ARTIGO

Artigo | Quais serão os impactos do “novo" ensino médio na educação brasileira?

O olhar neoconservador e liberal do governo golpista de Michael Temer não se preocupa com qualidade

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Cerimônia de Sanção da Lei do Novo Ensino Médio
Cerimônia de Sanção da Lei do Novo Ensino Médio - Antônio Cruz/Agência Brasil

A partir de 2019, as escolas públicas no Brasil passam a organizar sua estrutura educacional e pedagógica referente ao chamado de “novo” ensino médio. Porem algumas questões sobre o mesmo não são claramente detalhadas nos diversos espaços informativos sobre a construção do projeto, a proposta e seus possíveis impactos na educação brasileira.

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É importante entender que a proposta veio paralela a construção democrática realizada pelo Plano Nacional de Educação PNE. A proposta foi organizada dentro da administração pública no período do golpe imposto ao país alterando a Lei de Diretrizes de Base da Educação LDB apresentada para a sociedade em 1996, em especial com prefácio do então parlamentar e educador brasileiro Darcy Ribeiro.

É evidente que todo este arcabouço legal demonstra desencontro com a democracia, mas a propaganda sobre o “novo” ensino médio já se desvincula da antiga LDB, como os valores democráticos e constituídos desde a sua base social até a gestão educacional. O ar avançado e tecnológico, a necessidade de trazer para a educação os paradigmas da modernidade aos estudantes são equivocados quanto à realidade brasileira.


Sobre a proposta orientar que 40% dos conteúdos possam ser distância na modalidade EaD, ou mesmo para a Educação de Jovens e Adultos, sendo possível 100% do conteúdo à distância, ignora que aproximadamente 40% da população brasileira não tem acesso à internet. De acordo as pesquisas do IBGE, 37,8% não sabiam usar ou ter acesso a internet em casa e não tinham interesse (37,6%), abrangendo 63,35 milhões de pessoas que não usavam a internet. O acesso é ainda mais restrito nos municípios de pequeno porte demográfico e também as regiões mais pobres das grandes cidades.


A contradição está em especial no conteúdo, que pode ser o que é chamado na reforma como facultativo, como a filosofia, sociologia ou mesmo história, biologia e geografia. Estes são em sua grande parte disciplinas curriculares que estão ligadas aos trabalhos em grupo, diálogo com a coletividade e a leitura crítica da realidade.


O que teremos para o ensino médio, de acordo com a página do Ministério da Educação MEC é uma cobrança das atividades de Língua Portuguesa e Matemática, que de forma isolada não dão conta por si da formação humana.


É importante também ressaltar que o governo federal anuncia a possibilidade de aumento da educação em tempo integral, mas na leitura da lei que dispõe sobre o “novo” ensino médio o tempo integral está vinculado ao EaD e atividades complementares que em parte são voltadas ao mercado de trabalho (num país de 14 milhões de desempregados) ou mesmo na Escola (a mesma que pós PEC95 não receberá um aumento significativo de recursos públicos até 2036).

Uma outra questão sobre o novo ensino médio é a precarização do trabalhador da educação. Para a grande maioria das atividades ou disciplinas os profissionais não precisam estar habilitados, trazendo uma desprofissionalização da educação brasileira. A fragilidade e possibilidades formativas passam pela valorização das/os profissionais que estão ministrando as aulas. Contudo o olhar neoconservador e liberal do governo golpista de Michael Temer não se preocupa com esta qualidade.


O impacto na sociedade através do sucateamento da educação brasileira será a construção de uma sociedade cada vez mais consumista, intolerante e meritocratica.
É momento de lutar e resistir, como ensina Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.


Leonardo Koury Martins é assistente social, professor e militante da Frente Brasil Popular.
 

Edição: Joana Tavares