Minas Gerais

Minas Gerais

Assentamento Resistência: uma história de luta que nunca acaba

Antes terra improdutiva, o Assentamento abriga hoje 20 famílias da reforma agrária em Sete Lagoas (MG)

Colaboração para o Brasil de Fato | Sete Lagoas (MG) |
A área de 333,3 hectares era inviabilizada pela ganância dos antigos proprietários
A área de 333,3 hectares era inviabilizada pela ganância dos antigos proprietários - Divulgação

O nosso primeiro contato com o Assentamento foi por meio do companheiro Milton, que trilhou um caminho diferente de Tião até se encontrarem no MST. Sua história é como a de tantos outros nascidos nas periferias das grandes cidades, cujas raízes familiares estão na verdade assentadas sobre as terras do campo brasileiro.

“A minha história é totalmente diferente do Tião, em Betim estava sendo feito um trabalho de base pela frente de massa, eles procuravam por lideranças de Bairros, ou seja, igrejas católicas, sindicatos e conversavam sobre os motivos da terra”, relata.

De acordo com Milton, a maioria das pessoas que estão na periferia hoje são parte do êxodo rural. “Gente que está na cidade, mas que quando você vê, tem uma ligação forte com a terra. Meu pai veio para cidade, mas suas raízes estão na terra, lá para os lados de Itabira.” , conta. Milton que nasceu na cidade de Betim, foi militante do Partido dos Trabalhadores (PT) antes de conhecer o MST.

A história da terra

O terreno onde hoje é o Assentamento Resistência, era administrado pela Santa Casa. De acordo com Milton, a instituição perdeu o interesse na área, deixando-a abandonada, sem produzir e sendo explorada por um arrendatário irregular.

Ainda segundo Milton, a intenção era desvalorizar a terra para que esta atendesse apenas a interesses do proprietário. “Estava tudo abandonado, a Santa Casa deixou o uso da terra devido às influências e até corrupção. Conseguimos mudar essa situação, com muita luta ganhamos também em Brasília todas as instâncias e ele perdeu tudo”, contam.

Uma área de 333,3 hectares de terra que era inviabilizada pela ganância dos antigos proprietários hoje assenta 20 famílias do MST. “A fazenda está abrigando muitas famílias. Se fez justiça. Temos um projeto, estamos batalhando para a produção e vamos fazer acontecer com a fé em Deus”, afirma Milton.

O nome do Assentamento Resistência foi escolhido por meio de uma assembleia e representa a luta dos companheiros. “Nessa área já sofremos uma ordem de despejo e não foi fácil. Se você olhar, da Fiat Iveco até o trevo de Baldim tava cheio de policiais, se a gente não tivesse em comunhão para resistir, e se não fosse os meninos da direção lutando no judiciário, ia ser complicado. Eram 120 policiais para 34 sem terra”, conta Milton.

Segundo Tião, o principal combustível da luta é a esperança. “O que alimentava a gente era a esperança de que uma hora isso vai acabar. A gente fala que acaba, mas a luta nunca acaba.”, afirma Tião.

Após 17 anos, a repressão policial não é mais motivo de pesadelo para as 20 famílias que sobrevivem da agricultura familiar. O desafio atual é desenvolver o Assentamento Resistência: “Hoje nosso principal entrave para desenvolver o assentamento é o financeiro. Para o pequeno agricultor acessar uma linha de crédito é muita burocracia. Matéria prima nós temos, vontade de trabalhar nós temos de sobra, só falta estrutura e amparo técnico”, relata Milton.

Segundo o Orçamento da União para 2018 enviado pelo governo ao Congresso, os recursos para equalização dos juros nas diversas linhas de crédito terão uma queda de 39%, passando dos R$ 7,8 bilhões neste ano para R$ 4,8 bilhões.

De acordo com Milton, a assistência técnica é fundamental para desenvolver um projeto e posteriormente conseguir crédito. Segundo relato dos integrantes do assentamento, o técnico da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) da região de Funilândia não ampara as famílias da agricultura familiar. “Nós conversamos com o prefeito e falamos sobre a assistência técnica do município via EMATER que não recebemos. O prefeito disse que está pensando em uma solução, porque não é só o assentamento que fica sem assistência. Infelizmente o técnico da EMATER de Funilândia por um bom tempo vem priorizando apenas o torneio de gado leiteiro”, destaca Milton. “São 17 anos de assentamento sem assistência técnica da EMATER.”, afirma Tião.

Os moradores criaram uma Associação cujo objetivo é promover o desenvolvimento do assentamento. A aposta dos camponeses está na agroindústria para o processamento de cana-de-açúcar. “Já temos o maquinário da agroindústria. Se a gente colocar o meio para funcionar, vamos ter emprego e renda aqui dentro.

De acordo com Milton, após conseguir o crédito será possível desenvolver o assentamento através da agroindústria. “Não vamos precisar vender horas de trabalho para os vizinhos, para os pequenos produtores. Isso infelizmente acontece. A gente envelhece, nossos filhos acabam indo pra cidade em busca de emprego e renda, quem vai tocar isso aqui depois?. Nosso desafio é desenvolver o projeto para viabilizar o sustento.”, conta.

O ataque cerrado da mídia ao MST

No contexto brasileiro, os meios de comunicação de massa, principalmente a TV, tem poder para influenciar os diversos setores da sociedade. Além de uma tendência conservadores dos principais canais de televisão, é importante destacar que os proprietários das principais redes de TV são também donos de terra.

Um exemplo de coronelismo eletrônico pode ser visto no Maranhão. A Rede Mirante, conglomerado de mídia, afiliado da Rede Globo no estado, durante anos pertenceu ao político Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney (PMDB).

De acordo com João Pedro Stédile, na questão da reforma agrária, os dois maiores jornais do país, publicados em São Paulo, são declaradamente contrários ao processo.

No interior do país diversos meios de comunicação estão ligados a grupos econômicos locais, com fortes interesses fundiários.

Uma das formas de os meios de comunicação de massa atacar os movimentos sociais ligados a luta pela terra ou moradia é pelo uso do termo “invasão” no lugar de “ocupação”.

Algumas reportagens da mídia de massa que destacam esse posicionamento ideológico usado pelos meios de comunicação para criminalizar o MST:

MST volta a invadir fazenda de mil hectares em Santa Catarina — Istoé.

MST invade fazendas de amigo de Temer, de Ricardo Teixeira e da família de ministro da Agricultura — Fonte: G1 Portal de Notícias da Rede Globo.

MST invade terras de Blairo Maggi, Ricardo Teixeira e amigo de Temer — Jornal Folha de São Paulo.

De acordo com o integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, a reforma agrária só avançará no Brasil com o fim do latifúndio da mídia.

Edição: Joana Tavares