Há quem goste de correr estrada. Fidel Preto, por exemplo, é gaúcho, mas deixou o Rio Grande do Sul para trabalhar com o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) no estado do Ceará, no Nordeste do país.
Na segunda-feira, 30 de abril, ele saiu junto com a delegação cearense, com cerca de 30 pessoas rumo a São Paulo para participar da 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária. Foram mais de três mil quilômetros percorridos em quase quatro dias até a capital paulista. E quem acha que uma viagem tão longa desanima essa turma, se engana.
“Apesar de todo o cansaço, o pessoal vem alegre, contente, porque é um momento não só de comercializar os nossos produtos, mas um momento político, de contribuir com a sociedade e dizer para quê o MST luta pela terra, porque fazemos toda essa articulação”.
Fidel é médico veterinário formado pela turma do MST na Universidade de Pelotas (RS) e hoje contribui com a cadeia produtiva dos derivados do leite no estado nordestino. A barraca de produtos do Ceará oferece a preços acessíveis doces, cajuína, castanha de caju, farinha de mandioca, carne de sol e muito mais. São cerca de oito toneladas de alimentos saudáveis vindos dos assentamentos e acampamentos cearenses. E transportar toda essa quantidade de produtos é um trabalho a parte.
“A articulação começa muito antes. 30 dias antes da feira, já começamos a juntar todos os produtos num só local para poder facilitar. Um dia antes da viagem nós empacotamos todo o material, embalamos, tomando todos os cuidados que é preciso ter, cumprindo tudo o que é exigido pela legislação para fazer esse transporte”.
Outra delegação que cortou quase o país inteiro em ônibus para chegar à feira foi do estado de Rondônia. Zonália Neres, moradora do Assentamento Madre Cristina e mãe de oito filhos, conta que a longa viagem é na verdade uma grande festa. “Esse povo vem muito animado. Sai de tudo dentro do ônibus. É música, piada, poesia, brincadeira, a gente lê, e se diverte muito. É uma viagem muito divertida. Tem muitas pessoas que não se conhecem e passam a se conhecer. Então é uma viagem riquíssima. Tem quem pergunte: ‘Mas não é muito sofrido?’. Mas nós não fazemos esse juízo. Para nós, é uma viagem muito boa, deliciosa. E é um aprendizado muito grande”.
Cerca de 40 pessoas conformam a delegação rondoniense. O carro-chefe da barraca de Rondônia são os derivados do cacau, produzidos de maneira artesanal, e o mais importante, sob a lógica da agroecologia, uma matriz de produção agrícola integrada ao meio ambiente e sem a utilização de agrotóxicos; garantindo assim produtos saudáveis e uma maior biodiversidade na alimentação dos brasileiros.
Zonália lamenta apenas que, pela forte demora na chegada de um caminhão de bananas, o carregamento se perdeu. Mas alerta: de modo algum a perda retira a alegria de participar da feira. “Isso não tira a nossa alegria e a satisfação de estar aqui. Para nós é muito rica essa feira nacional da reforma agrária, porque nós temos o prazer de mostrar para a população da cidade de São Paulo, que a nossa tarefa do MST não é só ocupar a terra, mas sim ocupar a terra, fazer a terra cumprir a sua função social, e mais que isso, produzir comida, e comida limpa, saudável”.
Terminada a feira, as delegações terão outra longa viagem pela frente. “Voltamos muito contentes com o resultado da feira e prontos para a luta. Porque a luta continua”.
A 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária é uma realização do MST e acontece até o domingo (6) no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo.
Edição: Juca Guimarães