Lula Livre

Tia Zélia, dona do restaurante favorito de Lula, cozinha para acampados em Curitiba

Cozinheira saiu de Brasília para se solidarizar com ex-presidente, quem ela conhece há mais de três décadas

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Cozinheira visitou Acampamento Lula Livre, em Curitiba, nesta quarta-feira
Cozinheira visitou Acampamento Lula Livre, em Curitiba, nesta quarta-feira - Giorgia Prates

"Conheci Lula quando ele trabalhava no sindicato em São Paulo. Ele usava uma calça branca boca-de-sino, uma camisa branca e tinha um cabelo grande", relata orgulhosa Tia Zélia, de 64 anos. 

Dona de restaurante simples na Vila Planalto, em Brasília, Maria de Jesus Oliveira da Costa gosta de ser identificada assim mesmo: "Até na Receita Federal é Tia Zélia", brinca.

O restaurante que leva o seu nome, inaugurado em 1998, é conhecido na Capital Federal por receber grandes nomes da política e ter sido frequentado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesta quarta-feira (18), ela cozinhou para os acampados em Curitiba (PR), que estão em vigília pela liberdade do ex-presidente desde o dia 7 de abril.

Nascida em Buritirama, município da Bahia localizado na região do vale do rio São Francisco, a nordestina foi para Brasília em 1976, em uma viagem que durou 45 dias de pau-de-arara. Há 42 anos, vive em Brasília, onde criou sozinha seus cinco filhos --quatro mulheres e um homem.

Mesmo quando Lula se tornou presidente da República, em 2003, ele não deixou de lado a comida de Tia Zélia. Ela conta que o ex-presidente enganava até mesmo a própria segurança pessoal para comer galinhada, buchada e, seu prato preferido, rabada.

"Em uma Marcha das Margaridas [ato das trabalhadoras rurais que ocorre em agosto], ele mandou me buscar para disfarçar e eu fui para lá, teve a palestra dele e tudo e depois eu combinei com ele: 'companheiro, vou caminhando na frente para não dar na cara'", relembra.

Com frequência, Tia Zélia tinha que apagar a luz de seu restaurante para despistar que a visita era do então presidente da República. "Se a luz estivesse acesa, o pessoal ia querer ir para lá, repórter queria saber se ele estava lá. Então, ele chegava, eu colocava ele dentro e a gente ia para cozinha." 

Lula tinha que ir até o local porque ela prefere cozinhar na própria casa. "Na cozinha do Palácio [do Alvorada] tem muita etiqueta", diz a cozinheira. "No tempero e na limpeza, dentro de Brasília, eu ganho em primeiro lugar", afirma.

Carismática, a baiana chama os clientes de família. O grande sucesso do restaurante, principalmente pelas visitas do então presidente, fez com que "o povo dos restaurantes chiques" tentasse boicotar seu trabalho. "O povo gosta da minha comida, não gosta das estrelas. Então muita gente tinha ciúmes, ligavam até para a fiscalização ir lá."

Tia Zélia fica emocionada ao se lembrar do governo do ex-presidente e esse é o motivo de ter viajado mais de 1,3 mil quilômetros até a capital paranaense. "Minha família é do nordeste, eu sou nordestina. Lá não tinha água, luz, nada. E quando veio a luz para todos, Lula deixou água, granja, horta. Antes, eu levava comida para a Bahia; hoje eu trago comida de lá pra cá". 

A visita mais recente de Lula ao restaurante foi há sete meses, em setembro de 2017. "Não deu tempo dele almoçar, mas ele passou lá em casa e me deu um abraço", conta. 

Em Curitiba, Tia Zélia gravou um vídeo para o ex-presidente. "Meu querido presidente Lula, quero te dizer que estou em Curitiba, quero te deixar meu abraço. Quero te deixar meu carinho e quero te dizer que te amo muito, a tua véia te ama", disse na gravação.

Edição: Juca Guimarães