juntar à resistência mesmo que isso signifique sua morte em combate, uma vez que viver sob a dominação fascista é o mesmo que a morte. Ao se despedir de sua mulher dizendo “Bella ciao” (“Querida, adeus”) o recém incorporado partigiano pede que, se morrer, seja enterrado na montanha, na sombra de uma flor. Para que todos que ali passarem vejam a flor que simboliza o partigiano que deu sua vida em nome da liberdade do povo italiano.

A banda

Em fevereiro, o Porém.net entrevistou um dos idealizadores da banda Partigianos: o músico e produtor Vlad Urban. Entre as pautas, falamos sobre o projeto. Filho do fotógrafo João Urban e sobrinho de Teresa Urban (1946-2013), jornalista e ambientalista que participou de grupos de resistência à ditadura militar, Vlad tem a militância no sangue.

A ideia da banda Partigianos surgiu de Vlad e sua irmã Dora Urban, que é pianista. Das pesquisas da dupla, saiu todo o repertório, que hoje tem nove músicas. Segundo Vlad, o grupo também está preparando versões de canções de resistência às ditaduras na América do Sul.

Além das já citadas canções da resistência espanhola, a Partigianos conta no repertório com canções como a mexicana La Adelita, da revolução camponesa liderada por Emiliano Zapata e Pancho Villa.

No início de fevereiro, a banda gravou seu primeiro vídeo oficial com a versão Fischia Il Vento; uma adaptação da música folclórica russa Katyusha feita pelo médico comunista, Felice Cascione, um partigiano italiano que lutou na resistência contra fascismo de Mussolini.

Além dos irmãos Urban, fazem parte da Partigianos; Andre Santos (bateria), David Ernst (guitarra), Gustavo Toscan (acordeon), Pepeu Flukeman (baixo) e Tom Fortes (vocais). 
 

Edição: Diangela Menegazzi