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Mostra de cinema Africano debate a invisibilidade das produções audiovisuais

As realizadoras afirmam que o cinema Africano tem o mesmo problema do cinema brasileiro independente.

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O propósito do Baobácine é de se tornar permanente entre os festivais que já existem na cidade pernambucana anualmente
O propósito do Baobácine é de se tornar permanente entre os festivais que já existem na cidade pernambucana anualmente - Divulgação

Acontece de 23 a 26 de maio, no Recife, o Baobácine, uma mostra de filmes africanos que promete entrar no calendário anual de festivais de cinema recifenses, como forma de minimizar este desequilíbrio.

O cinema chegou no continente africano junto à colonização do século XIX. Logo quando é inventada, na Europa, as projeções já chegam no continente africano, como uma ferramenta dos colonizadores europeus. Até meados do século XX os filmes eram feitos para construir uma imagem do que os europeus acreditavam que era a África, com estereótipos negativos, bem próximos à selvageria. Isso desenhava uma incapacidade intelectual e de civilização, para mostrar à Europa essa imagem, desse continente, que precisava da presença europeia para legitimar e levar a civilização, a ordem e o desenvolvimento. 

Foi somente depois de quase 60 anos, com o movimento de descolonização, que os africanos começaram a produzir seus filmes. "O primeiro filme feito nesse contexto é um filme que está no segundo dia do Baobácine, considerado os pioneiros, que é o 'África sobre o Sena', de Mamadou Sarr e Paulin Vieyra. É a história de um grupo de estudantes de cinema do Senegal, que estão em Paris, e fazem um filme sobre os estudantes africanos na Europa. É o marco”, conta Janaína Oliveira, coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI), do Fórum Itinerante de Cinema Negro (FINE) e curadora da Mostra.

 Atualmente, fica na Nigéria a terceira maior indústria de produção de cinema do mundo, conhecida como Nollywood, ficando atrás apenas de Hollywood, nos Estados Unidos e Bollywood, na Índia. Janaína ressalta que a continuada “invisibilidade dessas produções africanas tem a ver com o fato do cinema ser uma arte historicamente hegemônica, do ocidente, que mesmo sendo criado na Europa, foi nos Estados Unidos, em Hollywood, que se consolida e estabelece modelos narrativos, técnicos e sistemáticos”, diz. 

Para tentar equacionar um pouco mais essa falta de acesso aos filmes Africanos, as mulheres que compõem o Cineclube Fazendo Milagres, tiveram a ideia da Amostra de cinema africano, Baobácine, que traz para Recife filmes pioneiros e contemporâneos de toda África.  “Embora no âmbito de pesquisa já se tem um certo interesse por ele, mas para o grande público que ainda não conhece os filmes. Uma coisa é você trabalhar com filmes neste perfil em atividades mais pontuais, como a própria sessão de cineclube ou um debate que você promove, mas, levar esses filmes para um cinema onde qualquer pessoa pode ir assisti-los é um outro tipo de iniciativa. A ideia é tentar oportunizar que esses filmes sejam acessados por um maior número de pessoas”, conta Ludimilla Carvalho, produtora-executiva da amostra.

A circulação dos filmes produzidos em Nollywood, por exemplo, acontece por VOD, que é o filme sob demanda (maioria no YouTube), que podem também ser comprados na internet. Mas, vão pouco para as salas comerciais de cinema e outros têm sua vida restrita aos festivais e mostras.   

O propósito do Baobácine é de se tornar permanente entre os festivais que já existem na cidade pernambucana, anualmente, principalmente pela necessidade de fomento, tanto quanto os filmes brasileiros. “A dificuldade do cinema africano é como a dificuldade que o cinema independente tem de estar restrito aos circuitos de festivais ou espaços alternativos de exibição, mas, conseguir chegar ao grande público mesmo, esse é o grande desafio do cinema africano, como também do cinema brasileiro independente”, ressalta. 

Edição: Monyse Ravenna