Rio de Janeiro

Festival

Festival da Utopia abre segundo dia com debate sobre projetos para o país

Urbanismo, cultura e democratização da mídia foram alguns dos temas tratados na mesa

Brasil de Fato | Maricá (RJ) |

Ouça o áudio:

Mesa "Os Dilemas de um Projeto para o Brasil" marca o segundo dia do Festival Internacional da Utopia, em Maricá (RJ)
Mesa "Os Dilemas de um Projeto para o Brasil" marca o segundo dia do Festival Internacional da Utopia, em Maricá (RJ) - Pedro Nogueira

A segunda edição do Festival Internacional da Utopia segue reunindo milhares de pessoas em Maricá, Rio de Janeiro, com debates e atividades culturais que têm o objetivo de debater o estabelecimento de uma democracia efetiva no Brasil.

Nesta sexta-feira (20), a programação do festival teve início com a mesa “Os Dilemas de um Projeto para o Brasil”, realizada no espaço da Tenda dos Pensadores Darcy Ribeiro, erguida na Praça Orlando de Barros Pimental, no centro da cidade.

A mesa contou com a presença da arquiteta e urbanista Ermínia Maricato, professora aposentada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o jornalista Renato Rovai, o militante da Consulta Popular Rodrigo Marcelino e o professor do Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e pesquisador especializado em políticas públicas para a cultura Miguel Jost.

Ao longo do debate, acompanhado por dezenas de jovens que formam o Acampamento da Juventude do festival, os palestrantes trouxeram exemplos de problemáticas e soluções para os desmontes trazidos pelo golpe desde 2016. Para Marcelino, que realizou a fala e abertura da mesa, além da discussão de projetos, é importante discutir a estratégia de organização do povo pela via da esquerda.

“O Brasil, pela primeira vez em 25 anos, viu o aumento da mortalidade infantil. É esse o resultado prático do neoliberalismo para a vida das pessoas, e por isso que para aqueles e aquelas que tem algum compromisso com o povo, a luta pela interrupção do golpe, pela retomada das lutas democráticas e pela radicalização de uma democracia popular é indispensável. É necessário que as forças populares retomem o contato com o povo”, afirmou.

Para isso, o militante da Consulta Popular apresentou o projeto Congresso do Povo, que vem sendo organizado pela Frente Brasil Popular, e pretende reunir milhares de pessoas na construção de um novo projeto para o país. “É necessário para a esquerda retomar um projeto de nação. Esse projeto tem que traduzir, no plano prático, os principais sonhos, desejos e demandas da sociedade”, afirmou Marcelino.

Entre as questões discutidos pela Frente Brasil Popular está a construção de um novo projeto de cidades para o país, organizado por Ermínia Maricato. Em sua fala durante a mesa, a arquiteta, que ocupou o cargo de Secretária Executiva do Ministério das Cidades entre 2003 e 2005, destaca que os principais problemas urbanos, como a crescente especulação imobiliária, também estão relacionados a falta organização popular.

“Não faltam planos, todas as cidades com mais de 20 mil habitantes nesse país tem plano diretor. Não faltam leis, temos uma legislação que, inclusive, está no nosso lado. Quando eu era secretária, os movimentos populares ocupavam o gabinete semana sim semana não. E só por isso as coisas saiam, porque tinha movimento organizado o tempo todo ali. Falta organização popular. Existe uma potencialidade absurda nas periferias urbanas, com os jovens, as mulheres, que nunca estiveram tão mobilizadas no Brasil. Eu fiz plano e governo a minha vida toda, agora quero fazer plano popular. Faz muita falta porque temos uma tradição de esmagamento da iniciativa popular no Brasil”, opinou.

Na área da cultura, Miguel Jost destacou o atual desmonte de políticas públicas brasileiras por meio do corte de orçamento de quase metade dos recursos do Ministério da Cultura, colocado em prática pelo governo de Michel Temer (MDB) em 2017.

“Hoje são 17 países que tem programas inspirados em políticas de cultura implementadas aqui no Brasil. Precisamos retomar esses projetos periféricos de cultura para que eles possam atuar numa democracia mais efetiva. É muito importante para a gente essa retomada e muito triste que eles tenham sido interrompidos, e além de tudo, criminalizados. Precisamos reverter essa má compreensão da sociedade de que a cultura é gasto, quando ela é investimento. Direitos culturais são direitos de cidadania. Precisamos retomar isso e recolocar o Brasil nesse posto paradigmático de pensar a cultura”, disse.

A fala final da mesa foi realizada pelo jornalista Renato Rovai, que destacou a importância do incentivo à mídia contra hegemônica no enfrentamento ao golpe e na criação de um novo projeto para o país. Ele destacou a forma como a grande mídia cobriu e formou a opinião pública em relação ao pedido de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz de segunda instância Rogério Favretto, no dia 8 de julho, deslegitimando juridicamente Favretto ao se referir a ele apenas como “plantonista”.

“Sempre falamos da liberdade de imprensa como uma prática democrática, e eu acredito nisso. Mas é impossível não dizer que a imprensa sempre foi fundamental nos processos golpistas, não só no Brasil mas em outras partes do mundo”, pontuou.

O Festival Internacional da Utopia acontecerá até domingo (22), e, além dos debates, contará com shows de músicos como Emicida, Maria Rita e Negra Li, e com espaços como a Feira da Reforma Agrária e Economia Solidária e a Culinária da Terra.

Edição: Diego Sartorato