Afinidades

Alckmin e Bolsonaro: os fiéis escudeiros de Temer

Apesar de tentarem se distanciar da figura do emedebista, tucano e deputado estão em espectros políticos semelhantes

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Atuais adversários no campo político-eleitoral, Ackmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Temer (MDB) têm pensamento político-econômico comum
Atuais adversários no campo político-eleitoral, Ackmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Temer (MDB) têm pensamento político-econômico comum - Reprodução

Atuais adversários no campo político-eleitoral, o ex-governador de São Paulo Geraldo Ackmin (PSDB) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), ambos pré-candidatos à Presidência da República pelas suas legendas, tentam se descolar da figura do presidente golpista Michel Temer (MDB), que amarga baixos índices de popularidades.

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Os três, no entanto, estão situados em espectros políticos semelhantes quando se observa, por exemplo, o comportamento dos partidos a que pertencem Alckmin e Bolsonaro, especialmente em temas econômicos.

Para se ter uma ideia, um levantamento recente divulgado pela consultoria Arko Advice mostrou que o PSL, partido para o qual Bolsonaro migrou em janeiro de 2018, foi a sigla mais fiel a Temer no primeiro semestre deste ano. O dado está relacionado a 107 votações de interesse do Planalto ocorridas na Câmara dos Deputados.

A bancada do partido, que tem oito parlamentares, acompanhou o governo em 67,73% das votações da Casa. Os tucanos não ficaram muito atrás, ocupando a terceira posição no ranking de alinhamento com o governo, apresentando um percentual de 63,05%.

Entre as duas siglas está o MDB, partido de Temer, que fica em segundo lugar, com 64,34%.  

PSL e PSDB ajudaram a aprovar, por exemplo, a proposta que permite a venda direta do petróleo de propriedade da União que é extraído do pré-sal. Além disso, votaram favoravelmente à liberação de créditos suplementares no valor de R$ 439,5 milhões para diferentes órgãos do Pode Executivo.  

A abertura de crédito especial – chamada de “pedaladas fiscais” – foi um dos motivos alegados pela maioria do Congresso Nacional para votar a favor do golpe que afastou do cargo a presidenta Dilma Rousseff (PT), em maio de 2016.

Na ocasião, Bolsonaro, que era vinculado ao PSC, e a bancada do PSDB votaram contra a petista.  

Outras votações

Bolsonaro, Alckmin e Temer também se coadunam em outras votações menos recentes, como é o caso das denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o emedebista, uma delas votada em agosto e a outra em outubro de 2017.

Apesar de, na segunda, Bolsonaro ter votado pela aceitação da denúncia, na primeira votação, ele se posicionou pelo não prosseguimento das investigações, favorecendo Temer. O posicionamento teve reação de parte de seus seguidores na internet, o que possivelmente motivou a mudança de postura na segunda votação.

Com relação ao PSDB, a maioria dos deputados, 22, votou a favor de Temer na primeira denúncia. Na segunda, com o aumento da crise política e uma maior queda na popularidade do emedebista, 23 deputados da bancada votaram contra Temer e outros 21, a favor.  

Os três também se encontram em outras votações, como, por exemplo, na aprovação da PEC do Teto dos Gastos, que compromete os investimentos nas áreas sociais e é uma das principais pautas da equipe econômica do Planalto.

Aprovada em outubro de 2016, a matéria contou com voto favorável de toda a bancada tucana. Bolsonaro, apesar de ter feito discursos contra a proposta, votou com o governo.

A Lei da Terceirização, votada em março de 2017, também teve o apoio da maioria dos deputados do PSDB. Desgastado, Jair Bolsonaro se absteve na ocasião, mas o filho dele, deputado Eduardo Bolsonaro (RJ), votou a favor. Na época, os dois compunham a bancada do PSC.

No mês seguinte, a votação da polêmica reforma trabalhista, que retirou direitos da classe trabalhadora, também colocou os três grupos dentro do mesmo espectro: a esmagadora maioria do PSDB e do PSC votou a favor da nova legislação, incluindo Bolsonaro.

Plano de metas

Olhando para o futuro, Bolsonaro se aproxima fortemente de Alckmin e de Temer no que se refere a questões como o aprofundamento das políticas neoliberais. A pauta é defendida abertamente pelo economista Paulo Guedes, coordenador econômico da campanha do deputado do PSL e defensor ferrenho do liberalismo no Brasil.

Apontado como possível ministro da Fazenda de um eventual governo Bolsonaro, Guedes tem defendido, em entrevistas, medidas como as privatizações, a manutenção da reforma trabalhista e mudanças nas regras da Previdência – tema rejeitado pela maioria da população quando o governo propôs a reforma previdenciária, que não chegou a ser votada na Câmara.  

Guedes também tem sinalizado que manteria parte da atual equipe econômica de Temer, fortemente criticada pelo campo popular por conta da postura ultraliberal e apoiada por atores do PSDB.  

A questão dos direitos dos trabalhadores, por exemplo, é um dos principais temas que estão na mira de Bolsonaro. Em recente entrevista realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o deputado afirmou que ''o trabalhador vai ter que decidir se quer menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego''.

Ele também defendeu recentemente o fim dos sindicatos. Em janeiro deste ano, quando saiu do PSC para o PSL, Bolsonaro afirmou que considera como prioridades para o futuro do país, entre outras coisas, o direito à propriedade privada e o pensamento econômico liberal – linha tradicionalmente adotada por Temer e pelo PSDB.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque