Eleições

Venezuela: "Parte da oposição deu as costas à população", diz candidato Henri Falcón

Opositor que concorre à Presidência criticou os partidos que decidiram não participar das eleições do dia 20 de maio

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Candidato Henri Falcón recebe apoio de parlamentares da oposição durante entrevista coletiva
Candidato Henri Falcón recebe apoio de parlamentares da oposição durante entrevista coletiva - Fania Rodrigues

Dos cinco candidatos que concorrem à Presidência da Venezuela, nas eleições que serão realizadas no dia 20 de maio, quatro são opositores ao governo de Nicolás Maduro. O melhor colocado nas pesquisas, com cerca de 30% das intenções de voto, é o candidato Henri Falcón, ex-governador do estado de Lara e presidente do partido Avanzada Progresista.

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No entanto, os principais partidos da direita venezuelana decidiram não participar do processo eleitoral, entre eles o Ação Democrática, que na última eleição estadual teve quatro governadores eleitos, tornando-se a principal força política entre os partidos opositores. Também não estão participando o Vontade Popular, liderado por Leopoldo López, que está em prisão domiciliar, e o partido Primeiro Justiça, dos líderes Júlio Borges, deputado e presidente da Assembleia Nacional (Congresso), e Henrique Capriles, candidato derrotado por Maduro nas eleições de 2013.

O candidato Henri Falcón fez um chamado à unidade dos opositores, durante uma entrevista coletiva concedida na última segunda-feira (7). "Uma parte de oposição virou às costas à população. Nós estamos dando a cara, oferecendo uma proposta aos cidadãos venezuelanos". 

Para Falcón a abstenção de voto é o símbolo da “anti-política” e os partidos opositores estão perdendo sua base política. “Existe uma rebelião dentro de partidos como o Ação Democrática, Primeiro Justiça, Vontade Popular e Um Novo Tempo. Há uma debandada nas suas bases militantes. Ninguém entende porque, hoje, os seus dirigentes políticos digam: não, ninguém vai votar", disse o candidato Henri Falcón.

De acordo com o presidenciável, isso pode ter um preço alto para este setor opositor. “Há um suicídio coletivo por parte desse setor da oposição. Estão buscando um resultado final que agudiza a crise. E o que vem depois de piorar a crise? Eles não propõem uma solução política”, questionou.

Os principais líderes da oposição, que no ano passado lideraram protestos pedindo a renúncia do presidente Nicolás Maduro, não aparecem em atos públicos desde o fim dos diálogos de paz, em março deste ano. O presidente do Ação Democrática, Henry Ramos Allup, restringiu sua aparição pública a uma entrevista coletiva realizada na semana passada. Já o deputado Júlio Borges publicou uma foto, na segunda-feira (7), em que aparece em um evento da vice-presidência dos Estados Unidos, em Washington. Outro líder opositor, Luis Florido, do Vontade Popular, também estava em viagem ao exterior há mais de um mês, regressou somente nessa semana à Venezuela. O ex-governador de Miranda, Henrique Capriles, tem feito manifestações apenas através de suas redes sociais.

Condições eleitorais

O candidato opositor disse que, apesar de suas críticas ao Conselho Nacional Eleitoral, acredita que as condições estão dadas para qualquer uma das partes vencer às eleições. “As condições eleitorais de 2018 são as mesmas de 2015 (quando a oposição ganhou a maioria do Congresso). Já demonstramos que podemos vencer o governo”, disse Falcón.

Para o candidato falta coerência por parte dos partidos que decidiram não participar das eleições. “Teve gente que, no ano passado, primeiro pediu eleições (nos protestos dos primeiros meses do ano), logo depois fez um chamado a abstenção (nas eleições da Assembleia Nacional Constituinte, em julho), em seguida conclamou o voto (para as eleições de governadores, em outubro) e por fim voltou a pedir abstenção (nas eleições municipais, em dezembro). Isso é uma incoerência”.

Falcón fez um chamado à unidade nacional e convocou todos os partidos a participarem do pleito, unindo-se a sua campanha eleitoral. “Venham todos, ainda há tempo. Esse é o momento da unidade”, destacou o candidato opositor.

Na segunda-feira (7), uma bancada de cerca de dez deputados da Assembleia Nacional que reúne diversos partidos opositores declararam apoio à candidatura de Henri Falcón.

Desde o início da campanha política, ele está viajando pelo país realizando atos políticos. Nessas últimas duas semanas da campanha promete fazer atividades em pelo menos três estados por dia.

Quem é Henri Falcón?

Henri Falcón, de 56 anos, é um político, militar e advogado venezuelano. Ex-chavista, saiu do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) em 2010. Foi eleito governador do estado de Lara por dois mandatos seguidos entre 2008 e 2012, depois entre 2013 e 2017. Lara é um importante produtor de agrícola e de pecuária, um dos motores econômicos do país.

Em 2012, fundou o partido Avanzada Progresista, fruto da dissidência de organizações políticas de direita e de esquerda, entre eles Podemos, Pátria Para Todos, Gente Emergente e o PSUV. Seu partido fazia parte da Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão de partidos que faziam oposição ao governo Maduro.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira