GREVE DE FOME

Em greve de fome, dirigente do MST escreve carta à juventude do Brasil

Jaime Amorim aborda tema da juventude no dia em que mais um militante, um jovem, se soma à greve

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em carta, Jaime lembra um pouco de Junho de 2013 e de como a postura política da juventude mudou desde então
Em carta, Jaime lembra um pouco de Junho de 2013 e de como a postura política da juventude mudou desde então - Luiz Fernando/Comunicação MST

Nesta segunda-feira (6), sétimo dia da greve de fome realizada em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) por militantes de movimentos populares, um dos grevistas escreveu carta refletindo sobre a condição dos e das jovens do Brasil. Jaime Amorim, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco, lembra um pouco de Junho de 2013 e de como a juventude mudou suas posturas desde então. Hoje mais uma pessoa se somou à greve: Leonardo Armando, militante do Levante Popular da Juventude em Alagoas. O protesto é contra o aumento da fome e miséria no Brasil e pedindo que o Supremo liberte Lula, pois ele seria o único capaz de vencer a eleição e reverter esse cenário de volta da fome no país.
Confira a íntegra da carta:
GREVE DE FOME -7º DIA
Hoje, no sétimo dia da greve de fome, nossos corpos estão cada vez mais lentos e sonolentos, mas o coletivo está cada vez mais coeso e forte no espírito do compromisso que nos move. Vamos ter um dia longo dia de pressão sobre o STF e de visitas importantes. Tem nos animado a informação de que há muitas pessoas solidárias, fazendo jejum ou mesmo greve de fome como um irmão da Paraíba, que por conta própria está fazendo em seu terceiro dia de greve de fome na rampa do Congresso Nacional. Esta iniciativa, em conjunto com outras formas de luta, como a Caravana do Semiárido contra a Fome, o Dia do Basta em 10 de agosto, o início da Marcha nacional do MST também dia 10, os atos públicos nos estados, entre outras iniciativas, tendem a criar um clima de mobilização crescente que poderá alterar a atual correlação de forças.
Hoje pela manhã, entre outras novidades, ressaltamos duas que vou aproveitar para o texto: a visita de uma comissão da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e um jovem do Levante Popular da Juventude de Alagoas que se integra ao coletivo de grevistas. Portanto a partir de hoje, 7º dia de Greve, seremos sete a conduzir a tarefa de participar da “Greve de fome por Justiça no STF, contra fome e pela liberdade de Lula”.
A questão é porque a juventude organizada está tão mobilizada ao redor da bandeira de luta “Lula Livre”? O que mudou desde as mobilizações de 2013, quando milhares de brasileiros saíram às ruas de todo País, as maiorias jovens e estudantes? Na época, cinco anos atrás, a direita mobilizada a partir da imprensa incentivou a juventude a lutar contra uma possível crise que poderia tirar diretos, diminuir políticas públicas, diminuir empregos, salários, etc., e contra os governos do PT. A burguesia conseguiu mobilizar uma juventude ao redor do medo da crise e criando, ideologicamente, através da mídia, um ódio de classe em particular contra o PT, movimentos sociais, organizações políticas e sindicatos que direta ou indiretamente tivessem alguma relação com o governo PT. Todas e todos éramos “petralhas”, “comunistas”, “antipatriotas” que “queríamos substituir o verde e amarelo da bandeira nacional pelo vermelho” como cores para Pátria Brasileira.
Aos poucos, a conjuntura foi separando os que estavam nas ruas com reivindicações conjuntas e, portanto a luta contra a política econômica, e o medo de perdas de conquista dos últimos anos os movia. Diferente de um pequeno grupo que foi movido pelo ódio, rancor e preconceito e por interesses políticos da extrema direita, que conseguiu recrutar para suas fileiras um grande conjunto desta juventude, principalmente nas universidades. Tudo foi muito rápido, mas o suficiente para perceberem que a maioria foram manipulados e entenderem que o golpe representaria a real face do projeto conservador brasileiro, de retiradas de direitos, de reformas retrógradas, de uma política econômica submissa aos interesses do capital  e dos grandes grupos multinacionais que, a serviço do império, impõem aos países periféricos uma política de ajustes e o fim das políticas públicas e sociais, para salvar o capital.
