Esporte

Por que o interesse pela Copa caiu? Humor dos torcedores pode mudar com vitórias

Fatores internos ao próprio futebol pesam na perda de identidade entre torcida e Seleção

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Segundo DataFolha, 53% da população demonstra desinteresse por Copa na Rússia
Segundo DataFolha, 53% da população demonstra desinteresse por Copa na Rússia - Marcelo Casall/Agência Brasil

A maioria da população brasileira está desinteressada na Copa do Mundo, segundo pesquisa do instituto Datafolha divulgada às vésperas do início do torneio, nesta quinta-feira (14).

Entre os entrevistados, 53% disseram não estar interessados na Copa, maior percentual desde 1994, quando essa pesquisa foi iniciada, e primeira vez que a maioria dos respondentes diz não estar envolvida com o maior evento futebolístico do mundo.

Para entender esse fenômeno, o Brasil de Fato ouviu fontes ligadas ao universo do futebol. E a resposta parece estar no próprio esporte.  

Francisco Malfitani, jornalista, publicitário e fundador da Gaviões da Fiel, entende que há um desânimo geral incentivado pela mídia desde 2013, às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, com o intuito original de desgastar os governos petistas. Ainda assim, ele acredita que há distinção entre governo e representação simbólica do país. 

“Tudo que a gente faz é político. Mas, a população brasileira separa bem o futebol da política [institucional]. Não vai ter nenhuma influência o Brasil ganhar ou perder a Copa para a situação ou a oposição ganhar a eleição. O Lula está preso e vai torcer para o Brasil”, afirma, com humor. 

O desinteresse pela Copa, segundo Malfitani, tem uma condição para acabar: “Basta a Seleção começar a ganhar que todo mundo se empolga”.

Irlan Simões, autor do livro "Clientes versus Rebeldes: Novas culturas torcedoras nas arenas do futebol moderno” e mestre em Comunicação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), relativiza a representatividade de pesquisas quantitativas tais como as feitas pelo Datafolha. Além disso, vê fatores internos ao próprio futebol para esse distanciamento.

“Primeiro, pesquisas sobre interesse em futebol devem ser feitas com quem gosta de futebol. Há uma tendência no Brasil de fazer pesquisa com quem não gosta, não vive a cultura torcedora, não aprecia nem como produto, nem como costume. Pesquisa sobre futebol, via de regra, distorce muito a realidade. Existem pesquisadores que avaliam que há um bom tempo que a 'pátria de chuteiras' calça chuteiras cada vez menores. A identidade com o futebol vai se desgastando e tem diversos fatores, como mudanças geracionais, identidade baixa com os integrantes da Seleção, já que muitos deles nunca jogaram no Brasil”, diz.

Esse desgaste, segundo Simões, não é novo, principalmente o causado pela ida de jogadores à Europa. Ele destaca ainda que as pesquisas acadêmicas tem apontado uma ”dificuldade cada vez maior” de “instrumentalizar politicamente” os resultados em Copas, citando a incongruência entre os resultados da Seleção nas últimas Copas e o desempenho eleitoral da situação ou da oposição nos últimos pleitos presidenciais.

Edição: Diego Sartorato