Marcha

Maria das Graças | “Meu marido me disse para escolher entre ele e o MST. Nem pensei”

A agricultora de 49 anos é integrante do setor de saúde na Coluna Ligas Camponesas na Marcha Nacional Lula Livre

Brasil de Fato | Sobradinho (DF) |
A agricultura Maria das Graças marcha hoje, como há 13 anos, quando participou da Marcha Nacional pela Reforma Agrária grávida de 7 meses
A agricultura Maria das Graças marcha hoje, como há 13 anos, quando participou da Marcha Nacional pela Reforma Agrária grávida de 7 meses - Júlia Dolce

Em 2005 a agricultora Maria das Graças percorria as estradas de Goiás, grávida do último de seus quatro filhos, na grande Marcha Nacional pela Reforma Agrária, realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. “Sete meses de barriga, trabalhei nas filas, atendendo o povo, dando socorro, correndo de um lado para o outro”, contou.

Hoje, após treze anos e aos 49 anos, ela continua orgulhosa em sua função. E foi assim que o Brasil de Fato a conheceu, enquanto realizava uma massagem no lóbulo de um dos companheiros do movimento, após um longo dia de caminhada da Coluna Ligas Camponesas na Marcha Nacional Lula Livre. Seus filhos já são grandes, e ela já é avó. Mas o tempo não diminuiu o compromisso com a luta pela reforma agrária.

Maria é assentada na Costa do Dendê, na Bahia. Ela entrou para o MST há 18 anos, após o convite de um dos militantes. Antes, ela vivia na cidade de Ituberá, era dona de casa e conta que não tinha muita perspectiva. “vivia dentro de casa. Minha vida melhorou porque não tínhamos um pedaço de terra para trabalhar, a gente dependia do latifúndio dos outros. Por isso estamos em marcha, porque na época outras pessoas nos ajudaram, não construímos nada sozinhos, e estamos aqui para ajudar outros companheiros que estão de baixo das lonas e nas periferias”, contou.

A decisão de juntar o movimento não foi aceita com tanta facilidade pela família. Maria lembra que o marido chegou a chantageá-la. “Quando me chamaram para o MST, meu marido me mandou escolher entre ele e o movimento. Eu escolhi o movimento, nem pensei, porque sabia que meus filhos precisariam de um pedaço de terra e eu também. Lá na cidade nunca teríamos nada, nem dinheiro para comprar. No final, foi ele que não desistiu de mim. Hoje ele concorda e gosta do MST, foi até rápida a adaptação”, contou, dando risada.

O assentamento de Maria conquistou a posse da terra com pouco tempo de ocupação, e ficou pronto em um ano, após um acordo entre o fazendeiro dono das terras — que devia impostos — e o Governo, na época, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Foi legal, nunca tivemos despejo e foi bastante rápido porque foi no governo Lula. Teve essa facilidade também”, brincou. “Lula fez muita diferença para a gente, principalmente para a educação e os trabalhadores rurais. Ele ajudava bastante. Esse governo atual parece que não gosta de pobres. Por isso, e porque sabemos que ele não deve nada, marchamos pela sua liberdade”, denunciou.

Hoje as 30 famílias no assentamento de Maria produzem mandioca, dendê, piaçaba, cacau, cupuaçu e graviola. Lá, também há uma escola rural, onde Maria trabalha produzindo merenda escolar. Multitarefada, ela se divide entre a alimentação saudável e o cuidado aos companheiros. Maria foi convidada para se juntar ao setor de saúde logo no início do assentamento.

“Eu aceitei porque gosto de cuidar das pessoas. Temos que cuidar da gente para saber cuidar dos outros, e a saúde é a coisa mais importante da vida”, disse, orgulhosa. Com o MST, ela aprendeu a trabalhar com ervas medicinais, a produzir xaropes naturais, e a realizar tratamentos com ventosas e massagem. No assentamento, ela visita cada família frequentemente para checar a condição de saúde. Já na marcha, ela conta que está mais atarefada. “Estamos no apoio aqui. Eu atendo muitas pessoas e meus companheiros me atendem tão bem quanto. Me sinto segura. É divertido, eles gostam e a luta continua, não pode parar. Sem luta não há vitória”, concluiu.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira