INVESTIGAÇÃO

Oposição radicada nos EUA e Colômbia é apontada como autora de atentado contra Maduro

Presidente da Venezuela apresentou provas em vídeos, áudios e fotos do grupo de opositores que organizou ataque

Brasil de Fato | Caracas, Venezuela |
Governo da Venezuela vai solicitar extradição de acusados, afirma mandatário
Governo da Venezuela vai solicitar extradição de acusados, afirma mandatário - Foto: AVN

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro apresentou, em um pronunciamento em cadeia nacional de televisão, na noite de terça-feira (7), vídeos, áudios e fotos que mostram como foi planejado o atentado a bomba contra ele, sua família e oficiais do estado, durante evento militar, em comemoração aos 81 anos da Guarda Nacional Bolivariana, no último sábado (4).

Entre os suspeitos está o empresário venezuelano Osman Alexis Delgado Tabosky, acusado de dirigir o ataque à distância - ele vive atualmente no estado da Florida, nos Estados Unidos. Osman é dono de um hospital privado na Venezuela, a clínica San Lázsaro, localizada na cidade de Valencia, capital do estado de Carabobo.

Além disso, afirmações do jornalista peruano radicado na Florida, Jaime Bayly, em um programa de televisão, no dia 6 de agosto, confirmam que o assunto foi discutido em uma reunião realizada na semana passada em Miami. “Fiquei sabendo do plano durante a semana. Minhas fontes, geralmente confiáveis, me convidaram para uma reunião. Não queria ir porque sou preguiçoso, mas fui. Escutei-os e me disseram: ‘Sábado vamos matar o Maduro com drones. Testamos os drones em Caracas e funcionam”, afirmou o jornalista, que aprovou a ação. “Façam isso, façam isso. Vamos em frente”, confessou Bayly em seu programa de TV.

Outro suspeito, apontado como possível autor intelectual dos atos, é Rayder Alexander Russo Márquez, conhecido como Sargento Pico. Segundo informações do governo Maduro, ele se encontra “protegido pelo governo da Colômbia”.

Maduro informou que vai solicitar a extradição do empresário e de Russo Márquez para os governos dos EUA e da Colômbia. “Queremos as extradições de todos os responsáveis que estão em território colombiano e no estado da Flórida. Vamos acionar os tratados bilaterais de extradição que mantemos com esses países”, disse, durante a declaração em rede nacional. 

De acordo com as investigações, dois grupos executaram a operação em Caracas. O Grupo 1, também autodenominado Grupo Bravo, composto por quatro homens, foi responsável pelo drone que chegou mais próximo ao presidente Maduro e explodiu em frente ao palco presidencial. Entre os integrantes, está o ex-militar Juan Carlos Monastério, que usou o codinome Bons, e foi preso em flagrante. Ele já era procurado pela justiça venezuelana por sua participação no assalto ao quartel Forte Paramacay, comandado pelo coronel Juan Caguaripano, em agosto de 2017, durante a série de protestos violentos dos opositores. O empresário Osman Alexis Delgado Tabosky também é suspeito de financiar esse ataque, no qual foram roubadas armas e munição.

Já o Grupo 2 era composto por três pessoas (uma mulher e dois homens) e foi dirigido por Alberto José Bracho Rodriguez, que respondia pelo codinome Porto, que ainda está solto e é procurado pela polícia. Também participaram Brayan de Jesús Oropeza Ruiz, piloto do drone, preso no local, e Yanin Fabiana Pernia Coronel, também presa. Esse segundo grupo pilotava o segundo drone que perdeu o controle devido aos inibidores de sinais da equipe de segurança presidencial e se chocou contra o edifício Don Eduardo, na Avenida Bolívar. Além de explosivos, os drones continham elementos metálicos que funcionariam como uma espécie metralhadora, afirma o relatório da investigação divulgado nesta semana.

O presidente informou que os autores materiais do atentado contra sua vida “receberiam 50 milhões de dólares e estadia nos EUA”, caso a operação fosse bem-sucedida. 

Entre os sete autores materiais, que participaram a operação no local do crime, cinco foram presos no mesmo dia e dois estão em liberdade. Os dois primeiros detidos foram denunciados por moradores dos arredores da Avenida Bolívar, onde ocorreu o evento militar. “Duas mulheres viram a atitude suspeita de homens que chegaram em caminhonetes e começaram a operar um drone. Quando explodiu o primeiro drone, essas valentes mulheres, acompanhadas de um homem, saíram para capturar aos suspeitos e os cercaram até a chegada da polícia. Foram detectados pela inteligência popular”, relatou Maduro.

O procurador-geral da República da Venezuela, Tarek William Saab, informou na manhã dessa quarta-feira (8), que ao todo 19 pessoas estão envolvidas diretamente do atentado contra o presidente Maduro.

