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Início Bem viver Cultura

CRÍTICA

This is America: uma experiência de prazer, pavor e contradição

O crítico Heitor Augusto analisa a "canção-clipe" de Childish Gambino como uma obra que não encerra entendimentos

09.maio.2018 às 13h29
Atualizado em 01.fev.2020 às 18h43
São Paulo (SP)
Heitor Augusto, do Urso de Lata
As expressões de Childish trazem o interesse de um artista negro em pensar na vivência negra como aquele tornado "Outro" pela América Branca

As expressões de Childish trazem o interesse de um artista negro em pensar na vivência negra como aquele tornado "Outro" pela América Branca - Youtube/Vevo/Reprodução

A América, para um artista negro, é um terreno de contradições onde habitam os temores e as estratégias de como produzir, entreter e ser consumido dentro do jogo capitalista. Por extensão, para o cidadão negro a América representa uma experiência que pode ir do êxtase da expressão corporal ao pavor do cessar da vida.

Esse é um dos possíveis caminhos interpretativos para a última bomba atirada por Childish Gambino: a canção This is America [Essa é a América] e seu respectivo clipe. Lançada ao mundo no último fim de semana por Childish – alter ego do diretor, roteirista e ator Donald Glover, criador da série Atlanta –, a canção-clipe carrega em si tamanha potência e multiplicidade de signos que praticamente convoca a um debruçar-se obsessivo sobre suas imagens.

Quem tem familiaridade com os trabalhos de Childish/Donald sabe, contudo, que é inútil esgotar uma interpretação. Childish/Donald abraça as ideias de perturbação e desconforto como indispensáveis à experiência audiovisual. Sua obra não se baseia em verdades absolutas ou assina embaixo de bordões reducionistas. No momento que se adentra em seus domínios, é melhor se preparar para sair desorientado.

Diria que essa é a terceira vez que o multiartista norte-americano executa algo desconcertante. Atlanta foi o veículo nas ocasiões anteriores. A primeira foi o episódio sete, B.A.N., sátira refinada aos conteúdos veiculados pela Black Entertainment Television (BET), o canal de televisão que toma a comunidade afro-americana como sua audiência principal. Após os 20 minutos de episódio, todas as certezas foram implodidas, sobrando, apenas, a sensação de embaralhamento: Donald Glover está do lado de quem nessa história? E eu, na condição de espectador(a), espera-se que eu defenda a quem?

O segundo momento desconcertante ocorreu durante a segunda temporada, neste ano, no episódio seis, Teddy Perkins. Uma melancolia nada agridoce atravessa a experiência espectatorial. Novamente, ao final do episódio o que pensar além de “O QUE FOI ISSO?!”.

O que me parece interessante nessas três expressões artísticas de Childish/Donald é o interesse de um artista negro em pensar na vivência negra como aquele tornado “o Outro” pela América Branca – reverberando, assim, o Fanon de Peles Negras, Máscaras Brancas –, mas também, mais interessante ainda, almejar estabelecer uma relação dialógica de preto para preto, trazendo, nessa comunicação, elementos críticos e reflexivos para a própria comunidade negra. O terreno, aqui, não é da romantização, mas da contradição.

Ecos e signos

O primeiro eco que perpassa todo o clipe – das caretas ao corpo curvado, das danças ao olhar diretamente lançado à câmera em praticamente todos os planos – é a do black entertainer, ou “o negro que entretém”. O sujeito negro que, em espaço público, performa e, ao se expressar criativamente, está sob o olhar do outro. O corpo que carrega a historicidade das trocas criativas de um Atlântico Negro [1].

O eco aqui é, obviamente, das apresentações dos menestreis no Século 19, do blackface, do Jim Crow, do negro comedor de melancia, do “Little Sambo”. Nesse sentido, This is America está em franco diálogo com a reflexão crítica de A hora do show (2000), quiçá o filme mais subestimado de Spike Lee, e no polo oposto da celebração racista dos “negros alegres” de O Nascimento de uma nação (1917) [Filme fundador do Cinema Clássico Americano que retrata o surgimento da Klu Klux Klan, de D.W. Griffith].
 

Donald simula os passos de Jim Crow, personagem do teatro de menestréis (Foto: Reprodução)

Cena de A Hora do Show, de Spike Lee, na qual um personagem emula o Jim Crow (Foto: Reprodução)

 

Atores brancos em blackface dançam em uma senzala em cena de O Nascimento de Uma Nação (Foto: Reprodução)

A reflexão aponta dois níveis de interlocução que, como é comum nas expressões artísticas de Childish/Donald, mais embaralham os limites: cobra-se a responsabilidade da América branca em ter forjado, numa fornalha racista, um negro-signo [2] e, com isso, contribuído para as mortes físicas ou simbólicas de pessoas negras (o plano em que o personagem do clipe, na postura corporal à Jim Crow, atira contra um músico que empunhava o violão). Mas existe também a dimensão do sujeito negro criador e a consciência de que, no momento em que pisa num palco, sabe que está a um passo de ser convertido em signo: o negro que entretém. Nos expressarmos pelo nosso desejo de vida e pela potência criativa, mas como evitar que nossa arte não nos transforme no bobo (negro) da corte?

