Ditadura no Brasil

“Execução de brasileiros era discutida como política pública", diz Pedro Dallari

Coordenador da extinta Comissão Nacional da Verdade afirma que participação do alto escalão militar é estarrecedora

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Em 2014, Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou relatório ao Governo Federal sobre atuação do Exército na Ditadura Militar
Em 2014, Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou relatório ao Governo Federal sobre atuação do Exército na Ditadura Militar - José Cruz/Agência Brasil

Ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o advogado e professor universitário Pedro Dallari afirmou, em entrevista aos jornalistas Anelize Moreira e Guilherme Henrique, durante o programa Revista Bdf, que os documentos revelados acerca da atuação das Forças Armadas na Ditadura Militar brasileira, ocorrida entre 1964 e 1985, são estarrecedores.

“O documento relata, com uma crueza enorme, um diálogo onde um presidente da República, o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e dois militares de alta patente discutem no gabinete presidencial o extermínio de brasileiros, como se discutisse políticas públicas, de saúde, educação, transporte, com a maior naturalidade. É impressionante!”, comentou Dallari.

Os documentos da CIA, Agência de Inteligência dos EUA, que apresentam a atuação do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) autorizando a execução de pessoas contrárias à ditadura militar estavam liberados desde janeiro. No último dia 10, o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Matias Spektor, divulgou os documentos.

Nesta terça-feira (15), os coordenadores da extinta CNV vão se reunir para discutir como os arquivos descobertos influenciam no trabalho de elucidar os crimes cometidos durante a ditadura. Para Pedro Dallari, o momento exige que novas investigações sejam realizadas.

"Há uma recomendação da CNV para que se crie uma "Comissão de Segmento". Quando a CNV foi extinta, deixamos a recomendação para a criação de um órgão que possa dar continuidade ao nosso trabalho. Isto não foi feito no Brasil, diferente do que ocorre em outros países. É importante que esse debate esteja, inclusive, na pauta dos candidatos à presidência da República, para que nossas atividades tenham continuidade", disse Pedro Dallari. 

 

Edição: Anelize Moreira