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Os três principais desafios das eleições presidenciais

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Manter a disposição de luta sem gerar ilusões é a principal questão que se coloca para as atuais gerações de lutadores populares
Manter a disposição de luta sem gerar ilusões é a principal questão que se coloca para as atuais gerações de lutadores populares - Foto: Marri Nogueira/Agência Senado
Lula: único candidato capaz de despertar a mobilização social

Estamos há praticamente dois meses do primeiro turno das eleições presidenciais na qual as forças econômicas e sociais que patrocinam o golpe apostam todas as suas fichas para legitimar seu programa.

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Nesta disputa nos deparamos com três grandes desafios para eleger Lula, único candidato capaz de despertar a mobilização social e com possibilidade de tentar reverter as medidas já praticadas pelo golpe.

Nosso primeiro grande desafio é que estamos diante de um quadro de imobilidade da classe trabalhadora. Os recentes impactos das transformações na realidade influem no comportamento dos trabalhadores, favorecendo sua autopreservação, assim como, em momentos em que as perspectivas se fazem benéficas, favorecem sua ousadia.

Embora as pesquisas do DIEESE não contemplem o período mais recente, seus dados apontam uma redução do número de greves, a partir de 2014, bem como, o predomínio de pautas cada vez mais defensivas. Por sua vez, enquanto os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revelam que o desemprego se mantém estável no expressivo índice de 12,7% em maio, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho sinalizam o crescimento de contratações precarizadas, especialmente com o uso do chamado contrato intermitente.

Ou seja, as causas apontadas para explicar a atual situação de baixa mobilização não devem se alterar nos próximos meses. Isso significa que a decisão sobre a liberdade de Lula não será determinada pela luta de massas, mas, pelo Poder Judiciário, território que embora guarde contradições é extremamente desfavorável, no qual, parcelas expressivas, integram o braço do golpe. 

O segundo desafio é enfrentar a unidade programática das forças golpistas. Embora neste momento sinalizem que majoritariamente preferem apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin e conservem apoios distintos na disputa política, estão unificadas no programa econômico, podendo juntar-se com facilidade caso algum candidato que lhes contemple chegar ao segundo turno. Até mesmo Bolsonaro, com o economista Paulo Guedes assumindo todos os interesses privatistas, se enquadra, se necessário, em seus objetivos.

Para as forças econômicas e sociais que sustentam o programa golpista, a unidade programática em torno dos objetivos na política econômica possibilita uma margem grande de unidade em várias opções que possam chegar ao segundo turno. 

O terceiro desafio é o estreitamento das margens democráticas do Poder Executivo. O desmonte das ferramentas indutoras do desenvolvimento como a Petrobras e o BNDES, os limites de gastos determinados pela Emenda 95 e um amplo conjunto de medidas implementadas pelo golpe, reduzem a governabilidade, tornam o presidente da república ainda mais refém do Congresso Nacional e do Poder Judiciário. 

Sem a candidatura de Lula, nenhum outro nome tem a capacidade de despertar o potencial mobilizador necessário para enfrentar o desmonte e a blindagem já efetivadas pelo golpe. Este é nosso maior dilema. 

Manter o ânimo e a disposição de luta sem gerar ilusões ou deixar de avaliar a dimensão dos desafios que estão colocados é a principal questão que se coloca para as atuais gerações de lutadores populares. 

*Ricardo Gebrim é advogado e membro da Direção Nacional da Consulta Popular.

Edição: Daniela Stefano