CHINA

Artigo | A relevância do giro do presidente chinês Xi Jinping pela África

Enquanto Trump não dá importância ao segundo continente mais povoado do mundo, Xi parece decidido a reforçar laços.

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Desde 2016, a China é a primeira investidora estrangeira no continente africano
Desde 2016, a China é a primeira investidora estrangeira no continente africano - Wikimedia Commons

Complemento da participação no encontro dos BRICS, em Johannesburgo (que tem a Turquia como país convidado), o giro do presidente chinês Xi Jinping pela África adquire uma relevância particular em vista, sobretudo, da próxima cúpula China-África que acontecerá em setembro, em Pequim.

Enquanto Trump não dá importância ao segundo continente mais povoado do mundo, Xi parece decidido a reforçar não apenas os vínculos econômicos (já é o primeiro sócio comercial da África) e políticos com o continente, mas também os militares e de segurança, o que acrescentará profundidade a uma relação de longa data.

De fato, a China já supera os Estados Unidos na venda de armas à África e neste mês recebeu dezenas de oficiais militares para participar do primeiro foro de defesa neste nível. No ano passado, abriu sua primeira base militar no estrangeiro, em Djibuti, no chifre da África, onde promove, além disso, a maior zona de livre comércio do continente. 

Até agora, a China cuidava da presença de seus soldados (mais de 2.000) sob a bandeira das Nações Unidas. Agora, os vínculos militares se diversificarão e ampliarão. É a resposta chinesa a um aumento significativo da presença de tropas especiais estadunidenses no continente, empregadas ao menos em nove países (Chade, Mauritânia, Níger, Mali, Camarões, Tunísia, Quênia, Líbia e Somália). Com a criação do AFRICOM, em 2007, o número de países africanos que contam com algum tipo de presença dos Estados Unidos não parou de crescer e o total de efetivos empregados se aproxima de 10.000 soldados. Com o argumento de enfrentar a ameaça jihadista, o número de forças especiais na África passou de 1% do total a 16%, em apenas oito anos.

Não apenas comércio

Esta é a primeira viagem de Xi ao estrangeiro, desde que foi eleito em março para um segundo mandato presidencial. Em sua agenda, destaca-se a Iniciativa da Faixa e Rota, que abunda na contribuição de uma infraestrutura certamente muito necessária para o continente mais esquecido, apesar das críticas sobre o endividamento que pode aparelhar. Ligações ferroviárias e rodoviárias, portos, parques industriais, mas também hospitais, estádios, teatros e museus, todos construídos a pedido da China, estão formando uma nova realidade africana.

Desde 2016, a China é a primeira investidora estrangeira no continente. Entre 2000 e 2015, o governo, os bancos e os empreiteiros da China teriam emprestado mais de 94 bilhões de dólares à região. A dívida pública na África subsaariana passou de 34% do PIB, em 2013, a uma estimativa de 53%, em 2017, segundo fontes do FMI.

A compensação para a China é inseparável de um fornecimento de recursos naturais (petróleo, minerais, madeira, marfim, etc.), nem sempre respeitoso ao meio ambiente. Não obstante, esta dimensão, como no interior do país, vai ganhando peso em suas políticas. Assim, manifestou-se na recente conferência sobre o trabalho diplomático, presidida pelo próprio líder chinês.

Em uma ou outra comitiva, praticamente a totalidade de líderes africanos visitou Pequim no último quinquênio. Recentemente, os presidentes das duas câmaras chinesas, Wang Yang e Li Zhanshu, também visitaram a África. Ano após ano, a África é sempre o primeiro destino escolhido pelo ministério das relações exteriores para iniciar suas viagens internacionais. A África não é um assunto menor na agenda chinesa.

A turnê de Xi, a quarta desde que assumiu em 2013, tem paradas em Senegal, Ruanda e África do Sul, mais uma escala em Maurício. Em seu balanço, cabe imaginar o reflexo claro de um aumento da confiança e influência políticas, sustentadas nas raízes das demais variáveis. Em setembro próximo, na cúpula de Pequim com a África, só faltará e Swatini, o único país da região que resiste em romper os laços com Taipé.

Edição: Rebelión | Traduzido para o português pelo Cepat para a Revista IHU