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Repórter SUS | Queda nas coberturas vacinais

Akira Homma, cientista da Fiocruz, defende a busca de novas estratégias para imunizar a população

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O Programa Nacional de Imunizações começou com o sucesso da erradicação da Varíola no País, no início dos anos 1970
O Programa Nacional de Imunizações começou com o sucesso da erradicação da Varíola no País, no início dos anos 1970 - Fiocruz
Akira Homma, cientista da Fiocruz, defende a busca de novas estratégias para imunizar a população

No Repórter SUS desta semana, o cientista e epidemiologista, Akira Homma, reconhecido internacionalmente por sua contribuição ao desenvolvimento de vacinas, conta um pouco da história de como o País ampliou o Programa Nacional de Imunizações, e demonstra preocupação com a queda da cobertura vacinal.

Segundo Akira, presidente do Conselho Político e Estratégico do Instituto de Tecnologia Imunobiológicos (Biomanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as populações estariam suscetíveis a doenças por não se sentirem ameaçadas e não buscarem a proteção. Na entrevista, abaixo, ele defende a utilização de tecnologias mais modernas para o mapeamento e mobilização da população não vacinada. "É preciso mostrar que é absolutamente importante vacinar-se", defende. Confira:

 

O Programa Nacional de Imunizações teve como base o sucesso da erradicação da Varíola no País, no início de 1970. Em 1970, 1971 nós conseguimos erradicar e, globalmente, foi considerada erradicada no Brasil. Produzimos aqui no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz mais de 200 milhões de doses da vacina contra a Varíola, utilizadas na campanha de erradicação.

Como resultado desse sucesso, os grupos que estavam dedicados, que participaram desse trabalho de erradicação, resolveram propor e conseguiram criar o Programa Nacional de Imunizações, em 1973, apenas com seis vacinas.

Sarampo

Em 1980, implantamos a produção nacional de vacina contra o sarampo. Essa produção foi fundamental para nós conseguirmos eliminar o Sarampo do País.

Introduzimos também a produção da vacina contra a Poliomielite e participamos, de forma absurdamente decisiva, na eliminação dessa virose do Brasil. Porém, lá no Nordeste ainda aconteciam alguns casos de Poliomielite Tipo III.

A vacina tem três tipos de vírus e o Ministério da Saúde procurou no mundo algum laboratório que pudesse formular e entregar uma formulação para o tipo III. Não conseguiu. Levava de seis a oito meses pra entregar. Então, o Ministério da Saúde solicitou para nós [Fiocruz] e entregamos em 20 dias. 

Desde então essa formulação nova potenciada, desenvolvida no laboratório da Fiocruz, é utilizado no País.

Suscetíveis

De seis vacinas, naquela fase inicial, hoje tem 15 vacinas colocadas à disposição. Temos grandes conquistas obtidas com vacinas e vacinações, mas nos últimos anos vem caindo a cobertura vacinal.

Uma das causas desse sucesso que alcançamos é a causa principal [dessa queda de cobertura], porque a população já não vê ameaça de doenças e não procura mais pela imunização.

O momento exige a busca de novas estratégias, para ter a cobertura vacinal nos níveis indicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), e como isso não está acontecendo está criando um grupo de populações suscetíveis.

Novas estratégias

Como o vírus do Sarampo não está eliminado no mundo, outros países ainda possuem, a possibilidade de importação de pessoas com o vírus é muito grande.

Portanto, é preciso buscar estratégias específicas e diferentes. Ao invés de ser de forma passiva, oferecer de forma ativa, buscar as crianças que não foram vacinadas. Utilizar tecnologias mais modernas, na informática, no mapeamento da população não-vacinada e, certamente,  uma série de outras medidas que devem ser tomadas, sobretudo para mobilizar a população e mostrar que é absolutamente importante vacinar-se.

* O quadro Repórter SUS é uma parceria entre a Radioagência Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz)

Edição: Cecília Figueiredo