Eleições

Artigo| O efeito Gilmar Mendes

O Judiciário se assume como instrumento político do centro-direita brasileiro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Para Gilmar Mendes,  parte dos seus colegas no STF vota sob a batuta do JN e da Folha
Para Gilmar Mendes, parte dos seus colegas no STF vota sob a batuta do JN e da Folha - EBCBr

 Até muito recentemente, o ministro do STF Gilmar Mendes era cantado em prosa e verso pelos golpistas de todos os matizes, sob a orquestração competente do Jornal Nacional, da Rede Globo. Não mais que de repente, Gilmar ataca parte dos seus pares no STF e desconstrói o principado de Curitiba, chamando seus integrantes de perversos e inventores de uma Constituição própria.

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Além disso, afirma veementemente que estão praticando tortura através do instrumento da prisão preventiva, dizendo que os juízes do principado “escolhem os advogados que defendem determinados réus”. Vai mais longe e diz que o escritório de advocacia Castor é um centro arrecadador de propina da magistratura curitibana.

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Afirma, ainda, que parte dos seus colegas no STF vota sob a batuta do JN e da Folha de São Paulo. Não é possível explicar tal comportamento simplesmente apelando para a personalidade forte do ministro ou para uma súbita dor de consciência, depois de tantas mentiras assumidas pelo Judiciário brasileiro, usando a linguagem surrealista e bifronte que Kafka usa em seu magistral O Processo.

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É possível imaginar que Mendes, sendo politicamente mais ladino que seus companheiros, esteja se antecipando à derrocada do Judiciário, acusado de marajaísmo, nepotismo e imoralidade no recebimento de auxílio-moradia, assumindo uma ética que não possui. Também, é provável que setores importantes do centro-direita liberal estejam profundamente incomodados com a onipotente atuação do Judiciário, principalmente em Curitiba, onde elementos de fanatismo e paranoia alimentam as sentenças adrede preparadas.

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O liberalismo, para os ignorantes da política brasileira, não é compreendido como teoria estabelecida, conforme Bobbio o demonstra, com respeito à Constituição e estrita aceitação do jogo democrático. Alguns jornalistas mais competentes já vêm chamando a atenção para isso, mostrando as arbitrariedades da chamada operação Lava Jato, que, no nosso entender, foi construída com a ajuda do FBI e do Departamento de Justiça norte-americano.

Sob o competente manto do combate à corrupção, Joaquim Barbosa iniciou este derrisório caminho, criando o conceito de domínio do fato, que depois se tornou convicção delirante, dirigida contra adversários políticos do sistema judiciário.

Dessa forma, o Judiciário se assume como instrumento político do centro-direita brasileiro, combatendo a corrupção dos tolos, enquanto a verdadeira defraudação dos grandes bancos e dos paraísos fiscais fica absolutamente resguardada.

Naturalmente, estou acrescentando aqui uma compreensão nossa, pois certamente o ministro Gilmar não pensa do mesmo modo. O bordão “a lei é para todos” tem sido desmentido por filósofos como Agamben e Derrida, enquanto o psicanalista britânico Meltzer afirma, com base em W. Benjamin, que a lei está podre!

Essa é a triste conclusão de que o poder Judiciário do Brasil se transformou no espaço onde a lei é representada, quase sempre, por indivíduos insanos, tomados de onipotência e onisciência, incompatível com a magistratura.

* Valton de Miranda Leitão é médico e psicanalista

 

Edição: Redação