Com destino a Brasilia

Caravana Contra a Fome chega a Feira de Santana (BA) e parte para Minas Gerais

Caminhada no Centro da cidade e ato ecumênico dialoga com a população sobre a volta da extrema pobreza

Brasil de Fato | Feira de Santana (BA) |
Apresentação cultural durante o ato político da Caravana contra a Fome em Feira de Santana (BA)
Apresentação cultural durante o ato político da Caravana contra a Fome em Feira de Santana (BA) - Foto: Júlia Rohden

Conceição de Almeida mora em Feira de Santana, a 115 quilômetros da capital Salvador, e conta que a situação está difícil. “Aumentou o preço de tudo e o salário está menor”, resume a aposentada.

Ela estava no ponto de ônibus da Praça Nordestina e acompanhou o início de um ato realizado pela Caravana Semiárido Contra a Fome. A população de Feira de Santana que caminhava pelo Centro da cidade neste sábado (28) pela manhã recebeu panfletos explicando os motivos da Caravana e também uma edição especial do jornal Brasil de Fato de Pernambuco com reportagens sobre a volta da fome no Brasil.

Conceição dançava ao som do violão que animava a caminhada da Caravana, enquanto esperava seu ônibus. “Acho ótimo ver atitudes assim, porque a gente tem que mudar as coisas”, disse.

A Caravana Semiárido Contra a Fome partiu de Caetés (PE) na última sexta-feira e chegou sábado (28) na Bahia. Cerca de 90 pessoas seguem em caravana rumo a Belo Horizonte (MG), Guararema (SP), Curitiba (PR) e Brasília (DF), antes de retornar ao Recife (PE).

Pela manhã, os apoiadores se reuniram para receber os ônibus da Caravana e iniciar a caminhada pelas ruas de Feira de Santana, partindo da Praça Nordestina até a Praça do Fórum. A Caravana denuncia a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o aumento de brasileiros em situação de extrema pobreza, que hoje atinge 11,8 milhões de pessoas no país, desde o golpe de 2016.

O dado também está relacionado ao aumento do desemprego – que chegou a 14,2 milhões em 2017 – e aos cortes em políticas públicas e programas sociais. Para o cuidador de motos Junas Francisco, a piora no nível de vida é visível. “Antes todo mundo tinha casa, tinha trabalho. Hoje, a gente percebe que tem muita gente passando necessidade. A pessoa vai para o trabalho e descobre que foi demitido. Está muito difícil”, conta.

Ato ecumênico

No período da tarde, mais de 500 pessoas se reuniram para discutir o avanço da fome e da miséria. Agricultores, lideranças religiosas e integrantes de movimentos populares reafirmaram a importância da denúncia dos retrocessos e também da resistência das pessoas que vivem no Semiárido. Entre uma e outra fala, músicas marcavam a importância da cultura do Semiárido com canções clássicas como Asa Branca.

“Denunciamos as ações do governo Michel Temer [MDB]. Estamos voltando a ver crianças desnutridas, grávidas que não conseguem se alimentar da forma necessária. Hoje pela manhã, eu observava no centro de Feira de Santana, enquanto entregávamos os panfletos, que as pessoas iam para a frente das lojas, saiam para as ruas e acenavam positivamente com a cabeça. Ouvi muita gente dizendo ‘é isso mesmo’ e nos apoiando nessa luta contra a fome e contra os retrocessos”, afirmou Célia Firmo, que participa do Movimento de Organização Comunitária (MOC).

Alexandre Pires, um dos coordenados da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e organizador da Caravana Semiárido Contra a Fome, lembrou a versão da ciranda de Lia de Itamaracá que canta “a minha fome não é minha só, ela é de todos nós”.

Ele resgatou a lembrança do médico e geógrafo pernambucano Josué de Castro, autor do clássico “Geografia da fome”, afirmando que a fome não é um fenômeno natural, mas resultado de perspectivas políticas e econômicas. “Vamos falar desse governo que está aí, redirecionando recursos de programas sociais que mudaram as nossas vidas para pagar a dívida de banqueiros”, disse, em alusão ao perdão da dívida de mais de R$ 20 bilhões do Itaú.

Pires contou que estava na casa de seus pais, no interior de Pernambuco, e uma mulher negra bateu a porta, junto de seus dois filhos, pedindo um prato de comida. “Comida! É o mínimo que a gente deve ter. E foi a terceira pessoa em uma semana que foi pedir comida. Essa era uma situação que a gente não via mais”, afirmou.

Edição: Diego Sartorato