Eleições 2018

Bolsonaro ataca os pobres, nega o inegável e mente no Roda Viva

“Trata-se de um sujeito doente”, afirma dirigente do MST, sobre os ataques do candidato aos trabalhadores sem-terra

Brasil de Fato | São Paulo |

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Jair Bolsonaro (PSL) participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (30)
Jair Bolsonaro (PSL) participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (30) - Reprodução

Durante sua participação no programa Roda Vida, da TV Cultura de São Paulo, nesta segunda-feira (30), o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), atacou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Os integrantes do MST são bandidos. As ações deles têm que ser tipificadas como terrorismo”, disse candidato. 

Para Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, somente uma patologia psíquica poderia justificar posições aberrantes, explicitadas pelo candidato em um programa de TV aberta, ao vivo, durante uma sabatina para apresentar seus projetos políticos para o Brasil.

“O problema do Bolsonaro só Freud explica. É um sujeito recalcado, que criminaliza as mulheres, criminaliza os negros, criminaliza os pobres, e de alguma forma ele deve ter tido na sua infância alguns problemas. E eu penso isso: acho que se trata de um sujeito doente, com muitos problemas na sua história. É um candidato a presidente que reflete uma parte do pensamento de direita do nosso país, e que nós temos que enfrentar com muita força para não correr o risco de ter um presidente com esse perfil”. 

Segundo Gilmar, mais que responder às barbaridades proferidas pelo candidato da extrema-direita, o papel dos movimentos populares é aproveitar o momento eleitoral para combater de modo radical toda forma de fascismo.

“Qual é a nossa tarefa? Combater a qualquer custo as ideias fascistas; dois: articular todos os setores progressistas; três: fazer com que essa eleição explicite um combate radical. Porque não é só uma criminalização ao movimento popular, mas uma criminalização aos negros, uma criminalização com muita violência às mulheres, aos setores LGBTs, enfim, a vários setores, e nós não podemos admitir isso”. 

O MST tem 34 anos de história e é considerado um dos maiores e mais importantes movimentos sociais do mundo, organizando no Brasil mais de dois milhões de trabalhadores rurais na luta pelo direito à terra, consagrado pela Constituição de 1988. 

Barbaridades 

Outras afirmações de Jair Bolsonaro durante o programa da TV Cultura também causaram perplexidade nas redes sociais. Questionado sobre a reabertura das investigações sobre a tortura e assassinato do jornalista Vladimir Herzog, anunciada na segunda-feira (30) pelo Ministério Público Federal (MPF), o candidato colocou em dúvida as causas da morte. “Por que para um lado é execução e para o outro não?”.

A reação veio da própria família da vítima. Ivo Herzog, filho do jornalista afirmou que “Bolsonaro é uma aberração desse modelo político e vem se destacando por ser essa figura ‘bisonha’ e horrível”. 

Herzog se apresentou voluntariamente para depor no dia 24 de outubro de 1975 e foi encontrado morto um dia depois. Na época, o governo militar negou que tenha praticado tortura contra o jornalista, e argumentou que ele havia suicidado. Mas três anos mais tarde, a própria justiça brasileira reconheceu que ele havia sido torturado e morto. No último dia 4 de julho, quase 43 anos depois do assassinato, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o estado brasileiro por haver sido negligente na investigação sobre o caso e, por isso, o MPF decidiu reabrir o inquérito. 

Ao tratar da questão racial, o presidenciável afirmou que ‘os próprios negros se escravizaram’, e negou que exista uma dívida histórica com a população negra do país. 

Bolsonaro ainda expressou admiração por Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, preso desde outubro de 2016 pela Operação Lava-Jato.

“Primeiro que raras vezes eu estive ao lado do Eduardo Cunha. Eu gostaria de ter estado mais vezes do lado dele, inclusive”. 

Em março de 2017, Eduardo Cunha sofreu a primeira condenação no âmbito da Operação Lava-Jato, a 15 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ele foi considerado culpado por ter recebido 1,5 milhões de dólares, ou cerca de R$ 4,5 milhões em propina para facilitar um contrato para a exploração de petróleo no Benin, na África. Em junho de 2018, o ex-deputado foi condenado a mais 24 anos e 10 meses de prisão, em regime fechado, pelo crime de corrupção na liberação de verbas do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS).

É mentira

Jair Bolsonaro se desprendeu da realidade por alguns momentos da entrevista. Ele chegou a afirmar que teria participado do combate à guerrilha liderada por Carlos Lamarca, morto em 1971. Ocorre que as contas não batem. O candidato nasceu em 1955, ou seja, tinha apenas 16 anos quando foi assassinado o líder guerrilheiro. 

Outra inverdade dita pelo candidato foi em relação ao número de projetos apresentados por ele, nos quase 30 anos de atividade parlamentar. "Tenho mais de 500 projetos apresentados", afirmou. "São 176", corrigiu um jornalista da bancada. 

Durante o programa, o candidato do PSL esteve acompanhado do seu assessor econômico, o economista ultraliberal Paulo Guedes, e da possível candidata a vice na sua chapa, a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, que culminou no golpe de estado em 2016. 

Edição: Juca Guimarães