Minas Gerais

Fake News

Agências de checagem de notícias falsas têm ligação com mídia comercial

Organizações são privadas e podem ter interesses políticos, defendem comunicadores

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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A rotulagem de notícias também gerou um grande debate sobre censura nas redes sociais
A rotulagem de notícias também gerou um grande debate sobre censura nas redes sociais - Reprodução

Você já ouviu falar sobre fake news? Sabe do que se trata? Em português a expressão significa notícias falsas. O termo é usado para denominar boatos, principalmente aqueles que são espalhados na internet. As fake news ficaram popularmente conhecidas após os escândalos envolvendo o uso de robôs propagadores de notícias falsas em redes sociais durante a campanha presidencial dos Estados Unidos, em 2016. 
A partir daí explodiram no cenário virtual as chamadas agências de checagem de notícias. Essas entidades são, em sua maioria, empresas privadas, vinculadas a grandes meios comerciais de comunicação. Essas páginas se intitulam como verificadores de notícias, classificando as informações como: falsas, verdadeiras ou duvidosas.
Para a coordenadora estadual do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação - FNDC, Florence Poznanski, um dos problemas das agências de checagem de notícias é que elas suprimem o pensamento crítico das pessoas. “É como se o cidadão, que até agora tem sua autonomia de pensar, analisar e interpretar as informações, passasse a delegar essa tarefa a um grupo externo, que pode inclusive ter influências políticas”, afirma.
Neste ano, o facebook fechou parceria com essas agências, para classificar as notícias postadas na rede social. Essa classificação foi o que gerou polêmica na última semana, quando as agências contratadas pelo Facebook, rotularam como ‘falsa’ uma informação publicada por veículos alternativos de comunicação. A notícia falava sobre a tentativa frustrada de visita de um dos coordenadores do encontro mundial dos movimentos populares em diálogo com o Papa Francisco, o argentino Juan Grabois, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
Agências de checagem erram sobre envio de rosário a Lula por Papa Francisco
Na saída da Polícia Federal em Curitiba, Grabois criticou a postura das autoridades brasileiras, que o impediram de entregar ao ex-presidente um terço abençoado pelo Papa. Inicialmente, a página Vatican News, agência de notícias mantida pela Secretaria de Comunicação da Santa Sé, publicou uma nota negando que o objeto religioso levado por Grabois havia sido enviado pelo papa. Imediatamente, as agências de checagem enviaram uma notificação para os usuários do Facebook, informando que aquela notícia compartilhada se tratava de uma fake news. O fato repercutiu em diversos meios e virou a bola da vez. No entanto, não demorou muito para que o próprio Vatican News apagasse a primeira nota e publicasse um outro texto, no qual confirmava a relação de Grabois com o Papa e o envio do rosário. 
Para o jornalista João Paulo Cunha, a escolha das agências sobre quais conteúdos verificar e a quais fatos dar mais visibilidade evidencia o interesse político por trás dessas checagens. “A fake news parece a princípio meramente técnica, um mal fazer jornalístico, uma notícia mal apurada que não foi devidamente checada pelo jornalista. No entanto, existe um projeto político por trás da checagem das fake news, que é a ideia de tentar naturalizar a imprensa comercial, tradicional e hegemônica como a única capaz de fazer de fato jornalismo”.
A Agência Lupa, uma das agências parceiras do Facebook, publicou uma retificação sobre a classificação da notícia e trocou a rotulagem da informação de “falsa” para “de olho”. No entanto, a reparação não teve a mesma audiência como a primeira classificação e também não apareceu como notificação para os usuários do Facebook. Outras agências, no entanto, sequer retificaram o erro e continuam mantendo a notícia como falsa. 
 

Edição: Joana Tavares