Mobilização

Greve dos caminhoneiros: medidas do governo são "puxadinho", diz Eugênio Aragão

Ex-ministro avalia que a política de reajustes diários dos preços de combustíveis não é sustentável

Brasil de Fato | São Paulo |

Ouça o áudio:

Ex-ministro do governo Dilma, Eugênio Aragão concedeu entrevista à Rádio Brasil de Fato
Ex-ministro do governo Dilma, Eugênio Aragão concedeu entrevista à Rádio Brasil de Fato - Lula Marques/Agência PT

As medidas anunciadas pelo governo Temer para conter a greve dos caminhoneiros, que provoca desabastecimentos de produtos em todo o país, são um “puxadinho” para ganhar tempo. Esta é a avaliação do ex-ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff (PT), Eugênio Aragão.

O jurista avalia que a nova política de preços da Petrobras, que permite reajustes diários de acordo com o mercado internacional, não é sustentável. Para ele, o governo Temer já percebeu isso, mas remodelar esta política demanda tempo e muita negociação, o que não pode ser feito em meio a uma greve tão grande.

Aragão também falou, em entrevista à Rádio Brasil de Fato, que uma boa parcela dos caminhoneiros trabalham como autônomos e os atuais valores de frete não estão absorvendo os custos fixos, como manutenção e financiamento do caminhão, e os custos variáveis, como o combustível e os pedágios em constante aumento.

Confira:

Brasil de Fato -- Como interpretar as medidas anunciadas pelo governo Temer neste domingo?
Eugênio Aragão --
Na verdade, estas medidas dele foram um puxadinho para ganhar tempo. Certamente, ele verificou que a receita do [presidente da Petrobras Pedro] Parente, de liberar os custos, de aumentar o lucro de quem exporta para o Brasil, é um modelo que não é sustentável. Reformular o modelo é algo que demanda uma maior negociação. E isso não se faz na base da pressão da greve, de uma hora pra outra. Então, ele está querendo ganhar alguns dias para articular as negociações com os setores.

O que acredita que deve ocorrer com a mobilização nos próximos dias?
Um dos aspectos marcantes desta greve é que ela tem um altíssimo grau de espontaneidade, isso significa que é muito difícil negociar porque são “N” grupos, cada um com uma visão diferenciada do problema. A uma dispersão no plano nacional. O que nós temos é um fenômeno muito claro. São em torno de 40 por cento dos trasportadores hoje que são individuais. E eles estão com a corda no pescoço. É muito diferente das empresas que possuem capital de giro, faturam antecipadamente, tem outros mecanismos para compensar perdas.

Quem não tem capital, ou seja, aquele motorista que comprou seu caminhão na base do financiamento, precisa do frete e precisa que este frete tenha um valor tal que compense os gastos fixos e variáveis dele, e isso está cada dia mais complicado porque existem gastos variáveis como o combustível subindo, assim como os pedágios, enquanto ele (caminhoneiro) tem seus custos fixos de manutenção e prestação, financiamento do caminhão. Esses custos não estão sendo absorvidos. Só lembrando que para trocar pneus de um caminhão, o que é necessário fazer uma vez por ano, é uma fortuna. É uma situação crônica. E eles não são sindicalizados. Tudo isso dificulta, enormemente, a negociação. O que a gente está vendo de uns dias para cá é uma elevadíssima politização do setor.

A greve programada dos petroleiros pode se somar a uma mobilização cada vez maior?
Essa articulação dos petroleiros com os caminhoneiros é importantíssima porque com a tendência do Parente de ter substituído o combustível refinado no Brasil pelo combustível refinado no exterior os efeitos para a economia de uma greve dos petroleiros seriam mais demorados, se não houvesse também uma articulação com os caminhoneiros. Isso, certamente, vai incrementar este caldo politico que estamos vivendo e, por trás disso tudo, temos um governo ilegítimo, com medidas impopulares, e isso, aos poucos, está sendo percebido pelas pessoas.

Edição: Diego Sartorato