Democracia

Em ato por Lula livre, religiosos e políticos criticam isolamento do ex-presidente

Teatro Oficina ficou lotado de manifestantes em prol da liberdade e candidatura de Lula

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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José Celso Martinez e Eduardo Suplicy no ato Lula livre
José Celso Martinez e Eduardo Suplicy no ato Lula livre - Julianna Granjeia/Brasil de Fato

Políticos, religiosos e artistas se reuniram no Teatro Oficina na noite desta quarta-feira (25) para o ato supra partidário Lula Livre, contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o evento, organizado pelo vereador Eduardo Suplicy (PT) com o apoio do diretor e ator José Celso Martinez, os convidados criticaram o isolamento do petista. Centenas de pessoas lotaram o teatro.

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Frei Betto, amigo de longa data de Lula e também de José Celso, ressaltou a diferença de tratamento durante sua prisão na época da ditadura e agora. "É importante manter viva presença do Lula exigindo o quanto antes sua libertação. É uma prisão injusta, uma perseguição cruel, ele está completamente isolado, com muitas restrições, sobretudo quanto às visitas, o que contradiz a legislação brasileira. Comparado ao tempo em que fiquei preso na ditadura, nós recebíamos todo tipo de visita", afirmou Betto, que está trabalhando no plano de governo do pré-candidato à Presidência do PSOL, Guilherme Boulos.

A monja Coen afirmou que a espiritualidade pode ajudar a sociedade a sair desse momento de sistema de guerra e ofensas mútuas e defendeu a liberdade de Lula.

"Eu sou a favor da liberdade do Lula. Ele está injustamente preso. É uma perseguição política desde a saída da presidenta Dilma. Vivemos um momento muito estranho, em que aqueles que fazem o bem e são corretos são perseguidos e aprisionados. Eu espero que haja luz na cabeça desses que estão tomando decisões errôneas achando que estão certos. Porque o grande perigo é esse, quando achamos que somos bons e corretos, vamos acabar com aqueles que são incorretos. Tivemos grandes assassinos históricos que pensaram assim", disse a monja.

Durante o ato, o ex-ministro Celso Amorim afirmou que sentiu vergonha do Brasil em dois momentos. O primeiro, durante a ditadura militar, quando estava em Londres e leu nos jornais a notícia da morte de um estudante torturado, e agora, novamente.

"Quando eu estava na escadaria do metrô de Londres, achei que todo mundo estava olhando para mim. Fiquei morrendo de vergonha. Agora, novamente, quando vejo o prêmio Nobel da paz e o Leonardo Boff barrados de fazerem uma visita. Uma juizinha usar regras de carceragem para um prêmio Nobel. É uma vergonha", disse Amorim, referindo-se à decisão da juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara de Execuções Penais de Curitiba, que proibiu a visita de Adolfo Pérez Esquivel.

"Realismo"

O professor e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira afirmou em seu discurso que é uma injustiça Lula estar preso e que, ao mesmo tempo em que se grita "Lula livre" é preciso discutir a democracia e as eleições.

"Precisamos estar preparados para essas eleições, precisamos ter candidatos fortes, que tenham um programa de governo. O ideal seria que Lula fosse presidente? Sem dúvida, mas não creio que será possível isso. Nós temos que ser realistas. Há um momento que temos que pensar seriamente em em quem o presidente Lula vai apoiar", afirmou Bresser, quando foi interrompido pela plateia aos gritos de "Lula presidente".

"Viva a democracia, viva a utopia, mas digo que ninguém conseguirá governar o Brasil sem um projeto e se não tiver uma possibilidade de fazer um bom governo e precisamos que todos nós nos dermos conta disso. Lula pode ajudar nisso. Está ficando urgente", finalizou.

Na segunda-feira (23), Bresser-Pereira participou de um encontro com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) no escritório do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, para discutir uma aproximação dos candidatos de centro-esquerda. O professor afirmou que defende essa união há um ano e meio.

"Eu acho que o Ciro Gomes está preparado. O presidente Lula, infelizmente, não poderá ser candidato. É ser realista afirmar Isso. O PT precisa pensar seriamente em indicar para presidente alguém fora dos seus quadros", disse o ex-ministro ao Brasil de Fato.

Para ele, Haddad concordaria em participar da chapa. "Ele não pode dizer isso porque é um homem do quadro do PT, mas ao mesmo tempo ele disse que o Lula o estimulou a conversar com o Ciro Gomes. Nós estamos vendo o Brasil entregue aos neoliberais, isso é um desastre, manutenção de estagnação, que o PT não conseguiu romper e nós precisamos de um candidato que faça isso", afirmou Bresser.

Edição: Diego Sartorato