Eleições 2018

Em conversa com mídia alternativa, Haddad defende democratização das comunicações

Candidato a vice-presidente na chapa do PT recebeu jornalistas para falar sobre o programa de governo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Fernando Haddad recebeu jornalistas da mídia alternativa para falar sobre o programa de governo
Fernando Haddad recebeu jornalistas da mídia alternativa para falar sobre o programa de governo - Foto: Ricardo Stuckert

O candidato a vice-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, participou, nesta terça-feira (7), de uma roda de conversa com jornalistas de meios de comunicação alternativos. Participaram do debate, além do Brasil de Fato, representantes dos Jornalistas Livres, Brasil 247, Revista Fórum, Blog Nocaute, Diário do Centro do Mundo, Jornal GGN e Rede Brasil Atual.

Durante mais de uma hora, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação falou sobre os pontos centrais do programa de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cabeça da chapa, e defendeu abertamente uma maior pluralidade de vozes nas comunicações do Brasil. Confira alguns pontos abordados por Fernando Haddad:

Democratização da mídia

“Estar com vocês aqui é estar em meio a pessoas que acreditam na democracia pra valer. Querem radicalizar a democracia, o que significa dar liberdade ao cidadão formar o seu próprio juízo, a partir de informações corretas, fidedignas. Então tudo que pudermos fazer para fortalecer o campo democrático, nós faremos. Inclusive o nosso plano de governo deixa claro que vai enfrentar esse debate”.

“Nós vamos ter que fomentar mais pluralismo, do ponto de vista midiático. Nós fazemos uma autocrítica em relação a rádios comunitárias e várias outras iniciativas que poderiam ser tomadas no sentido de promover diversidade. Mais liberdade de expressão. E que nós estamos dispostos a enfrentar agora. Nós entendemos que mais vozes precisam se expressar para que haja mais consciência política”.

“Outro dia eu estava vendo a Globo, relembrando o editorial de 2013, assumindo a responsabilidade pelo golpe militar. Só que eles levaram 49 anos para chegar a essa conclusão. Nós vamos esperar 49 anos para eles se desculparem com o Lula? Acho que vai ser tarde demais para o Brasil. Nós não temos 49 anos para esperar um pedido de desculpas. E a gente sabe que eles vão se desculpar, porque os historiadores vão se debruçar sobre esse processo, como eu fiz, por exemplo, e como vários advogados fizeram. Vão ler a sentença… E aí, como nós vamos explicar para as futuras gerações o que está acontecendo agora? Então nós não temos 49 anos para esperar um pedido de desculpas”.

Foto: Ricardo Stuckert

Lula preso

“Em primeiro lugar, nós sabemos das dificuldades que as instituições nos impuseram. Não é desejo nosso enfrentar a situação que nós estamos enfrentando. Nós estamos com um candidato que seria eleito no primeiro turno, tranquilamente, com o risco de ter a sua candidatura impugnada em função de um processo que não para em pé. Gente é muito sério o que está acontecendo no Brasil. Não é algo que a gente possa naturalizar”.

“Ontem [segunda-feira, 6] a defesa do Lula protocolizou no Supremo Tribunal Federal um pedido de desistência de uma demanda, para evitar mais uma manobra, que seria julgar a elegibilidade do Lula, quando nada disso estava sendo pedido pela defesa. A defesa estava pedindo a liberdade do Lula. E porque o Lula fez isso? Eu estava na reunião onde ele decidiu, junto aos advogados. O Lula falou e fala em todo momento: 'eu não troco a minha dignidade pela minha liberdade'”.

Democracia

“Nós vamos ter várias estratégias porque a gente quer ativar a democracia no país. A democracia está muito debilitada, as pessoas sequer têm vontade de participar da vida política nacional em função do que está acontecendo. As pessoas estão muito céticas, preocupadas, desesperançadas. Então nós precisamos ativar a democracia e empoderar as pessoas. As pessoas precisam sentir que o poder está com elas, que emana do povo o poder, e que esse é o preceito constitucional de uma democracia”.

Golpe

“Nós estamos num continente que nos anos 1960, 1970, sofreu em vários países golpes militares, que a população compreende como o que já está, do ponto de vista da história, bem descrito. O que está acontecendo hoje é diferente. Por isso que se fala em soft coup, os alemães falam em golpe frio, os americanos falam em golpe leve e nós adotamos a terminologia golpe midiático-jurídico ou jurídico-midiático. Eu prefiro dizer golpe parlamentar, e explico por que: porque sem o parlamento ter sido instrumentalizado pelo PMDB e PSDB, ele [o golpe] não seria possível”. 

