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Conjuntura

Danny Glover: "Falta de legitimidade de Temer agrava a crise no Brasil"

Ator e embaixador da ONU esteve no Rio de Janeiro para reunião com Comissão Popular da Verdade

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Embaixador da ONU participou de encontro na Rocinha e se reuniu com governador Pezão
Embaixador da ONU participou de encontro na Rocinha e se reuniu com governador Pezão - Eduardo Miranda

O embaixador da ONU (Organização das Nações Unidas) para direitos humanos e populações negras, Danny Glover, conversou com o Brasil de Fato sobre violações nas periferias do Rio de Janeiro, o processo de crise pelo qual passa o país e a prisão do ex-presidente Lula. O ator estadunidense veio ao Rio para ouvir denúncias da Comissão Popular da Verdade e de moradores de comunidades sobre a intervenção militar federal no estado. 

Brasil de Fato: O que pode ser feito pelas populações negras e mais vulneráveis, com base em sua visita ao Rio de Janeiro?

Danny Glover: Há muito a ser feito e não podemos trivializar esse momento pelo qual estamos passando, sobretudo em face de um governo como o de Michel Temer. Muita coisa pode ser feita e não há como ser tímido na resolução de tudo o que está acontecendo, dos problemas.

Houve alguma resposta concreta do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, a partir da audiência que o senhor teve com ele? 

A questão, com qualquer representante eleito, e isso vale também para os representantes eleitos desse país, é se há ou não a vontade política. 

Há sempre uma questão com relação a como os recursos são alocados. Ou esses recursos estão sendo alocados em prol daqueles mais marginalizados, mais carentes, ou estão sendo desviados e indo para outras pessoas que não têm tanta necessidade. Sempre paira essa interrogação. 

Se prestarmos atenção, por exemplo, aos movimentos sociais do país, eles têm pouquíssimos recursos, mas em seus trabalhos juntos aos cidadãos podem conseguem grandes benefícios. São casos de pequenos recursos que vão longe. 

Você mede os resultados em termos do empoderamento dos cidadãos, porque são esses os empoderados a decidirem sobre os seus próprios destinos, decidir o que é importante para suas vidas. É assim que a gente vê os resultados de ações como essas. 

Não dá para moldar o que acontece do lado de fora. Se você está fora, você não pode moldar o que você acha que deve acontecer. A mudança tem que vir daqueles que estão e cujo problema lhe diz respeito. Esse é um imperativo, o de que eles sejam os mestres de seus próprios destinos. 

Qual foi o impacto de chegar a um país com uma grande crise de abastecimento de combustível e nos supermercados e com um governo que não tem legitimidade? 

A crise não está nas pessoas, ela está no sistema, é um sistema inteiro que está em crise, com sua enorme tentativa de privatizar tudo. Não é apenas uma nação ou as pessoas.  

A crise é piorada ainda mais por causa da ilegitimidade do governo. A falta dessa legitimidade que aprofunda a crise do governo de Michel Temer. 

Como o senhor avalia a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

Inquestionavelmente, essa é uma tentativa de acabar com a esperança e de deslegitimar um governo que fez tanto pelos pobres, tanto o governo do ex-presidente Lula quanto o governo de Dilma Rousseff. Eu não tenho dúvidas de que essa é uma prisão política. 

Meu caro presidente, meu caro amigo, estou fazendo todos os pedidos para que você seja libertado. Lula Livre! Lula Livre! Lula Livre!

Edição: Jaqueline Deister