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Artigo | É proibido torcer?

"Numa sociedade em que o Estado não garante segurança para o povo, é mais cômodo proibir duas torcidas no estádio"

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Cruzeiro e Atlético decidiram no mês passado que os dois clássicos que foram disputados pelo Campeonato Brasileiro teriam torcida dividida
Cruzeiro e Atlético decidiram no mês passado que os dois clássicos que foram disputados pelo Campeonato Brasileiro teriam torcida dividida - Divulgação/Hemominas

Em tempos de futebol “nutella”, Cruzeiro e Atlético decidiram no mês passado que os dois clássicos que foram disputados pelo Campeonato Brasileiro teriam torcida dividida. Um retorno as “raízes de nosso futebol”, que certamente alegrou a muitos que, como eu, começamos a acompanhar os jogos nos anos 90 e nos lembramos do peso que as torcidas davam ao clássico. 
De lá pra cá, muita coisa mudou e, cada vez menos, podemos ver clássicos com duas torcidas. Em São Paulo, por exemplo, só com torcida única. O que não mudou e segue sendo justificativa para a restrição é a violência entre as torcidas. 
Há anos, torcedores se matam sem que nenhuma medida efetiva seja realmente tomada. Desse modo, observamos a falência de nossa sociedade, incapaz de conviver com o diferente, e do Estado, que assume não ter condição de exercer uma de suas prerrogativas: garantir a segurança dos cidadãos. Nesse contexto, é mais cômodo para a polícia proibir duas torcidas no mesmo estádio. A discussão voltou à tona na final do Paulistão, no início do mês, com a PM impedindo que corintianos e palmeirenses acompanhassem os treinos abertos das equipes. 
Em função da nossa incompetência para a vida em sociedade, o torcedor, que é privado de ir aos estádios por não ser sócio torcedor, talvez algum dia também não poderá nem usar a camisa do seu time na rua. Afinal, vale tudo para conter a violência, menos tomar medidas inteligentes a favor da segurança e da festa da bola, ao mesmo tempo.
 

Edição: Wallace Oliveira