Rio de Janeiro

DESEMPREGO

População do Norte Fluminense sofre com o fechamento de postos de trabalho

Campos dos Goytacazes e Macaé (RJ) apresentam mais demissões de trabalhadores do que novas contratações

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
De 2014 a 2018 o município de Macaé perdeu cerca de 31 mil postos de trabalho
De 2014 a 2018 o município de Macaé perdeu cerca de 31 mil postos de trabalho - foto: agência brasil

A cadeia do petróleo é responsável pela maior parte dos empregos diretos e indiretos dos municípios de Campos dos Goytacazes e Macaé, na região Norte Fluminense, no estado Rio de Janeiro. Com a crise da atividade petrolífera, setores como o de serviços e comércio foram muito afetados nos últimos dois anos. 

De acordo com os recentes dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), nos últimos 12 meses tanto o município de Campos, quanto o de Macaé apresentam mais desligamentos de postos de trabalho do que admissões.

Diego Maggi, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), afirma que de 2014 a 2018 o município de Macaé perdeu cerca de 31 mil postos de trabalho. 

“Quando pegamos os dados de trabalho do Norte Fluminense percebemos que esses municípios estão sendo dramaticamente afetados nesse quadro de crise econômica do estado do Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia, o município de Macaé foi o que mais perdeu postos com carteira assinada entre 2014 e 2018, só fica atrás da capital. O estado do Rio de Janeiro perdeu como um todo quase meio milhão de empregos celetistas (empregos com carteira assinada)”, destaca Maggi.  

                                                                          Fonte: Caged, MTb. Elaboração: DIEESE

Driblando a crise 

E quem não perdeu o emprego, luta para se manter ativo no mercado. Wagner Veloso há nove anos atua na gerência do Hotel Rosa Mar em Macaé. Ele conta que o movimento de 2016 para cá caiu cerca de 70%. 

“Os nossos hóspedes eram da área de negócios, principalmente offshore. Mais ou menos 95% tinham envolvimento com a Petrobras. Entre 2016, 2017 e 2018 o hotel mantém o mesmo padrão de 20 a 30% de clientes”, relata. 

A 105 quilômetros de Macaé, no município de Campos, a situação também não é diferente. Herval Gomes Junior é comerciante. A frente de dois empreendimentos, uma papelaria e um delivery de refeição, Junior conta que a queda das vendas tem dificultado a manutenção dos seus negócios, principalmente da papelaria, que hoje é a sua principal fonte de renda.  

“Em 2016 já teve uma queda, em 2017 mais ainda e em 2018 muito mais. A perda tem sido de 10% ao ano no estabelecimento. A gente sente uma preocupação dos clientes em comprar produtos de menor preço, de qualidade inferior”, afirma o comerciante. 

Indícios de recuperação são insuficientes

Tanto Wagner quanto Herval sofrem com a queda das vendas porque, além da crise que afeta o estado do Rio de Janeiro, a cadeia produtiva do petróleo e gás está atrelada ao fomento de outros setores da economia. Segundo os dados da CAGED, nos primeiros meses de 2018 o município de Macaé apresentou indícios de recuperação, gerando um saldo positivo de empregos formais. Contudo, o técnico do DIEESE alerta que ainda não é possível comemorar. 

“O que vemos é que nos primeiros meses de 2018, há um saldo positivo de empregos no município de Macaé para empregos celetistas, em Campos continua negativo, mas o saldo positivo ainda é incipiente, ainda é difícil afirmar nesse momento que observamos uma recuperação”, explica Maggi.

O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos dos Goytacazes, José Luiz Vianna, há mais de 40 anos estuda o comportamento da região norte fluminense com a atividade petroleira. Para ele, um dos maiores problemas dos municípios está na dependência da renda gerada pelo petróleo.

“Eles não usaram a renda para aumentar a arrecadação própria para investir e diversificar a economia, investir em novas atividades econômicas, eles passaram a ficar dependentes só deste recurso. Quando a renda cai, cai tudo junto, porque não tem alternativa à dependência dessa renda. Então, ocorre um desemprego muito grande”, relata o cientista social. 

Edição: Mariana Pitasse