Provas

O presidente venezuelano apresentou quatro vídeos, fotos dos suspeitos, áudios, entre outras evidências que mostra o esquema e a cronologia dos fatos. Em um dos vídeos, a equipe de investigação recriou o percurso dos drones usados no ataque, baseados em testemunhos de moradores de Caracas, que identificaram a atitude suspeita dos envolvidos. Um dos drones sobrevoou o tribunal de Justiça da Venezuela, um centro empresarial e a uma igreja antiga.

De acordo com a investigação, os terroristas foram treinados em uma fazenda chamada Atalanta, no município de Chinácona, no estado de Santander, ao norte da Colômbia. É uma região com alta incidência de grupos paramilitares.

O primeiro contato dos mentores do ataque teria sido feito, em setembro de 2017, por Rayder Alexander Russo Márquez, que atuava diretamente na Colômbia. Ele recrutou o ex-militar Juan Carlos Monastério e os treinamentos começaram em fevereiro desse ano. Posteriormente foram recrutados os outros jovens.

Os drones entraram na Venezuela no dia 29 de julho e nesse momento estavam desmontados, o que dificultou a identificação dos equipamentos. Depois foram levados para a cidade de Barquesimeto, no estado de Lara, na região central da Venezuela, que fica três horas distante de Caracas. Na semana do atentado, os integrantes da operação ficaram hospedados no hotel Pestana, um dos mais luxuosos da capital venezuelana. Após os primeiros dias, uma parte do grupo alugou uma sala em um centro empresarial, próximo de onde seria realizado o evento militar.

O primeiro ataque foi planejado para ser realizado no dia 5 de julho, Dia da Independência da Venezuela, segundo o ex-militar preso, mas houve um atraso na chegada dos drones. Em ambas as datas foram escolhidos eventos militares, por terem sempre a presença do presidente da República. “Ninguém tem acesso à minha agenda. Não anunciamos onde vamos estar por questões de segurança. Mas nos eventos militares sabem que é comum a presença do presidente”, explicou Maduro.

Os acusados teriam recebido a confirmação de que o evento seria na Avenida Bolívar na sexta-feira, pela tarde, informou o presidente. Dai em diante começou a execução do plano. 

Planejamento do atentado

Um dos suspeitos, o ex-militar Juan Carlos Monastério, em depoimento ao Ministério Público, confessou ter organizado toda a parte operativa e logística do atentado contra o presidente Maduro. Parte de sua declaração feita à Justiça venezuelana foi divulgada pelo governo. Entre as revelações feitas pelo ex-militar está o envolvimento de dois políticos opositores no planejamento do ataque. Os deputados Júlio Borges e Juan Requesens, do partido Primeiro Justiça.
 

Deputados Juan Requesens (à esquerda, de camisa listrada) e o Julio Borges (à direita, de terno) | Foto Twitter

Juan Carlos Monastério contou que os treinamentos para pilotar os drones foram feitos na Colômbia, entre fevereiro e maio deste ano. Quando voltou a Colômbia, em junho, foi contatado por opositores políticos venezuelanos.

“Nos primeiros dias de junho eu voltei para a Colômbia, mas tive problemas com minha documentação, pois apreenderam minha identidad de paso fronterizo [um documento especial criado para que habitantes da zona fronteiriça entre Colômbia e Venezuela possam transitar de forma menos burocrática]. Eu comuniquei essa novidade ao Osman Tabosky e ele disse que ia falar com o ‘Sócrates’, que era o encarregado de fazer esse tipo de conexão. Quando cheguei em San Cristóbal (cidade venezuelana na fronteira com a Colômbia) recebo uma mensagem de texto do deputado Juan Requesens, dizendo que ele era o encarregado pela travessia da fronteira, sob mando de Julio Borges”.

Na noite dessa terça-feira (7), o deputado Juan Requesens foi preso, acusado de ser um dos autores intelectuais do atentado contra o presidente. “Citaram outro dirigente da oposição. Um tal de Requesens, que há um ano, fez um chamado à intervenção do exército dos EUA para ocupar a Venezuela”, disse Nicolás Maduro. O pai do deputado, Juan Guilherme Requesens, em entrevista a um canal privado de televisão, confirmou a prisão do deputado e pediu que o liberem, já que ele possui imunidade parlamentar.

Entre os outros suspeitos, está o coronel reformado Oswaldo Valentín García Palomo.  “Este é o chefe dos assassinos que tenta cooptar os militares para que se unam ao seu plano de assassinatos”, destacou o presidente.

Maduro também solicitou a extradição dos técnicos suspeitos de armar os explosivos, Gregorio José Yaguas Monje e Yilber Alberto Escalona Torrealba, atualmente em território colombiano, de acordo com as Forças de Segurança da Venezuela. 

O mandatário informou também que pedirá a investigação e prisão do oficial de migração da Colômbia, Mauricio Jimenez, citado pelos presos acusados de executar o atentado como a pessoa que facilitava a entrada dos envolvidos em território colombiano.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira