Privatização

Sorocabana: População se manifesta contra o gerenciamento por OSS

CIES, que vem gerindo as carretas do Doutor Saúde e o Hora Certa, é quem apresentou interesse pelo hospital

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Fundado em 1955, o Sorocabana já foi referência na Zona Oeste e tinha 156 leitos públicos
Fundado em 1955, o Sorocabana já foi referência na Zona Oeste e tinha 156 leitos públicos - Fábio Arantes/ Secom

Secretários do prefeito Bruno Covas (PSDB) e moradores dos bairros da Lapa, Pompéia e entorno, se reuniram nesta quinta-feira (10) para discutir uma MIP (Manifestação de Interesse Privado) de gestão do Hospital Sorocabana, na zona Oeste da capital. O encontro foi organizado pelo vereador Paulo Frange (PTB-SP).

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A manifestação de interesse privado pelo Hospital Sorocabana vem da organização social de saúde (OSS) CIES Global -- Centro de Integração de Educação e Saúde, já responsável pelas carretas de exames e consultas e procedimentos nas unidades da Rede Hora Certa.

O secretário de Desestatização e Parcerias, Wilson Poit, informou que há “muitos projetos na rua” de privatização ou parcerias com o setor privado, e citou como exemplo parques municipais, rodoviárias e o Anhembi. "Recebemos esse ano uma manifestação de interesse privado, consultamos a Câmara [Municipal de SP], o secretário [de Saúde Wilson Modesto] Pollara, que se manifestou favoravelmente, e deveremos nos próximos dias publicar isso. O vereador Paulo Frange nos convidou para que viéssemos primeiro falar com vocês".

Segundo ele, embora os gestores municipais já estejam discutindo a proposta para o Sorocabana com a população, a Prefeitura somente publicará o edital de licitação após receber outras propostas de empresas. "Nós já aceitamos, mas não publicamos ainda”, explicou.

Paulo Frange explica que o processo de busca por parceiros não estava parado, mas estava “adormecido” dentro de um trabalho interno. “Aí surge uma manifestação de interesse privado, que a Secretaria de Desestatização recebe. Foi provocada, tem que tomar uma atitude”, completa.

Desonerar o Estado

“O que temos de entender aqui é que temos que desonerar o Estado e atender ao interesse público. Oferecer o máximo possível para que as pessoas possam estar com seu direito assegurado daquilo que a Constituição garante”, explica o vereador, antes de abrir para inscrições do plenário.

Ao falar sobre sua trajetória no Hospital São Camilo, onde trabalhou por 18 anos, Pollara indicou as instituições filantrópicas como uma segunda alternativa. “Por que eu falo do São Camilo? Porque eu tenho muito respeito pelos filantrópicos. São o melhor modelo de saúde que existe no Brasil. Responsáveis por 56% de atendimento SUS no Brasil”.

A maioria dos participantes criticou a proposta de gerenciamento pelo setor privado ou entidade filantrópica. Uma faixa “Contra o Desmonte do SUS” foi aberta no plenário e alguns manifestantes lembraram o fechamento de unidades da Santa Casa e de Assistência Médica Ambulatorial, AMA, geridas por OSSs.

Para Davi Gentilli, do coletivo Pompeia Sem Medo, o hospital tem que ser 100% público. “Já realizamos duas manifestações exigindo a reabertura do hospital, que está fechado tem 7 anos. E a visão que temos, dentro do Pompeia, é que esse hospital seja reaberto, gerido diretamente pela Prefeitura e atendendo 100% o SUS, atendendo a quem realmente necessita dos serviços de saúde”.

Controle público

Marina Capusso, moradora da Lapa, disse que é difícil avaliar uma proposta desconhecida.

“Me incomoda um discurso que parece que não há alternativa senão a saída privada. Quando a gente fica nesse discurso que não há orçamento, a gente precisa pensar que orçamento é disputa. Pra propaganda, o governo Dória tem bastante orçamento, a gente vê as notícias para onde que vai o dinheiro do contribuinte", lembra.

"Então não é verossímil que uma cidade como São Paulo venha dizer que não tem dinheiro para abrir um hospital com 100% de atendimento público. Acho aviltante que a gente escute uma proposta que diga que vai reabrir o Sorocabana – tudo bem que é a proposta do CIES, vão ter outras propostas – com 60% de atendimento público e 40% de atendimento privado, numa região em que não há um hospital público, um leito de internação público”, completa Marina.

Segundo a moradora e usuária do SUS, dos 400 equipamentos de saúde na Lapa, apenas 14 são públicos, conforme levantamento feito por moradores.

Histórico

Fundado em 1955, o Sorocabana já foi referência na Zona Oeste e tinha 156 leitos públicos.

Fechado há aproximadamente oito anos devido a dívidas e irregularidades, parte da unidade hospitalar foi entregue pelo Estado à prefeitura municipal em 2012, onde foi aberta uma AMA 24 horas, Assistência Médica Ambulatorial.

Em 2014, o hospital passa a abrigar uma unidade para exames, pequenas cirurgias e consultas especializadas da Rede Hora Certa.

Já em 2016, quando foi autorizado pelo Estado o uso do prédio pela Prefeitura por 20 anos, a gestão municipal instalou um Centro Especializado em Reabilitação (CER II Lapa), com capacidade para atender 490 pacientes. Cinco andares do prédio seguem abandonados.

Edição: Diego Sartorato