Volta da pobreza

“Estar aqui nos dá esperança”, diz integrante da Caravana contra a Fome sobre a ENFF

Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, foi a quarta parada da comitiva que partiu de Caetés com destino a Brasília

Brasil de Fato | Guararema (SP) |

Ouça o áudio:

Integrantes da Caravana Contra a Fome se encontram com militantes do MST em Guararema
Integrantes da Caravana Contra a Fome se encontram com militantes do MST em Guararema - Foto: Júlia Rohden

A Caravana Semiárido contra a Fome, que partiu de Caetés (PE) há quatro dias com o objetivo de percorrer mais de 4 mil quilômetros pelo Brasil em denúncia da volta da fome ao país, chegou a São Paulo nesta terça-feira (31). Por onde passam, os mais de 100 participantes da Caravana participam de atos públicos, caminhadas e atividades de diálogo com a população. Foi assim em Caetés, Feira de Santana (BA) e Belo Horizonte (MG), três primeiras paradas do percurso.

A quarta parada da Caravana, porém, foi diferente. A terça-feira foi dedicada a conhecer a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), idealizada e construída pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no município de Guararema (SP). A maioria dos integrantes da Caravana não conhecia a Escola, que reúne estudantes de vários países do mundo para cursos de formação política.

Inaugurada em 2005, a ENFF foi toda construída com trabalho militante. Os recursos para a construção foram levantados com a venda do livro e disco Terra, com fotos de Sebastião Salgado, texto de José Saramago e músicas de Chico Buarque.

De acordo com Álvaro Anacleto, da coordenação pedagógica, o ensino na ENFF é visto de uma perspectiva que engloba não só o estudo, mas também o trabalho, as relações humanas, a cultura e a arte.

“Esta escola é fruto concreto da solidariedade da classe trabalhadora do Brasil, mas também de vários outros países. Esta é uma escola do povo”, afirma. Álvaro destaca ainda o internacionalismo como um os pilares da ENFF desde a sua inauguração.

Atualmente, a escola se mantém com doações individuais e de movimentos populares, além de financiamento de projetos nacionais e internacionais e com o trabalho militante da Brigada Apolônio de Carvalho, que reside na escola, e com a contribuição do trabalho também feito pelos estudantes dos diversos cursos realizados.

Os integrantes da Caravana fizeram um passeio guiado pela ENFF para conhecer as diversas unidades que a compõem, a produção das hortas e pomares foi um dos elementos que mais chamou atenção do grupo. Álvaro também explicou que além do que é produzido no próprio espaço da ENFF, assentamentos e cooperativas doam alimentos para a sustentação da escola.

Outro aspecto que chamou a atenção do grupo foi a biblioteca com mais de 50 mil livros, todos doados, e que inclui inclusive a coleção pessoal do crítico literário Antonio Candido, falecido em 2017 e um grande amigo do MST.

Audecy Nunes é agricultor, mora na comunidade de Lagoa de São João, no município de Princesa Izabel, no alto sertão paraibano, e foi uma das pessoas que estiveram na ENFF pela primeira vez.

“Quem vem aqui uma vez já fica torcendo para vir outra, foi muito bom conhecer a escola e também ser acolhido como fomos aqui. Depois de tantos dias de viagem, esse acolhimento e cuidado são muito importantes”, destaca. Ele ainda comenta da importância de uma escola que se preocupa com a formação dos agricultores que muitas vezes tem dificuldade de acesso ao ensino formal. 

Da cidade de Penedo (AL) e militante do MST, Lícia Maria também não conhecia pessoalmente a ENFF. As práticas agroecológicas e a conservação ambiental foi o que mais chamou atenção de Lídia na visita. “Aqui tem um modelo parecido com o qual trabalhamos também nas nossas escolas do campo”, notou ela.

Karol Maia, do Movimento Camponês e Popular (MCP), vem de Sergipe e diz que foi emocionante conhecer a história. “Estar aqui é conhecer e sentir um pouco do trabalho coletivo de tantas mãos, isso nos dá esperança”.

De Guararema, a Caravana segue amanhã (1º) para Curitiba, onde participa de atividades na Vigília Lula Livre, e de lá segue para Brasília.

Edição: Diego Sartorato