Petróleo

“A questão do pré-sal é muito séria. Nós não vamos consolidar um regime de exploração do pré-sal pelo ciclo político, a depender de quem é o governo. Nesse caso, eu proponho que seja feita uma consulta popular. Ora, já que nas forças políticas há divergência em relação a esse tema, e houve uma ida e uma volta, é uma riqueza que pode chegar a 100 bilhões de barris, o que é uma riqueza, portanto, trilionária, nós temos que consultar a população para firmar um entendimento a respeito disso. E a população que vai dizer: - Olha, a exploração vai ser feita dessa maneira e o destino dos recursos vai pra educação, saúde, ciência e tecnologia. Ou seja, como é que a gente vai comprar esse passaporte para o futuro com esse recurso do pré-sal. Eu acho que a população tem que decidir o destino desse dinheiro, não só a forma de exploração”. 

Constituinte

“Nós mantemos a nossa posição de que o ideal para o Brasil seria uma Assembleia Constituinte exclusiva, com a finalidade de escrever uma nova carta, mas nós não vamos poder deixar de governar. O presidente Lula, a partir do dia 2, já estará encaminhando propostas. Inclusive nós já estamos redigindo os atos normativos. Depois de concluído o programa, nós já estamos elaborando atos normativos que vão ser encaminhado para gerar emprego, retomar o desenvolvimento, retomar o crescimento. Entramos numa nova etapa, que é a descrição das leis, decretos e emendas que nós vamos encaminhar no começo do ano que vem”.

Foto: Ricardo Stuckert

Campanha eleitoral

“Nossa convicção é de que nós temos o melhor projeto para o país que é encarnado pelo presidente Lula. Acho que o povo tem muito claro na memória, na consciência, de que foram os anos mais importante da história do país, que apontava numa direção completamente diferente dessa. Então, o Código Eleitoral, do meu ponto de vista, é claro. Uma candidatura sub judice tem os mesmos direitos e prerrogativas de uma candidatura que está sendo contestada, até o julgamento final. O artigo, se não estou enganado, 16A do Código Eleitoral é literal: ‘enquanto se discute uma candidatura, os direitos do candidato são garantidos, inclusive de rádio e TV’. O que se entende por rádio e TV? Debates, programa eleitoral, e assim por diante. E alguém pode dizer: ‘mas como ainda não tem o registro, ainda não está sub judice, não é obrigado a participar'. Mas no dia 15 o registro está pedido. Então como a justiça vai negar uma coisa que está na lei”.

Minorias políticas

“Nós vamos resgatar as políticas que estavam sendo implementadas. A Casa da Mulher Brasileira, por exemplo, está parada em vários locais. O governo paralisou isso. Eu entendo, sendo muito objetivo, que há duas coisas muito centrais na vida, que é educação e trabalho. A desigualdade que existe no ambiente do trabalho gera toda uma sorte de problemas muito difíceis de corrigir, se você não tomar providências. E na educação, as mulheres deram um salto incrível no Brasil. Hoje, as mulheres são maioria, inclusive em grande parte dos cursos de alta demanda. Você pega a pós-graduação, hoje no Brasil, ela é feminina, majoritariamente de mulheres. Você pega cursos que anteriormente só tinha homens, como medicina, por exemplo, o salto que a mulher deu é impressionante. Eu acho que nós temos que começar a olhar o mercado de trabalho mais seriamente. Então não é verdade que não há nada a fazer”.

“A democracia não é só o direito da maioria, é o direito da minoria. A democracia moderna é o governo da maioria, mas os direitos não, os direitos são de todos, de cada um de nós, na sua particularidade. O negro, as religiões afro, a mulher, a comunidade LGBT...”

Unidade

“Queríamos estar juntos com outras figuras. Eu, pessoalmente, lutei muito para isso acontecer. Me expus porque eu queria que essa aliança fosse ainda mais ampla, mas em torno do Lula. A única questão que eu colocava era que tinha que ser em torno do Lula. Não é justo que seja em torno dele”

Foto: Ricardo Stuckert

Edição: Diego Sartorato