Duas questões que são consequências diretas do golpe e seu projeto econômico, entre tantas, movem esta juventude: a defesa da educação pública, de qualidade e gratuita, com acesso para todo o povo brasileiro; e a violência generalizada. É claro que a juventude também está preocupada com o desemprego, que gera desesperança; a fome; o acesso à cultura; aos espaços de lazer; a luta contra a corrupção; as desigualdades sociais; a saúde pública sendo sucateada; a perda da soberania nacional; o cerceamento do estado democrático de direito. Historicamente a juventude sempre esteve preocupada com as questões nacionais, com palavras de ordem contra o imperialismo e em defesa da soberania nacional. Hoje mais do que nunca está vivo no seio da juventude a luta contra o golpe e luta pela liberdade de Lula.
Sim, temos críticas aos governos do PT. Os governos petistas cuidaram mais da construção física das escolas e abandonaram as questões educacionais e pedagógicas para o mercado, criando uma massa de universitários profissionais sem elevar o nível de conhecimento social e filosófico e sem elevar o nível de consciência. Mas lutar contra o sucateamento das universidades e da educação pública brasileira ficou mais claro quando a juventude passou a perceber que na primeira crise estava sendo manipulada pela direita e pelos meios de comunicação, chegando a defender o golpe, que contraditoriamente golpeou seus direitos e conquistas.
A juventude passou a entender que em 2002 o programa de governo neoliberal era de privatizar as universidades e escolas técnicas, cobrando mensalidades nas universidades públicas. E que o governo Lula rompeu com este ciclo de sucateamento das universidades públicas e escolas técnicas e ampliou a capacidade das atuais universidades, modernizou centros de pesquisas, criou novas universidades, interiorizou as universidades federais e estaduais. Por meio do programa de apoio, reestruturação e ampliação das universidades federais (Reuni), o PT criou 18 universidades federais, contra nenhuma de FHC. Criou 422 escolas técnicas em todo o Brasil, além de programas para apoio aos estados e municípios para construção e reforma de escolas de nível fundamental e médio, programa de apoio aos municípios com ônibus escolares, construção de quadras esportivas e nas escolas e centros tecnológicos. 
E por meios de programas como: FIES, PROUNI, bolsas de apoio a estudantes de universidades federais (transportes, alimentação, aluguel) e políticas de cotas, permitiu o acesso de negros, quilombolas e indígenas às universidades, além de outras políticas que permitiram a filhos e filhas do povo ingressar e se formar em cursos superiores, ampliando em muito as possibilidades de acesso e a capacidade das universidades de absorver estes ingressos. 
A violência assusta a juventude, que perde a liberdade de ir e vir livremente com o medo assaltos, estupros, assassinatos, cometidos por ladrões, bandidos ou por grupos extremistas movidos por preconceitos. Em 2017 foram 60 mil pessoas assassinadas, um aumento brutal em relação a anos anteriores. Os índices apontam que a maioria é de jovens negros das periferias do Brasil.
Lutar contra a violência é lutar contra o golpe e sua política que privilegia o capital e desrespeita o trabalho, que levou este país a índices alarmantes de desemprego e fome que tem consequências nefastas ao povo, como a miséria, a desesperança e a violência, que tiram da juventude as coisas fundamentais dos jovens: sonhar com o futuro, ter esperança e estabilidade econômica e social. 
Ou a juventude luta contra o golpe, retoma as ruas em defesa da democracia e da soberania nacional, ou sucumbirão às consequências da política golpista que incentiva o ódio, o preconceito e a desesperança. Por isso o Levante Popular da Juventude cresce e integra a cada dia mais jovens às suas fileiras. Utilizam de bandeiras políticas justas e formas de lutas legítimas para que o povo passe entender a linguagem.
E a liberdade de Lula e sua condição de disputar as eleições, neste momento histórico, são fundamentais para representar o conjunto da sociedade e em especial a juventude na luta contra o golpe e na construção do restabelecimento do estado democrático de direito e da soberania nacional. Por outro lado a juventude também exige que o Lula presidente governe com o povo, em aliança com o povo e suas organizações, rompendo pactos de classe dos governos anteriores.
Revogar todas as reformas e medidas do golpe é determinante para reconstruir um novo período de desenvolvimento social e econômico no Brasil. E se fazem indispensáveis para o novo governo Lula os compromissos de realizar as reforma não realizadas no período anterior: reforma do sistema político, reforma do poder judiciário, reforma tributária que cobre impostos sobre as grandes fortunas, reforma do meios de comunicação e, definitivamente, fazer a reforma agrária. Por isso continuamos cada vez mais firmes e resolutos na greve de fome, prontas e prontos para irmos até as últimas consequências.

Lula Livre, Lula Inocente, Lula Presidente!
Brasília, 6 de agosto de 2018.
Desde a greve de fome,
Jaime Amorim.

Edição: Vinícius Sobreira