Lembremos que no clipe aquele que efetua os disparos é o próprio Childish Gambino, ou seja, o artista. Que em as mortes em cena são acompanhadas por alterações do beat da música. Que apenas pessoas negras habitam o espaço diegético. Que em vários momentos a canção-clipe modula entre uma felicidade frívola e um conteúdo controverso. O que aponta para a responsabilidade do artista negro em saber navegar nas contradições. “Essa é a América/ Que ela não te pegue moscando”, diz a letra. Ou ainda: “Vovó me dizia/ Pega tua grana, Homem Negro”.

Produzir dentro dos limites de um capitalismo profissional como o norte-americano é sinônimo de estar mergulhado em contradições. Pergunte a Beyoncé [3], a Jay-Z [4] ou a Kendrick Lamar [5]. Em dois anos Childish/Donald saltou da condição de artista a ser observado para o novo Messias Negro.

Porão do entretenimento é onde se geram essas imagens felizes de corpos negros em movimento, fazendo citações centradas numa experiência de juventude negra norte-americana – há ecos de shoot dance, de Roy Purdy e do Whip/Nae nae de Silentó. Na superfície – ou seja, no real –, o inferno cotidiano continua. Childish foge como se houvesse escutado os apelos do zumbi em Corra! (2017). Num clipe que traz tantos elementos para conversa, elege-se um desfecho com esse plano aterrorizante, seguido de um fade.

Último plano da canção-clipe parece ser uma referência ao Corra! (Foto: Reprodução)

A América, diz seu hino, é “a terra daqueles que são livres e o lar dos bravos”. Será? This is America recupera o motivo do negro refugiado em seu próprio país, desterrado, mas em movimento, tal como em Sweet Sweetback's Baadasssss (1971), de Melvin Van Peebles.

Um dos planos iniciais de Sweet Sweetback's Baadasssss, filme icônico do gênero Blaxpoitation (Foto: Reprodução)

“Esse filme é dedicado a todos os irmãos e irmãs que estão de saco cheio do sistema”, diz a cartela do longa de Van Peebles. Ainda que não carregue uma cartela do tipo, This is America se comunica com quem carrega, no simples ato de se manter vivo, uma experiência de pavor e contradição.

Um último comentário sobre contradição: quem segura a câmera em This is America? A pergunta é metafórica, pois sabemos que a direção do clipe é de Hiro Murai, colaborador de Childish nos clipes e de Donald em Atlanta. Childish e os dançarinos performam diretamente para a câmera, enunciando a consciência de que sabem que estão sendo observados. Dito isso, quem é responsável pelo ato de olhar em This is America? É a América branca ou a negra que empunha a câmera?

Como muitas das expressões artísticas em que Chidish/Donald está envolvido, é impossível fechar um entendimento.

*Heitor Augusto é crítico de cinema, curador, pesquisador e jornalista. Ministra cursos de história de cinema e oficinas de crítica. Um dos curadores do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Seus textos habitam a intersecção entre raça, estética e história. Mantém o site pessoal Urso de Lata (www.ursodelata.com).

[1] Recomendo a leitura de O Atlântico Negro, de Paul Gilroy, que investiga o Atlântico como um espaço de trocas e permanências.

[2] Vale lembrar o trecho de Peles Negras, Máscaras Brancas em que Frantz Fanon descreve o momento em que um menino branco vê um homem negro e, apontando para ele, se dirige à mãe com espanto, dizendo: “Mãe, um negro”. Como se ao olhar para um corpo, o que o garoto visse fosse nada mais que um signo – “um negro” –, preenchido pela tecnologia racista de forma a solidificar a subalternidade.

[3] A questão de como a noção de poder emanada pelas suas músicas passa essencialmente pelo dinheiro e pelo poder de compra.

[4] Já que falamos de poder de compra, recomendo uma leitura atenta da letra de The Story of O.J., segunda faixa de 4:44.

[5] Todo o álbum To Pimp a Butterfly é permeado pela preocupação de perder a agência quando um artista é alçado à condição de superestrela. Lembremos do início do poema que perpassa a narrativa musical: “Lembro-me de que você estava em conflito/ Utilizando sua influência de forma errada”.

 

Editado por: Pedro Ribeiro Nogueira e Nina Fideles
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