Economia

PIB pífio e desemprego desmentem propaganda do governo Temer

Os índices econômicos não permitem a conclusão de que o país retomou seu desenvolvimento nos últimos dois anos

Brasil da Fato | Brasília (DF) |

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No primeiro trimestre de 2018, Brasil ficou na 40ª posição de crescimento do PIB entre 43 países
No primeiro trimestre de 2018, Brasil ficou na 40ª posição de crescimento do PIB entre 43 países - Lula Marques/Agência PT

“Dois anos: no fundo, você sabe que melhorou”. Este é o mote da última campanha publicitária do Palácio do Planalto, fazendo referência ao período de tempo em que Michel Temer (MDB) está na Presidência da República. Nas peças de propaganda, o governo se ampara em dados que demonstrariam a retomada do crescimento.

Para Paulo Kliass, doutor em Economia e especialista em políticas públicas e gestão governamental, os índices econômicos não permitem a conclusão de que o país retomou seu desenvolvimento.

“O país está completamente à deriva. É um desgoverno. Existe um desespero dos grandes meios de comunicação em tentar dourar a pílula de um fracasso que se anunciava a cada semana. 'O Brasil deixou de piorar'. A gente passou em 2016 e 2017 pela pior recessão já registrada. Obviamente, nenhum país fica indefinidamente em recessão. Cresceu um pouco, mas continua se tendo um modelo basicamente pautado no agronegócio. A indústria ainda não retomou sua capacidade de investimento. Basta ver a questão do emprego. É um cifra alarmante: 14 milhões”, diz o economista.

Segundo os mais recentes dados divulgados pelo IBGE, no primeiro trimestre de 2018, o país atingiu o menor número de trabalhadores registrados desde 2012, ano em que a série foi iniciada: 32,913 milhões. O auge do número de pessoas com carteira assinada foi 2014, com 36,88 milhões de vagas. Até setembro de 2017, a cada 10 empregos gerados, 7 eram informais. Naquele mesmo ano, viu-se uma inversão histórica e os sem carteira superaram os formais. 2017 se encerrou com 34,31 milhões de pessoas trabalhando sem carteira, contra 33,321 empregados em vagas formais. Além disso, somando os trabalhadores subutilizados e desempregados, chega-se a 28 milhões de pessoas.

"O povo não cabe no orçamento"

De outro lado, o crescimento do PIB em 2017 (0,98%) só foi maior do que nos dois anos anteriores, durante a recessão, e do resultado de 2009, no qual houve uma leve queda de 0,13%. De qualquer forma, um número abaixo da média dos anos com o PT no governo (2,9% ao ano) e ainda mais distante da variação máxima, ocorrida em 2010, quando houve crescimento de 7,53% do PIB. No primeiro trimestre de 2018, segundo a consultoria Austing Ratings, o Brasil ficou na 40ª colocação de crescimento do PIB em uma lista de 43 países. 

Kliass ressalta que os caminhos traçados pela gestão Temer, ao diminuir a capacidade de investimento do Estado, comprometem o desenvolvimento econômico do país nos próximos anos e talvez até na próxima década. Neste aspecto, foi fundamental a aprovação da Emenda Constitucional 95, que congela gastos primários em áreas como saúde e educação.

Nesta última área, por exemplo, os efeitos da política ultra-liberal de Temer já são sentidos. Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, lembra que o discurso governamental criou a ideia de que a “Constituição não cabe no orçamento público. Ou seja, de que o povo não cabe”.

“Na área de educação, é possível afirmar que o governo Temer retrocedeu 30 anos em dois. O Brasil vinha cumprindo, desde a Constituição de 88, com a tarefa de expansão de matrículas, que foi praticamente paralisada no governo dele”, afirma. 

Cara faz referência a outro mote do governo, abandonado por sua ambiguidade: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Na educação, o orçamento brasileiro não é aumentado desde 2014 o que significa, devido à inflação, que vem diminuindo anualmente, o que explica a não expansão de vagas em nível federal mencionada. 

Edição: Juca Guimarães