Repúdio

MST acusa IstoÉ de "criar mentiras" para criminalizar o movimento

Revista acusa o movimento de se beneficiar de legislação contra a qual protesta

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Para movimento, reportagem não tem sustentação "jornalística, jurídica ou política"
Para movimento, reportagem não tem sustentação "jornalística, jurídica ou política" - MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota pública em que condena a reportagem “A corrupção por trás das invasões do MST”, publicada na última edição da revista IstoÉ, desta sexta-feira (22).

Assinada pelo jornalista Ary Filgueira, a publicação descreve a suposta existência de um "perigoso conluio" entre fazendeiros, o MST e o senador Romero Jucá (MDB).

Segundo o texto da revista, o projeto da Medida Provisória (MP) 759, editada por Jucá e convertida em lei em 2017, seria o "facilitador" de um esquema de invasões de propriedades que teriam sido feitas pelo movimento para, posteriormente, serem arregimentadas por empreiteiras, fazendeiros e políticos.

Marco Antônio Baratto, integrante da direção nacional do MST, afirma que a reportagem visa tensionar a opinião pública para enquadrar o movimento como organização criminosa.

Baratto afirma que a publicação tem o efeito de convencer "leigos" e não tem sustentação "jornalística, jurídica ou política". "Quem conhece um pouco de política já constata a fragilidade da notícia", pontua o dirigente.

Jucá e o MST têm bandeiras diametralmente opostas em temas como o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e projetos de lei pautados pela bancada ruralista, da qual o senador faz parte.

Na nota, o movimento desmentiu que o assentamento Barreirinha, localizado no Distrito Federal, tenha vínculo com o MST. Além disso, a entidade pontuou que foi contrária à MP 759 durante toda sua tramitação. 

"Na nossa avaliação, com [a MP], colocada como regularização fundiária, o agronegócio vai concentrar terras dentro dos assentamentos e em áreas próximas e torná-las passível de ser propriedade privada. Os pequenos agricultores, mais pobres, vão perder créditos e todo o tipo de verba do governo, e vão vender a terra", explicou o dirigente.

Para o dirigente do MST, a reportagem poderia ser classificada como fake news, termo em inglês utilizado para a propagação de notícias falsas.

"Como é uma revista de distribuição nacional, de muitos anos, ela pinta como uma informação verdadeira, assim como os grandes meios de comunicação. Ela não deixa de ser uma fábrica de notícias falsas, a partir do interesse com a qual ela quer representar. Então, essa matéria coloca bem isso para nós."

O MST avalia que providências jurídicas poderão ser tomadas e caracterizou como "um absurdo" que empresas de comunicação, mais uma vez, tenham acesso a inquéritos sigilosos que correm na Justiça antes mesmo que os investigados citados.

Direito de resposta 

Em 2016, a Justiça Cível de Brasília concedeu direito de resposta presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) em um processo contra a mesma revista. 

A ação movida pela Advocacia-Geral da União (AGU) contra a IstoÉ referia-se à edição de 1º de abril de 2016, cuja capa trazia a reportagem “Uma presidente fora de si”.

Na mesma publicação, o editorial “Hora da xepa no Planalto” afirmou que a ex-presidenta teria transformado o Planalto “numa casa de tolerância” e que “a mandatária já havia transferido informalmente suas funções ao padrinho investigado Lula”.

Edição: Diego Sartorato