América Central

Nicarágua inicia diálogos de paz em meio a confrontos no país

Diálogos de Paz entre o presidente do país, Daniel Ortega, e representantes da sociedade iniciam nesta quarta-feira

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Participam como mediadores e testemunhas os bispos da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN)
Participam como mediadores e testemunhas os bispos da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) - Jairo Cajina/El19

A Nicarágua inicia os Diálogos de Paz entre o presidente do país, Daniel Ortega, e representantes da sociedade civil nesta quarta-feira (16), com o objetivo de avançar na construção da estabilidade social no país. A mesa foi instalada após diversos protestos contra a reforma da previdência proposta pelo governo, e que resultaram em um conflito que já dura quase um mês.

Os protestos culminaram na morte de pelo menos onze pessoas, segundo os dados oficiais do governo, e mais de 50 pessoas, segundo dados não-oficiais. Entre as vítimas, registram-se baixas de pessoas a favor e contra a reforma. No curso das manifestações, a pauta foi se alterando e de contrária à medida, atualmente é pela renúncia imediata de Daniel Ortega. 

No comunicado oficial anterior à mesa de diálogo, o presidente da Conferência Episcopal, Leopoldo Brenes, convocou “todos os setores que, em respeito ao diálogo nacional, se esforcem para manter um ambiente de respeito, sobretudo quando aconteçam manifestações pacíficas”. Ele afirmou ainda que espera que as propostas de diversos setores possam ser revertidas em fatos concretos que contribuam para a estabilidade do país.

Já o sacerdote Sadiel Eugarrio, que também participa do diálogo, declarou à imprensa: “As pessoas estão protestando, mas precisamos também intermediar para que não haja derramamento de sangue. É o que pede a Igreja. O protesto tem que ser pacífico, mas sem agressão, é o que sempre se pede”.

Na abertura do Diálogo Nacional, que ocorreu pela manhã no seminário de Nossa Senhora de Fátima, na capital do país, Manágua, o presidente Ortega afirmou que “hoje, a Nicarágua que crescia, que atraía investimentos, que respirava tranquilidade e paz, essa Nicarágua está profundamente ferida”.

“A todos nós nos doem as mortes. O sangue não tem diferença, em todos nós corre o mesmo sangue e a todos nós nos dói a morte de um irmão”, acrescentou. Ele afirmou ainda que a polícia tem ordens expressas de não disparar e que resiste até o último momento para agir.
Ao discursar, o presidente foi interrompido diversas vezes por gritos de "chega de repressão" e "assassino" por parte de representantes dos estudantes que participam das negociações.

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Protestos seguem após revogação da reforma

Para evitar mais mortes e reestabelecer a tranquilidade, no dia 22 de abril o presidente Daniel Ortega revogou a lei e fez um chamado ao diálogo nacional pela paz. Mesmo após a revogação do decreto, o país continua enfrentando uma série de protestos em diversos municípios.

Segundo o jornal El Nuevo Diario, o principal foco dos enfrentamentos ocorre na cidade de Sébaco, no estado de Matagalpa, próximo à capital. A população tem denunciado ataques com armas de fogo e a Polícia Nacional também indica que oficiais foram feridos com balas durante os conflitos.

Em outros municípios, como Masaya, aconteceram, nesta semana, diversos trancamentos e saques a estabelecimentos comerciais, reprimidos pelo governo do país.

Diante do atual cenário, além da convocação dos diálogos de paz, o presidente nicaraguense autorizou também a visita de uma missão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para “observar a situação dos direitos humanos no país”, como informou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).

A entrada da CIDH no país foi uma das principais exigências da Igreja Católica para iniciar a mesa de diálogo e encontrar uma saída para a crise instaurada no país, exacerbada após a repressão do governo na cidade de Masaya que, segundo informações do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH), causou a morte de uma pessoa e deixou dezenas de feridos.

Representantes de diversos setores, entre eles, estudantes, empresários e camponeses, participam do diálogo nacional e exigem que o governo suspenda o uso das tropas de choque e da Polícia Nacional nos confrontos com a população, além de “toda a repressão contra grupos civis que protestam pacificamente e assegurem a integridade física dos estudantes que participam dos protestos”.

Edição: Vivian Neves Fernandes