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CRÔNICA | A Copa e um povo que insiste em ser feliz

Como num grande carnaval, cheio de fantasias, música, festa, dança, mas sobretudo embandeirados dos símbolos nacionais

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Os dias difíceis em tempos de golpe não nos tiraram a esperança
Os dias difíceis em tempos de golpe não nos tiraram a esperança - Diva Braga

Hoje eu assisti ao jogo da copa “Brasil e Sérvia”, mas não posso comentar nenhum lance dos jogadores em campo, por outro lado assisti a incríveis cenas e lances, do grande campo dos torcedores. Mesmo num raro dia cinza e chuvoso, me animei a dar um giro e ver onde estão os torcedores do centro do Recife.
A Rua da Saudade, conhecida como rua do espetinho, parece uma pintura; calçadas e prédios emolduram o cenário: no céu bandeirolas verde amarelas, no chão uma grande bandeira do Brasil e a mensagem “Rumo ao Hexa” e um samba de perder o juízo revelam a empolgação, que não se expressa no número de pessoas maior que o de sempre. Estavam ali os mesmos trabalhadores do comércio, moradores da região que costumeiramente se encontram depois de um dia de trabalho. Mas dessa vez todos vestem verde amarelo e o trabalho acabou mais cedo. Mais um motivo para comemorar.
A minha segunda parada foi no Mercado da Boa Vista - bares lotados, amigos, colegas de boteco, famílias inteiras (adultos, crianças, velhos) e ilustres desconhecidos te oferecem uma cerveja e uma única cadeira que sobrou. Todos torcem e desfilam fantasias, adereços, maquiagens, camisas da seleção e roupas customizadas de verde e amarelo. É o mesmo público de sempre, só que dessa vez, vestindo a camisa e torcendo pelo Brasil entre uma cerveja e outra.  
Fim do primeiro tempo, segui meu caminho para o Recife Antigo. No largo da Santa cruz, o bar Lisbela garantiu tenda e TV para torcedores mais tranquilos. Na rua Rosário da Boa Vista uma tenda reunia amigos com música e churrasco, na rua da Palma trabalhadores da limpeza urbana aproveitaram uma pequena televisão de um quiosque para não perder o jogo. Afora isso, bares vazios, lojas com portas fechadas ou semiabertas com funcionários confraternizando e assistindo ao jogo. As poucas pessoas que passavam vinham num outro ritmo, meio silencioso e tímido que, como eu, pareciam procurar. Cadê a Copa? Onde está aquela euforia e animação de outros anos?

Quanto mais me aproximava do Recife Antigo, mais o silêncio foi dando lugar a uma música. Estavam todos embandeirados, para onde iam? Chegando na Praça da Independência, alguma coisa mudou, percebi que as pessoas que vinham pelo caminho tinham uma direção, e vão aumentando, descem dos ônibus grupos inteiros arrastando pelas ruas o verde e amarelo mais barulhento, menos tímido. De todas as ruas vão chegando grupos uniformizados, pontos de ônibus se transformam em espaço de concentração com direito a TV, cervejas e espetinhos baratos. Dali até o Cais da Alfândega um rio de gente toma as ruas, ocupa a ponte até o outro lado, chegando na rua da Moeda até quase o Marco Zero.
Dali em adiante entendi que a festa popular da Copa tinha hora e local combinado. Por isso nas ruas vazias, as pessoas estavam todas juntas, nas suas casas, nos pontos de encontro de suas vidas cotidianas ou ali, no Recife Antigo. Como num grande carnaval, cheio de fantasias, música, festa, dança, mas sobretudo embandeirados dos símbolos nacionais e orgulhosos de ser brasileiros. Debaixo de chuva, uma enorme quantidade de pessoas torceu pelo Brasil, vibraram e se emocionaram com a vitória de 2 a 0 dizendo de alguma forma que os dias difíceis em tempos de golpe não nos tiraram a esperança, que somos um povo que insiste em ser feliz!   
*Diva Braga é publicitária, diagramadora do Brasil de Fato Pernambuco e militante da Consulta Popular.
 

Edição: Catarina de Angola