Desemprego

IBGE: 65,6 milhões de pessoas não trabalham nem procuram emprego

Metodologia do IBGE considera desempregados em "modalidades" que podem confundir leitura dos dados

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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São 65,6 milhões de pessoas fora da força de trabalho, número mais alto da série histórica que teve início em 2012.
São 65,6 milhões de pessoas fora da força de trabalho, número mais alto da série histórica que teve início em 2012. - Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

O número de pessoas que não estão trabalhando e nem procurando emprego bateu recorde no país, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta semana.

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Em julho, eram 65,6 milhões de pessoas fora da força de trabalho, número mais alto da série histórica que teve início em 2012. O dado, de acordo com economistas e sindicalistas, reflete o fenômeno conhecido por "desalento", que define o momento em que a população desiste de procurar emprego, depois de muito tentar e não obter sucesso.

Para a economista Marilane Teixeira, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (CESIT), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), além de cruel, a situação é desastrosa para a economia brasileira.

"As pessoas desistem de procurar trabalho, então vão compor o que chamamos de população não economicamente ativa. Algumas pessoas estão há anos desempregadas. Esse número não tem nenhuma fonte de rendimento. Está provavelmente sobrevivendo por ajuda, por atividade de auto-consumo. É um desastre. Esse contingente todo de pessoas, se estivesse no mercado de trabalho, estaria recebendo entre um e meio, dois salários mínimos, imagina o que você poderia injetar na economia em termos de recurso, e o quanto isso seria fundamental inclusive para dinamizar a recuperação da atividade econômica", afirmou.

Segundo Teixeira, o perfil desse contingente é formado, principalmente, por mães ou mulheres responsáveis pelo cuidado de familiares, e não conseguem procurar emprego devido à falta de políticas públicas voltadas para crianças ou idosos.

"Uma parte bem significativa que compõe esse total fora da força de trabalho são mulheres, principalmente nessa faixa etária de 25 a 49 anos, e tem muito a ver também com a questão da ausência de políticas públicas. Porque uma parte desiste de procurar trabalho quando não tem esse acesso a creches, já que nos últimos anos diminuiu-se muito os investimentos na educação infantil", afirmou.

Precariado

A economista destacou também a dificuldade que essas pessoas enfrentam para voltar ao mercado de trabalho depois de um longo tempo desempregadas. "Por estarem muito tempo fora da força de trabalho, cria-se uma dificuldade de reinserção, porque, quando voltarem, elas voltarão em outro contexto, precisará ser realizado todo um processo de aprendizagem, e não há políticas para isso", pontuou.

Os números divulgados pelo IBGE também mostram outras consequências desse fenômeno. Pelo critério adotado pelo IBGE, a taxa de desemprego diminuiu no segundo trimestre do ano, ficando em 12,4%, em relação à taxa de 13,1% do primeiro semestre. Mas a retração do índice é consequência tanto das 774 mil pessoas que ficaram força da força de trabalho na passagem dos trimestres quanto do aumento da geração de vagas informais.

Segundo o IBGE, dos 91,2 milhões de ocupados, ao menos 40,6% estão no mercado informal, seja em trabalhos no setor privado sem carteira assinada, ou trabalhando por conta própria sem CNPJ. Já o número de empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada atingiu o menor nível desde 2012: 32,8 milhões de pessoas.

Para a vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carmen Foro, a reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017, trouxe uma série de precarizações de direitos na CLT, influenciando a situação do emprego no país.  

"A reforma trabalhista piorou essa situação que já era de desalento no país, porque transforma os trabalhos que existem em trabalhos precários. São quase meio milhão de pessoas que passaram a trabalhar sem ter carteira assinada, fazendo bicos e tendo seus direitos precarizados. Infelizmente, estamos vendo um momento de muita gravidade social e econômica no Brasil, onde as pessoas tendem a procurar qualquer coisa pra sobreviver", denunciou.

Governo comemora

Apesar dos dados, o governo de Michel Temer (MDB) continua divulgando a "queda" do desemprego como comprovação de uma suposta recuperação econômica. Em almoço com empresários realizado na sede de Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Temer reclamou por ser responsabilizado pelos 13 milhões de desempregados, "mas a realidade é que em apenas dois anos fizemos reformas importantes para a economia", afirmou.

Na opinião do economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzo, o governo não tem colocado em prática medidas para reduzir a situação do desemprego e precarização do trabalho.

"A esperada e proclamada recuperação da economia não se materializou. Evidentemente que depois de um período relativamente longo e agudo do ponto de vista dos efeitos sobre o emprego, você tem uma redução da população que está procurando emprego. Isso é natural porque as pessoas gastam recursos de tempo e até dinheiro para procurar emprego, então essa retração é natural. Isso pode contribuir para uma estagnação razoavelmente longa da economia, e uma reafirmação da situação precária e difícil em que vivem as pessoas. É uma situação muito grave e não vejo nenhum propósito desse governo de mudar essa situação", afirmou.

A questão do desemprego será bandeira do Dia Nacional de Luta marcado pelas centrais sindicais para o dia 10 de agosto. Serão realizados atos pelo país, com o objetivo de repudiar as reformas do governo Temer e cobrar dos candidatos à presidência medidas para reativar a economia.

Edição: Diego Sartorato